Volume 5

por Redação CONCERTO 13/08/2020

Vol 5

CAMARGO GUARNIERI
Choros – Volume 1
Davi Graton – violino
Claudia Nascimento – flauta
Olga Kopylova – piano
Alexandre Silvério – fagote
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Isaac Karabtchevsky
– regente

Camargo Guarnieri entrou para a história da música brasileira como defensor do nacionalismo musical – e suas posições a respeito da questão acabaram se tornando mais famosas que sua própria produção musical. É um erro a ser corrigido, pois suas partituras revelam um autor seminal, que pode figurar entre os grandes nomes de seu tempo (no Brasil e no mundo). Passo fundamental nesse sentido é este primeiro volume dedicado aos Choros do compositor, gravados pela Osesp dentro da série Música do Brasil, do selo Naxos, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores. A gravação tem direção musical de Isaac Karabtchevsky e traz como solistas quatro músicos da orquestra: Davi Graton, Claudia Nascimento, Olga Kopylova e Alexandre Silvério, que interpretam obras para violino, flauta, piano e fagote. A variedade do ciclo é prova da maestria de Guarnieri, que recebe aqui interpretações à altura de uma escrita nunca repetitiva, pautada por enorme inventividade.

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Reprodução do encarte do CD:

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[Veiculado na Revista CONCERTO]
[Veiculado na Revista CONCERTO]

 

 


01/09/2020
Osesp lança primeiro volume dedicado à integral dos Choros de Camargo Guarnieri
Por Irineu Franco Perpetuo

Duas décadas após estrear no mercado fonográfico internacional com Camargo Guarnieri (1907-93), a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo volta a mostrar ao mundo a obra do principal compositor paulista do século XX. Em 2001, John Neschling começou, pelo selo Bis, a empreitada de três CDs com seis sinfonias e obras orquestrais de Guarnieri. Para a Naxos, dentro da série Brasil em Concerto, Isaac Karabtchevsky comanda a gravação dos Choros, peças para diversos instrumentos solistas e orquestra, cujo primeiro volume está saindo agora, com Seresta para piano, mais os Choros para violino, flauta e fagote. Em novembro, está prevista a gravação do segundo tomo, com os Choros para clarinete, violoncelo, viola e piano. 

Isaac Karabtchevsky enxerga em Camargo Guarnieri “uma visão apolínea da escrita, o todo é decorrente de um formidável senso analítico”. Nos Choros, ele percebe um universo que, “a partir de 1930, sofreu influência do jazz e de todos os recursos harmônicos de seu tempo. A um só momento, contrapunham-se recursos modais, politonais e atonais! Foi pelos Choros que Guarnieri construiu o alicerce sobre o qual sua música, sob a ótica do elemento nacional, viria a se consolidar”. 

Todos os solistas deste volume inicial pertencem à orquestra e o projeto conta com a direção artística do maestro Isaac Karabtchevsky

Todos os solistas deste volume inicial pertencem à orquestra. Davi Graton, que toca o Choro para violino (1951), recorda que a gravação ocorreu logo após sua viagem de lua de mel, que já estava previamente agendada. Resultado: as praias da Tailândia foram cenário do estudo das passagens em cordas duplas que tanto dificultam a execução da obra. “Esse Choro é lindo de morrer. Tem uns temas maravilhosos e lembra um pouco o sertão. A ginga do terceiro movimento é uma delícia”, diz. “Guarnieri é um compositor bem rico e profundo. Não tem nada sem sentido.”

Alexandre Silvério, que interpreta a última obra da série – o Choro para fagote (1991) –, lembra que subestimou a complexidade da peça ao examinar a partitura pela primeira vez, em 2008. “Que ingenuidade a minha! Era uma encrenca!”, diz. Ele conta que as principais dificuldades residem em intervalos grandes e rápidos, com ligaduras, que não soam naturalmente no instrumento, e na sustentação do registro médio agudo, no movimento lento.

“Mas todo o esforço vale a pena, pois a obra é bem bonita”, afirma. “Na minha opinião, o choro acontece mesmo no terceiro movimento – onde caberia talvez até um pandeiro. Mas não é um choro tradicional, é contemporâneo, com harmonias modernas, rítmica diferente.”

Já Claudia Nascimento, no Choro para flauta (1972), encontrou como desafio o estabelecimento do texto da peça. “Tocamos a partir do manuscrito, e havia discrepâncias entre a parte da flauta e a grade de orquestra”, conta. “As partes cavadas dos músicos traziam algumas correções, que ajudaram um pouco, mas tive que fazer escolhas.” Ela considera a obra “linda e brasileira, com muitas cores” e com uma orquestração equilibrada. “Precisamos tocar mais música brasileira. Estudei no Brasil por muito tempo – só fui me aperfeiçoar em Paris adulta – e senti falta disso”, diz.

