Após afastamento de músico, artistas do Theatro Municipal protestam contra Sustenidos 

por Redação CONCERTO 08/11/2025

Manifestação ocorreu ontem, dia 7, antes da récita de Macbeth

A récita de ontem, dia 7, da ópera Macbeth, no Theatro Municipal de São Paulo, foi marcada por um protesto inédito dos corpos artísticos da casa. A mobilização ocorreu após o afastamento disciplinar do contrabaixista Brian Fountain, integrante da Orquestra Sinfônica Municipal e presidente da Associação dos Músicos do Theatro Municipal (Amithem), que tem se posicionado de forma crítica à gestão da organização social Sustenidos, responsável pela administração do teatro.

Fountain foi suspenso por 30 dias, sem remuneração, após publicar em suas redes sociais críticas contundentes à atual montagem da ópera de Verdi, chamando a produção de uma “destruição da ópera e da música clássica”. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o documento enviado ao músico pela Sustenidos aponta que suas postagens teriam conteúdo ofensivo e configurariam falta grave segundo a legislação trabalhista. A entidade, porém, declarou que não comenta procedimentos internos de gestão de pessoas.

Minutos antes do início da récita de ontem, músicos da orquestra, membros do Coro Lírico e técnicos da casa subiram ao palco, tapando a própria boca como gesto simbólico de censura. Um dos cantores leu um texto em que criticou o afastamento de Fountain, contestou a condução administrativa da Sustenidos e defendeu a liberdade de expressão dentro do teatro. O pronunciamento foi seguido por gritos de “pela liberdade de expressão” e “não à opressão”, recebidos com aplausos da plateia.

Antes, os músicos já haviam postado uma nota nas redes sociais com o seguinte comunicado: “Nós, os Músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, repudiamos as medidas disciplinares injustas e incoerentes aplicadas, sem direito ao contraditório, contra nosso representante eleito Sr. Brian Fountain. Informamos que serão tomadas as medidas cabíveis para garantir nosso direito à representação e à liberdade de expressão”.

A reação ocorre em meio a um clima já tenso no Municipal. Na sexta-feira dia 31, na estreia de Macbeth dirigida por Elisa Ohtake e regida por Roberto Minczuk, algumas pessoas na plateia gritaram e vaiaram logo que começou a exibição de vídeos, durante a troca de cenários, que mostravam os cantores nos bastidores e nas escadarias externas do Theatro Municipal. As manifestações e vaias se repetiram na apresentação dessa sexta.

O episódio também se insere em um cenário político mais amplo: no mês passado, após alerta da Fundação Theatro Municipal de São Paulo e pressionado por setores conservadores da direita, o prefeito Ricardo Nunes chegou a solicitar a rescisão do contrato da Sustenidos em razão de um funcionário da OS ter postado em sua página pessoal um vídeo que questionava a repercussão pública em torno do assassinato do ativista norte-americano Charlie Kirk, chamando-o de “nazista” e “racista”.

Protesto dos artistas antes da récita de ‘Macbeth’, no Theatro Municipal de São Paulo (reprodução YouTube)
Protesto dos artistas antes da récita de ‘Macbeth’, no Theatro Municipal de São Paulo (reprodução YouTube)

 

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