Morre Lauro Gomes Pinto, um defensor da memória da música brasileira

por Luciana Medeiros 12/03/2021

O mundo musical carioca ficou bem mais pobre hoje – morreu Lauro Gomes Pinto, uma das figuras tradicionais e queridas do rádio brasileiro. Simpático, elegante nas maneiras e carinhoso, Lauro produziu algumas notáveis entrevistas, como alguns dos poucos registros radiofônicos longos com Bidu Sayão e Guiomar Novaes, por exemplo.

Ele tinha 83 anos – faria 84 em poucos dias. Até o ano passado, não perdia um concerto importante da cidade. Deixou a Rádio MEC em 2014, numa reestruturação dos quadros da emissora federal que infelizmente afastou, na criação da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, muitos produtores que não eram concursados ou como, no caso dele, já estavam aposentados e haviam sido recontratados como celetistas. É algo de se pensar se, nas searas artística e de pensamento, as regrinhas do serviço público não podem ter exceções estabelecidas. Essa decisão foi uma lástima: Lauro amava o rádio, conhecia o veículo, dava espaço importante à arte musical e lírica e sabia do que falava. 

Depois que saiu da rádio, criou uma página na internet onde continuava a entrevistar e comentar, sempre bem recebido pelos artistas. Fazia muita falta na MEC. O programa “Música e Músicos do Brasil”, que ele assumiu em 1980, era de uma riqueza democrática espetacular – levava ao ar gente nova e gente consagrada.

Foi o primeiro a gravar as memórias da emissora num projeto de registro. Diz o gerente da MEC, Thiago Regotto: “A versão integral será arquivada e estará disponível para consulta tanto dos colaboradores da Empresa Brasil de Comunicação quanto de pesquisadores externos, e sua versão editada será veiculada pela emissora na série Memória Rádio MEC, ilustrada com programas históricos do nosso acervo”.

Mas, de novo: Lauro amava seu trabalho. Era visível seu prazer de frequentar os concertos e acolher os artistas. A história de sua entrada no rádio é divertida – foi uma aposta com o amigo Reinaldo Magalhães, na época assessor artístico da diretoria da ME, que o desafiou a produzir um programa. Isso foi em 1974. Dali, até sua saída – uma perda, mesmo –, não deixou de militar pela música.

Lauro morreu de parada cardíaca, no hospital onde tratava um câncer descoberto há pouquíssimo tempo. Se existe um palco e uma plateia em algum lugar fora dessa dimensão, o concerto que celebrará sua chegada vai ser sensacional.

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Lauro Gomes Pinto [Reprodução]

 

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