Seleção de Julho de 2021

por Redação CONCERTO 01/07/2021

KHACHATURIAN
Recitativos e fugas – Álbuns das crianças I e II 
Charlene Farrugia – piano
Lançamento Grand Piano.
Importado. R$ 138,00
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Ao longo do século XX, muitos compositores nascidos fora da Europa central colocaram-se uma questão essencial: como conciliar sua cultura com o universo do cânone da música clássica sem perder suas identidades. Um deles é o armênio Aram Khachaturian, que ficou conhecido por seus balés  e sua música sinfônica. Há, no entanto, outra faceta a ser revelada em sua trajetória, como mostra a pianista Charlene Farrugia, artista associada da Royal Academy of Music, da Inglaterra. E essa faceta torna-se evidente em sua produção para piano, mais particularmente nas peças que a artista selecionou para o álbum. Em Recitativos e fugas, por exemplo, temos acesso à juventude do autor, que uniu nessas obras de enorme força inspiradora a tradição dos grandes compositores com memórias trazidas da música que ouvia na infância, em Tbilisi. Já nos dois volumes dos cadernos para crianças, Khachaturian revela uma verve poética que também encampa a lembrança da cultura regional ao dialogar com a tradição europeia. Uma escuta tocante, repleta de invenções e delicadezas que nos fazem entender o autor de outra maneira. 


TARTINI
Concertos para violino – Sonata O trilo do diabo
L’Accademia della Rosa
Giulio Plotino
– violino e regência
Lançamento Brilliant Classics. Importado. R$ 82,10
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Era o próprio Giuseppe Tartini (1692-1770) que contava a história. Certa noite, o diabo lhe apareceu, oferecendo tornar-se seu servo em troca de sua alma. Antes de aceitar, o compositor resolveu colocar um desafio para comprovar ser o diabo quem de fato dizia ser: pediu que tocasse ao violino uma melodia. Tartini jamais havia ouvido algo parecido e, logo que acordou, pegou o violino e tirou a peça, transformando-a na sonata O trilo do diabo, uma das mais difíceis de todo o repertório para o instrumento. Se é verdade ou não, pouco importa. O fato é que Tartini e violino são sinônimos: o compositor escreveu cerca de 180 concertos para o instrumento, ajudando a moldar sua sonoridade e explorando riquezas expressivas das mais variadas. Isso fica claro na audição deste disco, com intérpretes de rara sensibilidade: os músicos da Accademia della Rosa e o maestro e violinista Giulio Plotino, que evocam tanto o virtuosismo diabólico da sonata quando a mistura de delicadeza e força presente nos concertos D 80, D 96 e D 125


INCA TRAIL CONNECTIONS
Orquestra da Rádio Norueguesa
Miguel Harth-Bedoya
– regente
Lançamento Naxos. Importado. R$ 82,80
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A trilha inca é hoje sinônimo do caminho seguido por turistas que, no Peru, buscam as ruínas do antigo Império Inca. Mas há outro significado, de corte histórico. Durante o auge do império, a trilha, ou Qhapaq Ñan, no original inca, foi um conjunto de estradas que chegou a ter 40 mil quilômetros, passando por territórios que hoje pertencem ao Peru, à Argentina, ao Chile, ao Equador, à Colômbia e à Bolívia. Assim, do ponto de vista simbólico, a trilha corta todo um continente e revela diferentes culturas e manifestações regionais. Foi esse o ponto de partida para o maestro Miguel Harth-Bedoya ao idealizar o repertório de seu novo disco à frente da Orquestra da Rádio Norueguesa: ele escolheu compositores desses países e obras que dialogam com a cultura local. São várias e diversas as opções, com destaque para as Danças populares andinas, de Celso Garrido-Lecca, a Dança rústica, de José Carlos Campos, a Primeira abertura de concerto, de Alberto Williams, e Cascay, de Francisco Pulgar Vidal. São obras que evocam desde o primitivismo de Stravinsky até a linguagem neorromântica.