Solista de Seresta (1965), a obra mais longa do disco – e também do Choro para piano, que deve ser registrado em novembro –, a russa Olga Kopylova conhecia algumas peças de Villa-Lobos de seu tempo de estudante, no Conservatório de Moscou, e se lembra do “forte impacto” da música de Guarnieri (do qual jamais ouvira falar) ao tocar as partes para seu instrumento das sinfonias no 2 e no 4, sob regência de Neschling.

“Não tem como definir com palavras a escrita de Guarnieri. Tem um pouco de tudo: contraponto, polifonia, clusters, dodecafonia, bitonalismo, atonalismo, nacionalismo expresso pelo desenhos melódico e rítmico… Uma mistura complexa”, define. “Porém, a sensação que tenho é que ele, dentro de toda essa densidade e essa complexidade, consegue ser muito claro, linear até. É como se ouvíssemos Stravinsky.” Olga define Seresta como a peça mais difícil para piano e orquestra que já executou – superando o Concerto nº 2 de Rachmaninov e o Concerto nº 3 de Prokófiev. “Não é um pianismo habitual. Para ‘caber na mão’, tem que estudar muito”, conta. “Não é uma obra para piano acompanhada por orquestra, é música de câmara para piano e orquestra.” 

Camargo Guarnieri (1907-93) [Reprodução]
Camargo Guarnieri (1907-93) [Reprodução]

02/10/2020
Obras fundamentais, grandes intérpretes
por Camila Fresca

Dentro do universo erudito, a palavra choro costuma remeter ao célebre ciclo de Villa-Lobos, com obras que aliam ousadia estética a elementos da música popular urbana carioca. Outros compositores, no entanto, utilizaram o termo em suas obras e um deles foi Camargo Guarnieri (1907-1993). 

O Selo Naxos acaba de lançar, dentro da série A Música do Brasil, o primeiro volume dedicado aos Choros de Camargo Guarnieri, em gravação da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. O grupo é regido por Isaac Karabtchevsky e os solistas são músicos da própria orquestra. 

Mozart Camargo Guarnieri, compositor paulista de Tietê, filho de um imigrante italiano, escreveu os primeiros choros no início da década de 1930. Eram obras de atmosfera popular, para grupos reduzidos e que podem de fato ter sido influenciadas por Villa-Lobos. Bem diferente dessas peças, no entanto, são os choros que o compositor compõe a partir de 1951, em plena maturidade. 

“A palavra choro não foi usada na acepção popular, isto é, um conjunto de instrumentos de sopro, cordas e percussão que, altas horas da noite, percorre as ruas da cidade numa espécie de serenata”, esclareceu Guarnieri. “Choro está substituindo ‘concerto’. O compositor preferiu ‘choro’ porque a mensagem, ou melhor, a linguagem musical é nacional, própria do autor e com raízes na terra.”

 

Foi com o Choro para violino e orquestra que Camargo Guarnieri iniciou a série. A obra foi escrita no ano seguinte a sua polêmica “Carta aberta aos músicos e críticos do Brasil”, de 1950, na qual afirmava seu nacionalismo e conclamava a comunidade musical a segui-lo. O fato pode explicar a adoção do termo choro para algumas obras orquestrais que passaria a escrever a partir de então. 

O Choro para violino tem três movimentos, sendo os dois primeiros lentos e “suaves”, o que faz com que as dissonâncias não soem tão ásperas, mas sim intensifiquem a expressividade da obra. No terceiro movimento, Allegro ritmado, fica patente a presença da música nordestina, que tanto agradava o compositor. A nostalgia e certa tristeza enunciadas pelo violino são valorizadas pela interpretação de Davi Graton. 

Recebendo sua primeira gravação mundial, o Choro para flauta e orquestra de câmara data de 1972. Conforme nota o professor Paulo de Tarso Salles no livreto que acompanha o disco, esta obra “flerta livremente com alguns procedimentos caros ao dodecafonismo, porém tratados com liberdade e a serviço da linguagem pessoal do compositor”. Como em geral acontece com toda a obra de Camargo Guarnieri, o fato de filiar-se à corrente nacionalista está longe de indicar uma escrita previsível. Com três movimentos interligados, a peça demanda grande destreza do solista, aqui a flautista Claudia Nascimento.  

Também para solista e orquestra de câmara é o Choro para fagote, de 1991, última obra que o compositor completou. De novo, atesta-se a riqueza e inventividade de sua linguagem musical. Se a primeira parte é um tanto “chorosa”, o Allegro final é enérgico, guiado por uma virtuosística melodia do fagote, tocado por Alexandre Silvério. 

