Orquestra da UFRJ volta à cena para celebrar centenário da universidade

por Luciana Medeiros 06/09/2020

Neste dia 7 de setembro, às 17h, a Orquestra Sinfônica da UFRJ promove sua volta ao palco ao se juntar às celebrações do centenário da mais antiga universidade do país – entidade que descende da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, aberta em 1792 no Rio de Janeiro. 

O concerto, regido por Marcelo Jardim e André Cardoso, apresenta um programa todo brasileiro, costurado para celebrar compositores que passaram pela escola como professores e alunos, assim como obras estreadas no seu Salão Leopoldo Miguez. “Estamos voltando sob estrito protocolo de segurança”, explica André Cardoso, diretor artístico da orquestra, que rege as peças de cordas do programa. “Distanciamento, álcool gel, a própria escalação de grupos de câmara são precauções que tomamos com absoluta rigidez”. É o reinício da programação no palco, ainda sem público.

 

O antigo Conservatório de Música, inaugurado em 1848 e transformado em Instituto Nacional de Música com a Proclamação da República, foi incorporado à Universidade do Brasil em 1931. Pelos seus bancos e suas cátedras passaram os maiores nomes da música brasileira, de Carlos Gomes a Pixinguinha. A atual denominação foi fixada em 1965, com a transformação da Universidade em Federal do Rio de Janeiro.

Já o Salão Leopoldo Miguez, na sede da escola – que desde 1913 fica no Passeio Público – foi inaugurado em 1922, no centenário da Independência. A criação da orquestra da UFRJ aconteceu dois anos depois. “Por esse salão, que é magnífico e tem uma fabulosa acústica, passaram mitos como o pianista Wilhelm Kempf, o violinista Jascha Heifetz, o tenor Beniamino Gigli, a soprano Montserrat Caballé, o organista e regente Karl Richter”, destaca Cardoso.

No programa do concerto, gravado no dia 23 de agosto, alternam-se o universo popular e clássico, com presença obrigatória, claro, de peças dos diretores e professores da escola – Miguez, Fernandez, Henrique Oswald, Alberto Nepomuceno, Mignone, Guerra-Peixe, Ernani Aguiar. Entre as peças estreadas naquele palco está a Ária das Bachianas brasileira n° 5 de Villa-Lobos, em 1939, sob a batuta do compositor, com a voz de Ruth Valadares. “Convidamos para essa performance Lina Mendes, carioca que estudou conosco”, explica André Cardoso. 

Com orquestrações especialmente escritas para sopros e percussão pelo trombonista Éverson Moraes, serão apresentadas Turuna (1899) e Saudades e Saudades...! (1920), de Ernesto Nazareth, e Lamentos (1928), de Pixinguinha. “Pixinguinha já era um músico consagrado quando decidiu se aperfeiçoar na Escola de Música”, lembra Cardoso. “E Nazareth toca em 1922 a convite de Luciano Gallet, voltando em 1929 com um concerto com violões onde estreia Carmen Miranda” – episódio contado por Pedro Paulo Malta no site do compositor no Instituto Moreira Salles. “Os primeiros compositores do choro, é bom lembrar, eram professores e alunos do Conservatório, depois Escola de Música, a começar pelo flautista Joaquim Callado”, aponta o regente.

Ficha de inscrição de Pixinguinha na UFRJ [Reprodução]
Ficha de inscrição de Pixinguinha na UFRJ [Reprodução]

Também Radamés Gnattali estreou no Rio de Janeiro no palco do Salão Leopoldo Miguez, que, concorda André, “é um espaço subaproveitado”, principalmente por causa da falta de ar-condicionado. “O salão não tem coxias e os camarins são pequenos, sim, mas é um ambiente que, com refrigeração, se tornaria um pilar da música no Rio.” A estrutura para instalação dos aparelhos está toda pronta, conta André (foi na sua gestão como diretor da Escola de Música, entre 2007 e 2015, que foi instalada a tubulação), mas é necessário o aumento da carga elétrica para suportar o funcionamento da refrigeração e para aperfeiçoar a iluminação.

São desejos para um futuro melhor da música de concerto no Rio de Janeiro, que tem como espaços atuantes apenas o Theatro Municipal e a Sala Cecilia Meireles. “O centenário do Salão, em 2022, pode ser uma bela oportunidade para terminar esse projeto”, sugere André. 

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Lorenzo Fernandez regendo no Salão Leopoldo Miguez [Reprodução]
Lorenzo Fernandez regendo no Salão Leopoldo Miguez [Reprodução]

 

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