Criado por Iberê Carvalho, Ubuntu Ensemble ocupa palcos importantes

Se um conjunto de artistas negros brasileiros, que criaram durante a pandemia o Coletivo Ubuntu, montaram em Taubaté, em 2022, a ópera Gianni Schicchi, de Puccini, chegou a hora de esta visibilidade estender-se também à música instrumental. Chefe do naipe de violas da Orquestra Sinfônica de Santo André, conselheiro do Instituto Rouanet e regente assistente deste histórico Gianni Schicchi, Iberê Carvalho criou o Ubuntu Ensemble, que está ocupando pelo menos três palcos importantes de São Paulo em 2024.

Em 27 de abril, Iberê e o violinista baiano Uiler Moreira solam na Sinfonia Concertante, de Mozart, com a Orquestra Experimental de Repertório. Em 13 de julho, uma formação de cordas sobe ao palco do Theatro São Pedro para executar, entre outras peças, o Sexteto nº 1, de Brahms, e o Quarteto de Cordas nº 2 da compositora negra norte-americana Florence Price (1887-1953).

E, em 25 de agosto, na série online da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, Iberê, Uiler, o violoncelista Jayaram Márcio e a soprano Edna d’Oliveira unem-se ao pianista Antônio Vaz Lemes. Em tributo ao centenário de falecimento do compositor francês Gabiel Fauré (1845-1924), o repertório inclui as Cinco melodias op. 58, para voz e piano, o Noturno nº 13 op. 119, para piano solo, e o Quarteto para piano e cordas nº 1 op. 15.

Em nossos concertos, procuramos sempre incluir uma obra do repertório standard, uma de compositor ou compositora preta e também obras brasileiras, diz Carvalho

Ubuntu é uma filosofia africana, que reza que “eu só sou porque você é” – a humanidade para todos. Com essa ênfase no coletivo, o Ubuntu Brasileiro foi criado em 2020, e teve o Gianni Schicchi de Taubaté como sua iniciativa de maior destaque.

“Trabalhei muito com o Ubuntu Brasileiro, e há coletivos de cantores fazendo um trabalho incrível. Eu senti a necessidade de advogar pelos instrumentistas”, explica Iberê. O primeiro concerto do Ubuntu Ensemble aconteceu no Sesc Sorocaba, em outubro do ano passado, refletindo a diversidade regional do grupo: além dele, paraibano, de Uiler, baiano, e de Jayaram, mineiro, tocaram o violinista paulista Marcos Santos e a pianista fluminense Raquel Paixão. Depois, divididos em pequenas formações, esses músicos andaram se apresentando no Rio de Janeiro, Salvador e São João del-Rei.

“Como eu tenho conseguido bastante visibilidade, resolvi usar a mim mesmo como plataforma para mostrar esses talentos pretos incríveis, do nosso jeito, de um jeito novo de apresentar”, conta Iberê. A proposta de variedade é também contemplada na escolha das peças a serem tocadas. “Em nossos concertos, procuramos sempre incluir uma obra do repertório standard, uma de compositor ou compositora preta e também obras brasileiras”, explica.

A formação é deliberadamente aberta (de duos a octetos e nonetos) e a ideia é ir agregando cada vez mais instrumentistas de lugares diferentes, até que seja possível, inclusive, vários concertos do Ubuntu Ensemble ocorrerem de forma simultânea ou paralela. “O grupo só tende a crescer e, em um prazo não muito longo, sonhamos em ter a Orquestra Ubuntu”, diz Iberê.

Leia também
Notícias 
Ricardo Bologna é o novo diretor da Orquestra de Câmara da USP
Opinião Luigi Nono: um centenário que não poderia ter sido esquecido, por João Marcos Coelho
Opinião Concurso Compositoras Latino-Americanas da Osesp: nem tudo foi tão bom quanto as obras apresentadas, por Nelson Rubens Kunze
Crítica Trio Fukuda abre com brilho série de recitais da Sala Watari, por Jorge Coli
Opinião Pesquisa e poesia se unem no retrato do violão brasileiro da passagem do século XIX para o século XX, por Camila Fresca

O violista Iberê Carvalho [Divulgação]
O violista Iberê Carvalho [Divulgação]

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.