Retrospectiva 2023:Julianna Santos, diretora cênica
2023 foi um ano bastante agitado e de grandes realizações na ópera brasileira. O estímulo a produções de obras contemporâneas se consolida. Particularmente tive a oportunidade de dirigir três títulos, sendo dois deles estreias mundiais. No Festival Amazonas de Ópera, que esse ano sediou o encontro da Ópera Latino Americana, dirigi Piedade de João Guilherme Ripper. A ópera retrata a história Euclides da Cunha, sua esposa “Saninha”, Dilermando de Assis e o trágico desfecho que culminou na morte de Euclides.
No Theatro São Pedro, junto à Academia de Ópera dirigi O Machete de André Mehmari, com libreto baseado no conto homônimo de Machado de Assis. Na mesma época de Machado e Euclides viveu Julia Lopes de Almeida, uma das fundadoras da Academia Brasileira de Letras, que não pôde assumir a cadeira por ser mulher. O Festival de Música Erudita do Espírito Santo trouxe o trabalho de Julia Lopes de Almeida na nova obra Contos de Júlia com adaptação de três contos do livro Ânsia Eterna para libreto feita por Veronica Stigger e música de Marcus Siqueira.
Nos Theatros Municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro, dirigi duas grandes obras do repertório tradicional: Cosi Fan Tutte de Mozart e Carmen de Bizet. Ambas se mostram vivas e em diálogo direto com nosso público contemporâneo, sempre abrindo discussões sobre a forma de levar ao palco hoje essas grandiosas obras que seguem cheias de sentido e significados. Em ambas as temporadas os teatros estiveram lotados de um público receptivo sem deixar de ser ativo. Vivo!
No Festival de Ópera de Guarulhos dirigi A Medium de Giancarlo Menotti. Pela primeira vez foi realizada uma ópera no Teatro Padre Bento; o público compareceu e prestigiou o trabalho, colaborando com a ideia da iniciativa, trazendo a ópera para fazer parte vida da sociedade. Há mais de 100 anos Pauline Viardot, uma mulher, compôs a ópera Cinderela. Para a versão que fizemos no Theatro São Pedro foi feita uma adaptação para o português por André dos Santos, com orquestração de Juliana Ripke. O fato do nosso elenco ser composto por protagonistas negros (o que não deveria ser raro) gerou comentários sobre a emoção de poder se reconhecer em lugares que há bem pouco tempo eram inimagináveis (ainda que isso não seja justificável).
Ao lado de importantes colegas na discussão sobre a importância da representatividade e diversidade nos palcos operísticos, participei como júri do 2º Concurso de Canto Joaquina Lapinha, no qual destaco o empenho de Mere Oliveira na concretização de mais uma edição. Participei também, como diretora cênica, do concerto cênico Sonho de uma Noite de Verão, de Mendelssohn, realizado pela Tucca na Sala São Paulo, projeto importantíssimo que reverte 100% de bilheteria para o tratamento de crianças com câncer.
As instituições, os festivais, as direções artísticas e as curadorias vêm trabalhando seriamente para seguir desenvolvendo o setor em nosso país.
Que possamos sempre de mãos dadas contribuir para que a arte no Brasil esteja sempre viva! Viva a ópera! Que venha 2024! Dedico esse ano de trabalho e realizações à minha grande amiga, a soprano Marina Considera, que nos deixou em outubro.
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![Julianna Santos [Divulgação/Stig de Lavor]](/sites/default/files/inline-images/w-julianna_santos_stig_lavor_0.jpg)
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