Compositoras em foco: Clarice Assad e ‘Raízes’

por Redação CONCERTO 24/04/2024

A música chegou cedo à vida da compositora Clarice Assad. Ela é filha do violonista Sergio Assad, sobrinha do violonista Odair Assad e da cantora Badi Assad. E, aos 7 anos, o fazer musical já era parte de sua rotina.

“A música vem da família, mas vem muito forte em mim mesma. Era minha forma de expressão maior. Como eu tinha essa paixão, comecei a ser chamada para fazer coisas, porque já tocava piano. Eu fazia muitas coisas no Rio de Janeiro: peças de teatro, substituía minha professora de piano. Cantei muito jingle também. Isso me levou a querer estudar mais, até que fui estudar fora. Eu não sabia que estava vindo para ficar”, ela contou em entrevista à Revista CONCERTO de abril de 2022.

Nos Estados Unidos, ela estudou na Universidade Roosevelt em Chicago e na Universidade de Michigan. Foi indicada ao Grammy em 2009 e 2022. E, em sua carreira, já escreveu peças para Carnegie Hall, Chamber Music Society of Lincoln Center, Osesp, Chicago Sinfonietta, San Jose Chamber Orchestra, Metropolis Ensemble, Bravo! Vail Music Festival e o La Jolla Music Festival. Suas peças já foram gravadas por artistas como a percussionista Dame Evelyn Glennie, o violoncelista Yo-Yo Ma e a violinista Nadja Salerno-Sonnenberg.

Em 2023, ela estreou no Theatro Municipal de São Paulo a ópera Isolda/Tristão. Em seu comentário sobre o espetáculo no Site CONCERTO, o crítico João Luiz Sampaio destacou “a riqueza na exploração dos timbres, em especial no trabalho que desenvolve com a percussão; a reutilização do tema de Isolda ao longo da narrativa, em um trabalho rico de desenvolvimento dramático; a mistura de culturas tomadas como referência para a escrita; e a habilidade tão rara de escrever para vozes”.

Em 2015, ela criou o projeto VOXploration, programa educacional que tem como objetivo “um olhar criativo, divertido e acessível para a educação musical, por meio e experiências de interação”. “Muito tempo atrás fiz um workshop como cantora com Bobby McFerrin, no Carnegie Hall. Foi inacreditável, apenas vinte pessoas, cantores de lugares e estéticas diferentes. Fizemos uma ópera instantânea ao final de uma semana trabalhando com ele e ali eu aprendi como engajar pessoas em um grupo usando a música. Nunca tinha visto nada daquele jeito. Tempos depois fui chamada para dar um workshop e não sabia o que fazer. Comecei a imitar o que eu tinha visto naquele workshop com o Bobby McFerrin e deu certo. Só que ao longo dos anos fui transformando em algo mais didático, comecei a colocar mais elementos de rítmica, dar material e elementos teatrais, ensinar as pessoas. A cada vez que vou a algum lugar dar aulas ou estrear uma composição, levo como contrapartida o workshop”, explicou ela na entrevista à CONCERTO.

Ela também trabalhou no programa Luna Composition Lab, em Nova York. “Nele, meninas jovens, entre 14 e 21 anos, são orientadas por uma compositora já estabelecida. Ao final, elas têm uma obra encomendada e estreada por um ensemble também de meninas. É um trabalho que vai encorajando as moças, dá visibilidade e a chance de trabalhar num ambiente composicional.”

Sua peça Raízes, escrita para o grupo de percussão Martelo, em consórcio com a Filarmônica de Minas Gerais, a Filarmônica de Goiás e a Orquestra Sinfônica Brasileira, “envolve algumas das principais matrizes que fundamentam a identidade cultural de nosso país”, como anota o texto de programa das apresentações em Belo Horizonte.

“Pela articulação de temas conhecidos da música folclórica e popular, a peça prepara um caldo fervilhante que mistura tradições indígenas, origens africanas e influências europeias. O resultado é um vibrante concerto para quarteto de percussão e orquestra, de ritmos em constante ebulição, que reflete parte do imenso caleidoscópio cultural e regional do Brasil, indo da Floresta Amazônica às metrópoles de concreto por meio da linguagem universal da música.”

Roteiro
Raízes será apresentada nos dias 25 e 26 pela Filarmônica de Minas Gerais, na Sala Minas Gerais. Outras obras da autora na agenda musical de maio incluem Suíte for lower Strings (dias 7 e 8, Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, Sesc Gloria); Três pequenas variações sobre o tema A maré encheu (dia 12, Camerata Filarmônica de Indaiatuba, Sala São Paulo); e Herói (dia 19, grupo Martelo, Sala São Paulo). Veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO

Leia também
Especial Compositoras em foco
Notícias Uma estreia brasileira no centro das celebrações do cinquentenário da Revolução dos Cravos, por Luciana Medeiros
Crítica Uma tarde de descobertas no ‘Elixir do amor’ do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, por João Luiz Sampaio
Crítica ‘O barbeiro de Sevilha’ na casa de bonecas, por Nelson Rubens Kunze

A compositora Clarice Assad [Divulgação]
A compositora Clarice Assad [Divulgação]

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.