André Cardoso: ‘Em meio às dificuldades, o ânimo é redobrado’

por Luciana Medeiros 14/03/2024

Maestro fala sobre a programação 2024 da Orquestra Sinfônica da UFRJ, que comemora seu centenário

Nessa quinta, 14 de março, a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro começa a celebrar os cem anos de sua fundação com um concerto às 19h no seu belo Salão Leopoldo Miguez, o palco da Escola de Música, no Centro da cidade. Com regência de Thiago Santos – brasileiro formado na UFRJ traçando carreira internacional –, o concerto conta com a participação de João Luiz Maciel (fagote), também cria da casa. O programa tem Rossini, Delius, Villa-Lobos e Mozart.

Poucas orquestras brasileiras alcançaram esse marco, e no caso da OSUFRJ, de forma praticamente ininterrupta. Estreou em 1924, no dia 25 de setembro, em concerto sob a batuta de Ernesto Ronchini, como Orquestra do Instituto Nacional de Música. O grupo mudaria de nome várias vezes, acompanhando as mudanças na estrutura: a instituição se tornaria Escola Nacional de Música em 1937, e mudaria de novo em 1965, quando a Universidade do Brasil virou Universidade Federal do Rio de Janeiro.  

André Cardoso, diretor artístico e regente da orquestra e professor de Regência e Prática de Orquestra na Escola de Música, vê no centenário um momento de “ânimo redobrado”, apesar das “dificuldades de sempre”. O ano de 2024 traz novidades, além da temporada (leia aqui) no Salão da casa e nos palcos da cidade – Municipal e Sala Cecilia Meireles. 

“Teremos o lançamento de um livro contando a trajetória da orquestra, produzido pela Editora da UFRJ, uma exposição no foyer do Salão Leopoldo Miguez e um documentário”, adianta André. “A Escola e a UFRJ estão empenhadas no centenário e buscando os recursos para viabilizar todos os projetos e melhorar as condições de trabalho dos músicos em meio às já conhecidas dificuldades orçamentárias.”

Vocacionadas para a formação de músicos, regentes e também do público, as orquestras universitárias “têm modelos de organização muito distintos”, continua ele. “Há as que são inteiramente constituídas por profissionais, como as da UFF e a da USP; outras, apenas por alunos, como as da UniRio ou da Unesp. Existem ainda as que são projetos de extensão, inclusive oferecendo bolsas para instrumentistas de fora da universidade, caso das federais do Rio Grande do Sul e do Rio Grande do Norte. A Orquestra Sinfônica da UFRJ tem um modelo híbrido: 43 músicos profissionais, servidores da universidade, mais os alunos de instrumentos inscritos na disciplina Prática de Orquestra.” 

André Cardoso volta a enfatizar que a falta de investimento e a precariedade das estruturas é comum a todas elas, apesar do importantíssimo papel institucional e didático. “O papel formativo pode ser entendido de forma ampla: de novos profissionais, de novo repertório na produção contemporânea, oferecendo espetáculos para plateias com limitado acesso à música de concerto.” 

O concerto dessa quinta, com os solistas e regente que estudaram na Escola de Música, celebra de fato uma orquestra com tradição. O Rio de Janeiro, que esteve por tanto tempo na vanguardas das artes, não poderia deixar de reunir um time de professores e compositores – e dos círculos ao redor. “Destaco a dedicação à música brasileira e à produção contemporânea”, reforça André Cardoso.

“São mais de 200 obras em primeira audição, de autores consagrados como Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone, José Siqueira, Guerra-Peixe, Claudio Santoro, Marlos Nobre, Edino Krieger, Ronaldo Miranda, Ernani Aguiar, João Guilherme Ripper e Liduíno Pitombeira até os mais jovens, vários deles egressos do curso de Composição da própria Escola de Música.” 

Na ópera, estrearam criações de João Guilherme Ripper, Tim Rescala e Eduardo Frigatti, além de produzir anualmente, desde 1948, títulos que ampliam a formação para diretores, figurinistas, cenógrafos. “Em 2024 apresentaremos Il Néo, de Henrique Oswald, fora dos palcos desde 1954”, adianta. “Destaco as várias gerações de músicos que se formaram e que estão hoje trabalhando em diversas orquestras por todo o Brasil, mas em especial no Rio de Janeiro.”

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O maestro André Cardoso [Divulgação/Carlos Sodré]
O maestro André Cardoso [Divulgação/Carlos Sodré]

 

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