O disco inclui a Seresta para piano e orquestra, de 1965. Ainda que o título também remeta a uma manifestação musical popular, passado algum tempo após a celeuma da Carta aberta e a necessidade de reafirmar suas ideias, é provável que Guarnieri tenha se sentido mais livre. Caldeira Filho, crítico que assistiu à primeira audição, foi perspicaz: “A Seresta [...] tem sido noticiada como marcadora de nova fase do compositor, caracterizada pela libertação quanto ao nacionalismo e tonalismo harmônico. Num artista desse valor não é possível nenhuma libertação referente a este ou aquele elemento: a libertação é total ou não existe. E foi o que pudemos verificar com esta reserva: o encaminhamento de Camargo Guarnieri para novos rumos não se deu subitamente com esta composição; antes, vem sendo gradualmente processado de algum tempo para cá”. A obra possui instrumentação inusual (piano solo, harpa, xilofone, tímpano e cordas) e, segundo o compositor, o termo seresta se relaciona com o nostálgico segundo movimento, intitulado “Sorumbático”. Os difíceis solos de piano ficam à cargo de Olga Kopylova. 

Além de trazer à vida obras orquestrais fundamentais de nosso repertório em interpretações e gravações de alto nível, este primeiro volume dedicado a Camargo Guarnieri tem o mérito de mostrar ao público a qualidade dos instrumentistas que integram a Osesp. Todos os solistas do disco são músicos aptos a enfrentar com mestria qualquer tipo de repertório. 

 

A série A Música do Brasil é parte do projeto Brasil em Concerto, desenvolvido pelo Ministério das Relações Exteriores para promover a gravação e difusão da música brasileira. É provavelmente o melhor acontecimento da seara cultural no tenebroso ano de 2020. Cerca de cem obras orquestrais dos séculos XIX e XX estão sendo registradas pela Osesp e filarmônicas de Minas Gerais e Goiás. Além da gravação, o projeto prevê novas ou primeiras edições das peças, um elemento tão importante quanto os próprios registos, pois permitirá que outras orquestras tenham acesso ao material. 

O CD com os Choros de Camargo Guarnieri está disponível na Loja CLÁSSICOS; clique aqui.

Camargo Guarnieri [Reprodução]
Camargo Guarnieri [Reprodução]

 


Críticas internacionais 

David's Review Corner, August 2020

Continuing Naxos's recordings of music from South America brings together four works from one of the most prolific composers, Mozart Camargo Guarnieri.

Born in 1907 and musically educated in Sao Paulo and Paris, he became internationally known as a leading conductor of his time, travelling extensively in North America and Europe. In the field of composing he was largely responsible for the 'Brazilanization' in South America and in doing so was to introduce to that part of the world the seismic changes that had taken place in Europe with the dawn of atonality. If you change in the heading the words 'Seresta' and 'Choros' to the word 'Concerto' you will have moved those titles into the Western world of music. In both instances you have movements that offer a work where fast and slow tempos combine to give the soloist ample scope to impress the listener. The Seresta equally contains a modicum of a new tonality and rhythmic material that places it firmly in the 1960's. It calls for a technically outstanding pianist, the Uzbekistan born, Olga Kopylova, exciting in the outgoing finale. Maybe the bassoon is too close to the microphone in the Choro with the orchestra rather as a backdrop, the Flute Choro much better in that respect. Moving to the full orchestra in the 1951 Violin Choro, the Brazilian dance at close of the opening movement is particularly likeable, while the finale's Allegro ritmado is very enlivening, the timpani adding to the forward thrust. Davi Graton, the orchestra's concertmaster packs pyrotechnics into the performance, obviously relishing the score. I recall the conductor, Isaac Karabtchevsky, for his award winning recordings of the Villa-Lobos symphonies on Naxos, and here again he obtains fine playing from the Sao Paulo orchestra.

 

Rafael de Acha
Rafael's Music Notes, July 2020

Throughout these quintessentially Brazilian chôros the Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, led by maestro Isaac Karabtchevsky proves the ideal partner, claiming stage center at moments, self-effacingly supportive at others.

Violinist Gavi Graton excels in the tri-partite Chôro for Violin and Orchestra, ostensibly the most concerto-like of all three of the works in the album. In the first and second movements the soloist asserts his presence from the very onset with his handling of Guarnieri's expansively melodic lines, against which the chamber orchestra provides passages of quiet support often alternating with massive fortissimo outbursts.

Naxos must again be saluted for its enterprising venture in the largely unexplored yet fertile field of Brazilian concert music.

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