Vencedores do Concurso Joaquina Lapinha fazem concerto em noite de celebração

por Camila Fresca 20/12/2023

A noite da última segunda-feira, dia 18, foi de celebração no Theatro Municipal de São Paulo. O palco da casa recebeu o concerto de premiação da segunda edição do Concurso Joaquina Lapinha. Iniciativa pioneira, o concurso é o primeiro no país dedicado exclusivamente a cantores negros e indígenas. O prêmio tem o intuito de contribuir para que a cena lírica brasileira se torne mais diversa, como afirma Alessandra Costa, diretora executiva da Sustenidos, responsável pelos contratos de gestão do Complexo Theatro Municipal de São Paulo e do Conservatório de Tatuí, que realiza o concurso. 

Alessandra foi quem abriu a noite, que também contou com falas da secretária de cultura do município, Aline Torres, e da mezzo soprano Mere Oliveira, uma das idealizadoras do Joaquina Lapinha e presidente do júri – integrado também por artistas conhecidos e admirados de nossa cena musical: a soprano Edna D’Oliveira, o barítono Michel de Souza, o pianista Marcos Aragoni e a diretora cênica Julianna Santos.

Tanto o nome do Concurso quanto os prêmios que ele oferece homenageiam importantes músicos negros de nossa história. Na prova final, dia 18 de novembro, no Teatro Procópio Ferreira do Conservatório de Tatuí, foram escolhidos os vencedores: a soprano Lorena Pires, primeiro lugar na categoria feminina, levou o Prêmio Maria d’Apparecida (escrevi sobre Maria D’Apparecida e Joaquina Lapinha aqui); o baixo Andrey Mira ficou com o primeiro lugar na categoria masculina, vencendo o Prêmio João dos Reis; o segundo lugar feminino foi para a também soprano Jayana Gomes Paiva (Prêmio Zaíra de Oliveira) e o masculino, para o tenor Lucas Timóteo de Melo (Prêmio Estevão Maya-Maya). Foram premiados ainda os tenores Carlos Eduardo Santos (Menção Honrosa) e Samuel Martins (Prêmio Joaquim Paulo do Espírito Santo – Jovem Solista). Os seis cantores revezaram-se em árias de Carlos Gomes, Mozart, Puccini e Verdi, entre outros, acompanhados pela Orquestra Experimental de Repertório regida pela maestra Priscila Bomfim. 

O paraense Andrey Mira foi o primeiro a se apresentar. Dono de um belo timbre, sua voz brilhou interpretando a Ária da calúnia, dá ópera O barbeiro de Sevilha, de Rossini. Tenor de voz leve, Carlos Eduardo Santos, natural de Salvador, fez uma versão comovente de "Una furtiva lagrima” (O elixir do amor), de Donizetti. Jayana Paiva, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, possui uma voz poderosa e ao mesmo tempo cheia de recursos, que pôde explorar na ária “Io sono l’umile ancella” (Adriana Lecouvreur), de Cilea. 

É provável que só daqui a algum tempo consigamos mensurar os impactos que p concurso produzirá. Até lá, resta torcer (ou mesmo brigar, se assim for necessário) para que o evento se consolide no calendário paulista.

Com apenas 19 anos, o tenor goiano Samuel Martins exibiu seu timbre especial e suas potencialidades ao cantar “Dalla sua pace” (Don Giovanni), de Mozart. Lucas Melo, natural de Recife, mostrou as características de sua voz, mais escura e encorpada, em “Pourquoi me réveiller” (Werther), de Massenet, demonstrando ainda bastante maturidade. Aos 23 anos, a capixaba Lorena Pires arrancou aplausos e vivas do público ao exibir grande presença cênica e dramaticidade, além de um timbre brilhante e com belos graves. Sua voz potente encerrou a noite interpretando a Ária da Carta, da ópera Eugene Onegin, de Tchaikovsky. 

Com vozes em diferentes estágios de desenvolvimento e com características e possibilidades específicas, vários desses jovens cantores já atuam em produções líricas nacionais. Parece claro que todos têm um futuro cheio de perspectivas, e espera-se que Concurso Joaquina Lapinha lhes dê visibilidade e novas oportunidades. Além dos prêmios em dinheiro, os primeiros colocados irão compor o elenco de solistas da temporada 2024 do Municipal de São Paulo, e os segundos colocados, bem como o ganhador da categoria Jovem Solista, vão se apresentar na próxima temporada do Teatro Procópio Ferreira, em Tatuí. 

O Joaquina Lapinha é uma novidade louvável em nosso meio musical. Para a maestra Priscila Bomfim, trata-se de um concurso “de valor inestimável”. De fato, é provável que só daqui a algum tempo consigamos mensurar os impactos que ele produzirá. Até lá, resta torcer (ou mesmo brigar, se assim for necessário) para que o evento se consolide no calendário paulista.

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A soprano Jayana Gomes Paiva [Divulgação]
A soprano Jayana Gomes Paiva [Divulgação]

 

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