Por Mariana Oliveira*
No dia 30 de outubro, participantes do Ateliê de Criação da Academia de Ópera 2021 do Palácio das Artes de Belo Horizonte participaram de uma mesa-redonda transmitida ao vivo pelo YouTube para discutir as dinâmicas de atividades e a colaboração entre os alunos libretistas e os compositores convidados. A mesa fez parte de uma programação que inclui uma série de atividades do ateliê, criado com o intuito de discutir e fomentar a escrita de libretos e a criação no campo da ópera brasileira.
Intitulada “A Jornada de Trabalho do Ateliê de Criação”, a mesa contou com a participação do orientador das atividades, Geraldo Carneiro, dos alunos libretistas Bruna Tameirão e Julliano Mendes e dos compositores Antônio Ribeiro e Thais Montanari. A mediação foi de Livia Sabag e Gabriel Rhein-Schirato, idealizadores do ateliê. E a variedade dos convidados ilustraria de cara o tema em torno do qual as discussões aconteceriam: a diversidade.
Foi interessante notar que, ainda que não tenha sido a primeira mesa-redonda do Ateliê de Criação, tudo foi guiado para que esta acontecesse de forma completa e independente, com o cuidado de contextualizar o público com apresentações dos participantes e explicações sobre as atividades. Como dito pelo maestro Gabriel Rhein-Schirato, o objetivo ali era abrir para o público todo o processo, para que este pudesse ter um envolvimento maior ao acompanhar seu resultado: cinco minióperas com duração de cerca de dez minutos cada, a serem estreadas no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
Antes de abordar os processos de composição dos participantes, os mediadores explicaram a decisão de convidar Geraldo Carneiro para orientar os alunos do ateliê no processo de criação de libretos. Bruna Tameirão pontuou em um momento que se sentiu extremamente à vontade sob sua orientação, assim como Carneiro, durante a mesa, demonstrou com tranquilidade suas opiniões e conhecimentos ao falar sobre a experiência sob seu ponto de vista, sempre deixando espaço para que os demais participantes também pudessem demonstrar suas ideias.
Ficou bastante claro durante a conversa que todo o processo de escrita de libretos e composição se deu de maneira colaborativa, respeitando a individualidade, o estilo e o ritmo de cada autor. Carneiro mencionou que, a princípio, pensou em indicar bibliografia para os alunos do ateliê, mas mudou de estratégia ao se deparar com um grupo tão diverso, trabalhando de forma a permitir que essa diversidade se manifestasse naturalmente e, assim, cada libretista desenvolvesse sua própria poética. Essa abordagem culminou em cinco textos muito diferentes uns dos outros, mas ainda assim unos. Com a abertura para ouvir e contribuir, houve espaço para que uma enorme originalidade se mostrasse no trabalho dos libretistas.
Um importante fator mencionado durante a mesa foi o Tempo. Apesar da liberdade para descobrir seus próprios caminhos de escrita e composição, libretistas e compositores tiveram que lidar com tempos bem delimitados, fosse o limite de 10 minutos para a obra final ou a duração do próprio ateliê, que definiu o prazo que eles teriam para criar.
Para a compositora Thais Montanari, a limitação do tempo da ópera acabou se mostrando uma oportunidade para buscar soluções criativas. Antônio Ribeiro apontou a limitação como parte do processo criativo, que deve ser totalmente livre, mas, em algum momento, precisará de uma estrutura, o que obriga o criador a encontrar soluções.
Essa estrutura, que se mostrou muito bem pensada durante todo o período do ateliê, acabou por permitir a manifestação de estilos e formas de expressar diversos, todos girando em torno de algo em comum: a brasilidade expressa através das “mineirices” de Fernando Sabino em O grande mentecapto, obra escolhida por Geraldo Carneiro para ser adaptada em libretos pelos cinco alunos escolhidos.
A variedade e as particularidades de cada um deles acabaram encontrando solo fértil nas parcerias com os compositores, que se mostraram adequadíssimas em fluidez: além das duplas Bruna Tameirão e Thais Montanari e Julliano Mendes e Antônio Ribeiro, o ateliê contou com obras compostas pelas duplas Ricardo Severo e André Mehmari, Djalma Thurler e Denise Garcia e Eduardo Frin e Maurício de Bonis.
Essa diversidade fluida de poéticas mostra-se um sinal de que o universo da ópera no Brasil é não apenas promissor, como incrivelmente rico e original. Em um país com tantas dificuldades de se fazer arte, mas onde os artistas sabem porque o fazem – como diz Montanari –, iniciativas como a do Ateliê de Criação atuam como um lembrete de que é preciso fazer, e este fazer é colaborativo. Assim como a própria ópera o é.
* Texto produzido no módulo de jornalismo e crítica musical do Ateliê de Criação: Dramaturgia e Processos Criativos, promovido pela Fundação Clóvis Salgado, sob orientação de João Luiz Sampaio
![Mesa discutiu trabalho do Ateliê de Criação do Palácio das Artes [Reprodução]](/sites/default/files/inline-images/jornada.jpg)
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