Em 1911, o compositor Arnold Schoenberg publicou o seu Tratado de Harmonia (Harmonielehre). E a obra tornou-se um dos mais importantes textos da música do século XX, reveladora das ideias de seu autor, cujo papel na alteração de rota da criação musical no período foi decisiva.
Como qualquer estudante de composição, o norte-americano John Adams conheceu cedo o texto e a obra musical de Schoenberg, com a qual estabeleceu relação que definiria como ambivalente.
“Ele era um mestre no mesmo sentido em que Bach, Beethoven e Brahms eram mestres. Essa noção em si me atraiu e continua a fazê-lo”, conta o compositor em texto publicado em seu site. “Mas Schoenberg também representou para mim algo incômodo. Ele foi o primeiro compositor a assumir o papel de sumo sacerdote, uma mente criativa cuja vida inteira correu sempre na contramão da sociedade, quase como se ele tivesse escolhido o papel de provocador incômodo. Apesar do meu respeito e até da minha intimidação pela persona de Schoenberg, senti que era honesto reconhecer que não gostava do som da música dodecafônica.”
Com o tempo, Adams resolveu compor a sua Harmonielehre. “É uma paródia, na medida em que guarda uma ‘relação subsidiária’ com um modelo (neste caso, uma série de obras da virada do século, como Gurrelieder e a Quarta sinfonia de Sibelius), mas o faz sem a intenção de ridicularizar”, explica. “É uma grande obra de três movimentos para orquestra que casa as técnicas de desenvolvimento do minimalismo com o mundo harmônico e expressivo do romantismo tardio do final do século XIX. As sombras de Mahler, Sibelius, Debussy e o jovem Schoenberg estão por toda parte nesta estranha peça. Este é um trabalho que olha para o passado no que eu suspeito ser um espírito pós-moderno, mas o faz inteiramente sem ironia.”
A Harmonielehre de Adams é um dos destaques do programa que a Osesp apresenta nesta semana, nos dias 7, 8 (com transmissão) e 9. A regência é de David Robertson, maestro especializado na música do século XX, com passagem por grupos como o Ensemble Intercontemporain.
No programa, a peça de Adams será apresentada ao lado da Sinfonia de câmara nº 2 de Schoenberg, na qual o compositor começou a trabalhar em 1906, retornando a ela em 1933. O repertório inclui ainda o Concerto para clarinete de Copland, com a participação de Anthony McGill, principal clarinetista da Filarmônica de Nova York, como solista.
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