Morre o maestro Martinho Lutero Galati de Oliveira

por Redação CONCERTO 26/03/2020

Criador da Rede Cultural Luther King e uma das maiores autoridades brasileiras em música coral, morreu na madrugada desta quinta-feira, dia 26, o maestro Martinho Lutero Galati de Oliveira, aos 66 anos. Ele estava internado há uma semana por problemas respiratórios e sofreu uma parada cardíaca. Seu corpo será cremado no Crematório da Vila Alpina na tarde de hoje, mas a família pede que as últimas homenagens ao maestro sejam deixadas para outra ocasião por conta do coronavírus.

“Sugerimos que todos permaneçam em casa e deixemos a tão necessária confraternização e homenagem para um futuro próximo dada a gravidade da crise pela qual passamos e aos riscos de contaminação”, diz o texto publicado pela Rede Cultural Luther King no Facebook, assinado pela esposa do maestro, Sira Milani.

Martinho Lutero nasceu em Governador Valadares, Minas Gerais, em 1953. Começou sua trajetória na música nos anos 1960, recebendo influências de professores como Hans-Joachim Koellreutter, Klaus Dieter Wolf, Jonas Christensen e Roberto Schnorrenberg. Estudou música na Argentina e, em São Paulo, formou-se em História na Universidade de São Paulo, antes de seguir para a Europa, onde esteve sob orientação de Luciano Berio, Franco Ferrara e Luigi Nono.

Em 1970, de volta ao Brasil, criou o Coro Luther King, com o qual se apresentou em 1975 na missa em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, na Catedral da Sé. O coro, que mais tarde viajaria para concertos em todo o mundo, foi o ponto de partida da Rede Cultural Luther King, que completa cinco décadas em 2020, com o objetivo de “colaborar para a construção do canto coral, formando e preparando milhares de pessoas para a vida musical, artística e cidadã, realizando música do passado e do presente, promovendo externamente o desenvolvimento, a difusão da literatura coral brasileira e a reflexão e o crescimentos das pessoas”.

No ano passado, Martinho Lutero criou a Camerata Sé, que vinha se apresentando na Catedral da Sé e em outros palcos de São Paulo. Na ocasião, em entrevista ao Site CONCERTO, ele explicou, em depoimento à jornalista Camila Fresca, o objetivo do conjunto. “Os coros que se dedicam ao repertório acompanhado tendem a ter um próprio grupo instrumental na interpretação das obras. As orquestras sem tradição de acompanhamento coral são parceiras difíceis num trabalho refinado de interpretação. A afinação não temperada das vozes e a maleabilidade rítmica do discurso vocal por vezes disturba, desconcentra e até irrita o instrumentista de orquestra. Acompanhar coros é uma tarefa complexa, mas fascinante e requer prática.”

O trabalho de Lutero não se limitava ao Brasil, onde entre 2013 e 2016 foi também diretor artístico do Coral Paulistano, grupo ligado ao Theatro Municipal de São Paulo. Na Itália, onde criou nos anos 1980 o Coro Cantosospeso, o maestro era professor do Instituto di Musicologia di Milano e da Libera Università di Lingue e Comunicazione. Também trabalhou na África, onde criou a Associação Cultural Tchova Xita Duma, em Maputo, Moçambique, em 1987.

Uma das marcas de seu trabalho era a preocupação humanista, que se revela por meio de projetos em que a música coral serve de caminho para o diálogo. A mais recente produção da Camerata Sé, por exemplo, apresentava a ópera Treemonisha, de Scott Joplin, em parceria com a Ocupação Cultural Jeholu, dedicada a pensar coletivamente a identidade negra e seu protagonismo.

“Meu último grande mestre foi Luigi Nono, compositor italiano profundamente comprometido com a vanguarda técnica e estilística erudita europeia, mas ao mesmo tempo comprometido com o homem do seu tempo no sentido global – social, político e econômico”, disse ao Site CONCERTO. “Com ele aprendi, entre outras coisas, que a música que não conversa com o seu tempo não tem razão de existir.”

Leia mais
Reportagem
Camerata Sé: projetos ousados em tempos de crise, por Camila Fresca

O maestro Lutero Rodrigues [Reprodução]
 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

Link permanente

Lamento profundamente a morte do maestro. Uma perda enorme para a música e cultura de nosso país. Minhas sinceras condolência à família é aos membros do Coral Luther King.

Link permanente

Lamento profundamente a morte do maestro. Uma perda enorme para a música e cultura de nosso país. Minhas sinceras condolência à família é aos membros do Coral Luther King.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.