GRANADOS: PIANO MUSIC
Pablo Matías Becerra – piano
Lançamento Brilliant Classics. Importado. R$ 88,90
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A importância do compositor Enrique Granados para a música para piano é conhecida. O ciclo Goyescas é um dos mais marcantes do repertório da passagem do século XIX para o século XX, com uma escrita repleta de cores já definida como “caudalosa” por um crítico. Mas há, nessa relação com o piano, outras histórias a ser contadas. E é isso que faz o pianista Pablo Matías Becerra neste disco, em que seleciona obras menos conhecidas do compositor. A começar por outro ciclo, Valses poéticos, composto na juventude de Granados, quando se muda para Paris a fim de finalizar seus estudos. É uma obra marcada, acima de tudo, pela transparência quase clássica e por jogos musicais que deveriam fazer dela presença constante no repertório dos pianistas. O mesmo pode ser dito das seis Cenas românticas. Se as valsas são obras da juventude, as Cenas foram escritas décadas mais tarde, mas mantêm o ardor da paixão romântica: diz a lenda que foram inspiradas pelos sentimentos que o compositor nutria por uma jovem pianista que participava de suas aulas de piano. Seja como for, elas nos sugerem outra faceta de Granados, que já no século XX dialoga com o piano de Chopin, revelando uma linguagem musical bastante pessoal. Um disco de belas descobertas.


VILLA-LOBOS
Complete Violin Sonatas
Emmanuele Baldini – violino
Pablo Rossi – piano
Lançamento Naxos.
Importado. R$ 72,30
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No texto do encarte do álbum, mais novo lançamento da série Música do Brasil do selo Naxos, a pesquisadora Camila Fresca localiza as Três sonatas para violino e piano na obra de Heitor Villa-Lobos. Foram escritas entre 1912 e 1920, anos essenciais, “momento em que ele domina as ferramentas da composição e delineia sua linguagem, ao mesmo tempo que, com grande esforço, consegue suas primeiras vitórias profissionais”. E ela vai além, ao identificar nas peças a influência da linguagem francesa, marcante no início de carreira do compositor. E que fica clara, por exemplo, na nº 1, batizada por ele de Désespérance, com forte tom melancólico; ou na Sonata fantasia nº 2, tocada na Semana de Arte Moderna. Mas o Villa-Lobos que se revela nas obras é um autor em movimento constante. É marcante o aumento no domínio na escrita entre a nº 1 e a nº 2, enquanto na Sonata nº 3 já aponta para uma nova fase de sua trajetória, em que o diálogo com autores, como Stravinsky, será fundamental. À importância na revelação do repertório, proposta da coleção, soma-se a qualidade dos intérpretes. O violinista Emmanuele Baldini e o pianista Pablo Rossi revelam não apenas a familiaridade com a música de câmara, parte importante de suas trajetórias artísticas, em diálogo sempre atento e estimulante. Mostram também sensibilidade ao revelar as diferentes camadas da música de Villa-Lobos, criando, assim, interpretação de referência das peças.


COLEÇÃO MIGNONE VOLUME 12
Noël Devos – fagote
Francisco Mignone – regente
Orquestra Sinfônica Brasileira
Lançamento independente. Nacional. R$ 40,50
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A Coleção Mignone segue fazendo história ao recuperar as obras do compositor Francisco Mignone tocadas por ele e por alguns de seus principais intérpretes. Após dedicar-se à música para piano e a alguns volumes orquestrais, a série chega agora ao fagote, instrumento de destaque na trajetória do autor. E, se o fagote era importante, entre os motivos estava a amizade com o fagotista Noël Devos, a quem muitas das obras foram dedicadas. E isso só torna ainda mais especial o lançamento de uma seleção delas interpretada justamente por Devos. Nascido na França, ele mudou-se para o Brasil nos anos 1960, a convite de Eleazar de Carvalho, com o objetivo de assumir posto na Orquestra Sinfônica Brasileira; então, por aqui ficou, influenciando gerações de artistas para quem deu aulas em instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro. No disco, ele interpreta as Variações para fagote solo, além do Concerto para fagote e orquestra, em que a Orquestra Sinfônica Brasileira é regida pelo próprio Mignone.


BEETHOVEN FOR GUITAR
Daniel Wolff – violão
Lançamento independente. Nacional. R$ 35,00
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Daniel Wolff é uma das vozes mais interessantes e originais do violão brasileiro. Como concertista, compositor e arranjador, revela uma personalidade inquieta, sempre em busca de novidades – e de uma relação nada engessada com o repertório. No ano da comemoração dos 250 anos de nascimento de Beethoven, por exemplo, ele resolveu se unir às muitas comemorações e escreveu uma série de arranjos para violão. O repertório inclui peças como Pour Elise, a Sonata op. 49 e movimentos das sonatas Ao luar e Patética, entre outras, além do estudo de tremolo composto por Wolff a partir do célebre Allegretto da Sétima sinfonia ou de obras de câmara com violino, violoncelo e piano, em que é acompanhado por Olinda Allessandrini (piano), Camilo Simões (violino) e Milene Aliverti (violoncelo). É o Beethoven que conhecemos, mas tocado de forma original, com sonoridades que nos fazem reouvir esse repertório com atenção renovada. O disco foi realizado em coprodução com o programa de pós-graduação em música da UFRGS.


