Compositor Guilherme Bauer falece no Rio de Janeiro

Considerado um dos principais nomes da vanguarda da geração nascida nos anos 1940 e 1950, Guilherme Bauer era membro da Academia Brasileira de Música

Faleceu na madrugada de hoje, 3 de março, o compositor Guilherme Bauer. Ele tinha 83 anos e sofria de câncer.

Nascido no Rio de Janeiro em 1940, Bauer iniciou seus estudos musicais no Colégio Santo Inácio e foi aluno de violino de Iolanda Peixoto. Em 1960, ingressou na Escola Nacional de Música.

Em entrevista concedida a Irineu Franco Perpetuo e publicada na Revista CONCERTO em 2010, Bauer contou: “Tive sorte de estudar violino com Oscar Borgerth, análise com Esther Scliar – a nossa Nadia Boulanger –, Claudio Santoro, com quem estudei um ano, e Guerra-Peixe. [...] Quanto à estética, ou se tem a cabeça voltada para uma música nacional – nacionalista é outra coisa – ou vamos copiar os europeus sem a devida qualidade, por tratar-se de outra cultura. Tenho procurado escrever peças apoiadas em nossas tradições musicais. Inicialmente, pareciam de um estrangeiro tentando fazer música brasileira, mas aos poucos ficaram mais originais. Não é fácil e leva tempo até parecer espontâneo”. 

Na mesma entrevista, Bauer afirmou: “Ravel orgulhava-se da influência de Debussy, e eu me orgulho da do meu grande mestre Guerra-Peixe, revelada na técnica de compor e na orquestração. Ele deveria ocupar, ao lado de Carlos Gomes e de outros importantes compositores, uma posição de destaque, mas, lamentavelmente, esta ficou sendo a terra de um só compositor, Villa-Lobos”.

Guilherme Bauer foi professor na Universidade Estácio de Sá e na Escola de Música Villa-Lobos. Em 1977, organizou o grupo Ars Contemporânea que, durante sete anos, realizou inúmeros concertos divulgando o repertório brasileiro. O compositor também foi idealizador do selo RioArte Digital, que registrou em CD de mais de cinquenta obras de compositores brasileiros, e do Projeto Estreias Brasileiras, que, em 1997, encomendou e estreou 33 obras de autores nacionais.

O compositor foi premiado em diversos concursos, como o Prêmio Esso de Música Erudita, Concurso Latino-Americano da UFBa, Prêmio da Sociedade Cultura Artística de São Paulo e o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Sua obra compreende composições para diferentes formações, da música sinfônica à música de câmara. Bauer é considerado um dos principais nomes da vanguarda da geração nascida nos anos 1940 e 1950.

Amigos, alunos e conhecidos lamentaram a morte de Guilherme Bauer. A compositora Jocy de Oliveira escreveu no Facebook: “É com muita tristeza que soube do falecimento do compositor Guilherme Bauer agora de madrugada. É uma sensação profunda de vazio e de perda. Falar sobre ele é se lembrar de um amigo fiel, um grande músico, e um ser humano íntegro. Viveu dedicado a seu oficio – a música – e nos deixa um belo legado com sua obra sensível que precisa continuar a ser ouvida”.

O compositor Harry Crowl anotou: “É com profundo pesar que recebi a notícia do falecimento do meu grande amigo e colega Guilherme Bauer. Era uma pessoa extraordinária, de uma generosidade sem limites, sempre jovial e com grande senso de humor. Grande compositor e merece que sua música seja mais conhecida. Certamente fará muita falta. Descanse em paz, meu caro!”.

Guilherme Bauer era membro da Academia Brasileira de Música, onde ocupava a cadeira número 17.

[Fontes utilizadas: Academia Brasileira de Música e Portal Música Brasilis.]