Obra de Marcos Balter inspirada na cultura iorubá reinaugura sede da Filarmônica de Nova York

por Redação CONCERTO 11/10/2022

Uma obra do compositor brasileiro Marcos Balter é um dos destaques dos concertos que a Filarmônica de Nova York faz nos dias 12, 13 e 15. As apresentações marcam a reinauguração da casa da orquestra, o David Geffen Hall.

Em entrevista a uma publicação da Universidade de Columbia, onde Balter é professor, o compositor falou sobre Oyá, encomendada pela filarmônica para a ocasião.

“É uma espécie de concerto para orquestra e dois solistas inusitados: um artista de música eletrônica, Levy Lorenzo, e um designer de luz, Nicholas Houfek. Nas últimas duas décadas, venho expandindo lentamente uma série de trabalhos inspirados nas tradições iorubás, com foco particular nos Orixás, as divindades que representam as múltiplas facetas de Olidumare, a força suprema da religião iorubá”, ele explica.

“Este novo trabalho é intitulado Oyá, em homenagem à Orixá que simboliza o renascimento. Ela governa ventos, tempestades e relâmpagos, elementos associados à vida e à morte, transformação e libertação do passado, e abraça a novidade. Quero que Oyá batize e reivindique esta nova sala de concertos, limpe-a radicalmente de sua história e a inunde de energia voltada para o futuro.”

Para as notas de programa do concerto, Balter explicou também como a música se desenvolve.

“A obra se desenrola como um renascimento ritualístico. Começa com a destruição da estrutura antiga: um estrondo alto seguido pelo assentamento dos escombros e da poluição. Ouvimos a morte lenta do antigo espaço, agarrando o ar até o último suspiro. À medida que desmorona, uma nova luz começa a entrar, brilhando primeiro, abrindo caminho através da fumaça. Como tentáculos, vários raios convergem gradualmente em um núcleo semelhante a um útero que flutua em direção ao céu enquanto se expande constantemente. O ventre, tendo chegado ao seu limite, se abre no ar, fragmentando-se em nove pedaços, representando os nove filhos de Oyá – os nove afluentes do rio Níger, que é chamado de Oyá em iorubá.”

“Como se estivesse no olho de um furacão, de repente tudo fica em silêncio, exceto os sons estrondosos dos relâmpagos. Uma cadência virtuosa entre os dois solistas representa o encantamento de Oyá, a ativação do novo terreno. A orquestra ressurge como ondas de energia emanando do corpo de Oyá, lentamente permeando o espaço com a poeira de vida e estabelecendo um novo sentido de gravidade. Uma vez que a poeira engoliu o espaço, Oyá proclama em voz alta a nascimento da nova ordem, repetidamente batendo o pé para reivindicar o espaço antes de subir rapidamente de volta para Orun, o reino espiritual que é o lar a todos os Orixás.”

O programa dos concertos terá ainda My father knew Charles Ives, de John Adams, e Stride, de Tania León (obra encomendada em parceria com a Sinfônica do Oregon). A regência é do titular do grupo, o maestro Jaap van Zweden.

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