PIAZZOLLA STORIES
Lucienne Renaudin – trompete 
Orquestra Filarmônica de Monte Carlo
Sascha Goetzel
– regente
Lançamento Warner Classics. Disponível em streaming em todas as plataformas digitais

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A trompetista Lucienne Renaudin colocou-se no cenário internacional pela técnica impecável e pela inteligência musical, que se reflete não apenas em suas interpretações em si, mas na forma como combina repertórios. E esse cuidado ela manteve ao imaginar sua homenagem ao compositor Astor Piazzolla. No disco, em que é acompanhada pela Orquestra Filarmônica de Monte Carlo e por grandes músicos convidados, o acordeonista Richard Galliano e o violonista Thibaut Garcia, ela apresenta alguns dos principais sucessos do compositor, como Oblivión e passagens de Maria de Buenos Aires. Mas Renaudin vai além, incluindo no álbum obras de autores que influenciaram Piazzolla. A lista começa com Bach, com uma interpretação de uma versão para trompete do quarto movimento da Sonata nº 1 para violino. E chega ao século XX, com peças de Nadia Boulanger, professora que ajudou Piazzolla a definir seu caminho como autor, ou Carlos Gardel. 


A MÚSICA NO SEU CÉREBRO
A ciência de uma obsessão humana
De Daniel J. Levitin
Editora Objetiva. 312 páginas. R$ 69,90. Desconto de 10% para assinantes.
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Por que sentimos prazer ao escutar música? Como reconhecemos instintivamente uma melodia? Foi buscando responder a perguntas como essas que o neurologista, cientista e psicólogo Daniel J. Levitin escreveu este livro, relançamento em português em tradução de Clovis Marques. A música, diz Levitin, é uma “obsessão que está no cerne da natureza humana, talvez ainda mais fundamental para a nossa espécie do que a linguagem”. Natural, portanto, que diversos pesquisadores tenham tentado entender como o cérebro humano percebe a música e o que essa dinâmica diz sobre o funcionamento da mente. “Quando se estudam os processos cerebrais envolvidos enquanto estamos em contato com a música, as mais diversas emoções provocadas nos dizem muito sobre os mecanismos do cérebro e da memória”, lembra o autor. Levitin parte dessas pesquisas para construir sua narrativa, dedicada ao leitor leigo, não ao especialista, utilizando exemplos musicais dos mais variados, de Bach e Mozart a Eminem e U2. 


ATRÁS DA PAUTA
Histórias da música
De Júlio Medaglia
Editora e-galáxia. Lançamento em e-book: www.e-galaxia.com.br

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Ao longo dos últimos 25 anos, o maestro Júlio Medaglia compareceu mensalmente às páginas da Revista CONCERTO assinando a coluna Atrás da Pauta. Quem a leu, e ainda a lê, sabe do que se trata: são textos profundamente autorais, que revelam não apenas o conhecimento de seu autor, mas uma visão de mundo que se dá por meio da relação com a música e com as artes. Uma série desses textos chega agora ao formato de livro, em edição digital. E, como indica o título, são histórias, no plural. Afinal, o olhar de Medaglia nunca foi o da história oficial, mas, sim, o da história criada a partir de um olhar amplo a respeito do que é o fazer musical. “Júlio Medaglia, com uma batuta, é covardia. Quero vê-lo é reger palavras. Pois, neste livro, Júlio extrai música de laranjas, vinhos, araras, uma válvula de transmissor e até do balanço comercial de uma empresa. O que esperar, aliás, de um sujeito que já deu conselhos a Stanley Kubrick, bebeu com Astor Piazzolla, teve uma epifania em Parintins, musicou Grande sertão: veredas e, de calças curtas, viu o elenco do Scala de Milão sentado a uma mesa de restaurante em São Paulo?”, escreve o jornalista Ruy Castro, na apresentação.