São Paulo Companhia de Dança e Theatro São Pedro colaboram em novo espetáculo

por Luciana Medeiros 28/04/2021

Orquestrar um dos mais conhecidos conjuntos de obras para piano do Brasil foi, para o paulista de Ribeirão Preto Rubens Russomanno Ricciardi, um desafio e um prazer até nostálgico.

Escritas entre 1938 e 1943, as 12 Valsas de Esquina de Francisco Mignone se transformaram em presença constante no estudo de jovens pianistas.

O trabalho, encomendado pela São Paulo Companhia de Dança, dirigida por Inês Bogéa, e pelo maestro Cláudio Cruz, à frente da Orquestra do Theatro São Pedro em formação reduzida, estreia nessa quinta, dia 29, no palco do São Pedro, com transmissão ao vivo pelo YouTube. A coreografia é de Antonio Gomes.

“As valsas são piano em estado puro”, conta Ricciardi, que já orquestrou obras musicais populares brasileiras do período colonial, do século XIX e início do século XX, por exemplo – algumas, diz ele, “a partir apenas da melodia”.

Compostas cada uma em um tom menor, as valsas percorrem o caminho estilístico da fusão de material popular – a seresta, o choro, os elementos da música urbana da primeira metade do século XX – com a sofisticação do piano romântico, em especial Chopin, a grande influência e referência, e não apenas para Mignone, mas para muitos compositores da época – “inclusive para centenas de italianos imigrantes que escreviam música para bandas no interior de São Paulo”, conta Ricciardi. “É muito forte a presença desses gêneros nas Valsas, que a gente sente nos baixos tão identificados com o violão de sete cordas dos chorões, por exemplo. Nas melodias chopinianas surgem fortes elementos do choro urbano."

A encomenda veio em dezembro e Ricciardi levou três meses no desdobramento da partitura de piano para os recursos da orquestra sinfônica. “Tratei de me manter fiel à linguagem de Mignone, mas trabalhando com o conceito de orquestração proliferada, em que não se faz uma mera transposição, mas criam-se outras vozes, contrapontos, concepções harmônico-texturais, introduções e passagens em alguns casos, recursos para valorizar o que o piano sugere”, explica o regente e compositor. “Importante para mim era manter a atmosfera de Mignone, a coerência do estilo.”

No formato para cordas da Valsa Caipira n° 8, por exemplo, há uma ênfase no que Ricciardi vê como influência de Friedrich Hollaender, compositor alemão famoso pela música de O Anjo Azul, com Marlene Dietrich. “Hollaender fugiu da Alemanha nazista, foi para Hollywood e exerceu enorme influência no mundo da música nos anos 1930, inclusive no Brasil, com seus cromatismos havaianos. Intensifiquei ali os cromatismos”, explica ele. As texturas e o colorido das peças, adensadas pela orquestração, ganharam alguns solistas, caso da harpista Rafaela Lopes na Valsa n° 7.

O balé será interpretado por cinco casais que se revezam no palco. A transmissão gratuita, nos dias 29 de abril e 1º de maio, acontece pelo Youtube do Theatro São Pedro; e, nos dias 30 de abril e 2 de maio, pelo YouTube da São Paulo Cia de Dança O programa tem também o Grand Pas de Deux de D. Quixote, em versão de Duda Braz a partir da obra de Petipa;  e a Orquestra do TSP toca ainda o Quarteto nº1 de Villa-Lobos. 

A São Paulo Companhia de Dança também realiza, no dia 29, uma programação especial para celebrar o Dia Mundial da Dança. Leia mais aqui.

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Cena da coreografia 'Madrugada' [Divulgação/Charles Lima]
Cena da coreografia 'Madrugada' [Divulgação/Charles Lima]

 

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