OSB volta ao Teatro Cultura Artística em concerto arrebatador 

por Nelson Rubens Kunze 05/07/2025

Nesse retorno ao palco do Teatro Cultura Artística, a OSB celebrou com brilho e vitalidade seus 85 anos de história e mostrou que está em ótima fase e pronta para o futuro

Foi em 1952, portanto há quase 73 anos, que a OSB fez a sua estreia no antigo Teatro Cultura Artística, que havia sido inaugurado apenas dois anos antes. Nos quase quarenta anos que se seguiram, o grupo fez nada menos do que sessenta concertos no palco da Rua Nestor Pestana. Agora, 73 anos depois, a Orquestra Sinfônica Brasileira volta ao reconstruído Teatro Cultura Artística, apresentando o mesmo programa de sua estreia de 1952: Francisco Braga, Rachmaninov e Beethoven. Os concertos realizados neste fim de semana foram também parte das comemorações dos 85 anos de história do conjunto radicado no Rio de Janeiro. As apresentações tiveram regência do excelente maestro mexicano Enrique Diemecke, ex-diretor artístico da Orquestra Filarmônica do Buenos Aires, do Teatro Colón, e contaram com a participação do pianista italiano Gabriele Strata. 

O concerto iniciou-se com o Episódio sinfônico, obra de Francisco Braga (1868-1945) escrita em 1898. Com bonito som e cuidado interpretativo, a orquestra ofereceu uma interpretação orgânica e envolvente.

Na sequência, veio o Concerto para piano nº 2, de Rachmaninov, uma das obras mais emblemáticas do repertório romântico para piano e orquestra. A OSB exibiu uma sonoridade rica e densa, quase extrapolando a acústica do Teatro Cultura Artística.

O solista Gabriele Strata, medalhista de prata do Concurso Internacional de Montreal de 2024 e vencedor de prêmios entre outros no Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, apresentou-se com apuro técnico em uma interpretação bastante sóbria. Comparativamente à abundância sonora da orquestra, Strata realizou uma leitura mais contida, mantendo uma certa distância emocional da música. Diemecke, por sua vez, demonstrou uma musicalidade extrovertida, com uma regência intensa, expressiva e cheia de vida. A diferença de intensidade entre orquestra e solista fez com que em algumas passagens o piano ficasse um pouco encoberto pela massa orquestral.

Mas o melhor estava por vir, com a Sinfonia nº 5, de Beethoven, um dos pilares do repertório sinfônico ocidental. A OSB e Diemecke ofereceram uma interpretação arrebatadora. É bem raro assistir ao vivo a uma Quinta de Beethoven tão emocionante, com essa força e energia artística!

Diemecke regeu de cor e sem batuta. Com amplos gestos e grande poder comunicativo, o maestro logrou unir os músicos em um todo de alta voltagem. Com marcados contrastes dinâmicos e articulações precisas, a obra ganhou uma nova expressão e grande tensão. E os movimentos internos, menos dramáticos, foram de um raro frescor, com linda fluência musical.

Que beleza ver e ouvir uma orquestra tocar com essa qualidade e, ao mesmo tempo, naturalidade. Além da excelência técnica e do virtuosismo interpretativo, pareceu-me que havia uma alegria genuína em fazer música. Nesse retorno ao palco do Teatro Cultura Artística, a OSB celebrou com brilho e vitalidade seus 85 anos de história e mostrou que está em ótima fase e pronta para o futuro. Parabéns e vida longa à Orquestra Sinfônica Brasileira!

OSB é aplaudida após a apresentação da ‘Quinta’ de Beethoven (Revista CONCERTO)
OSB e Enrique Diemecke são aplaudidos após a apresentação da ‘Quinta’ de Beethoven (Revista CONCERTO)

 

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