Vinte e uma compositoras, da Idade Média até os nossos dias

por Redação CONCERTO 08/03/2021

Luta contra preconceitos, reconhecimento tardio, momentos históricos, obras inovadoras, criação de novos espaços, aposta na experimentação: conheça abaixo a trajetória e a obra de vinte e uma compositoras.

Hildegard von Bingen (1098-1179)
Uma das figuras mais fascinantes de sua época, Hildegard von Bingen foi monja, mística, teóloga, compositora, dramaturga, escritora. Sua produção musical, na escolha de temática, dialoga com suas ideias a respeito da teologia e de suas visões sobre a existência: para ela, a vida era resultado da união harmoniosa entre corpo e espírito, entre a vontade humana, a natureza e a graça divina. 

 

Barbara Strozzi (1619-1677)
Em meados do século XVII, Barbara Strozzi ficou conhecida em Veneza por suas composições vocais de temática secular, apesar de também ter se dedicado à música sacra (nesse universo, deixou obras como Mater Anna, dedicada a Anna de Medici). Suas obras carregam enorme lirismo e colocam enorme importância na qualidade vocal do intérprete. Privilegiava, ao escrever, a voz de soprano.

 

Louise Farrenc (1804-1875)
Aluna de piano de Johann Nepomuck Hummel, Louise Farrenc costumava se apresentar ao lado do marido, o flautista Aristide Farrenc. O talento ao piano fez dela, por mais de três décadas, professora do instrumento no Conservatório de Paris. Como compositora, depois de se dedicar a peças para piano solo, passou a escrever obras orquestrais e de câmara, com destaque para o Noneto (entre os músicos que fizeram a estreia da peça estava o violinista Joseph Joachim). 

 

Fanny Mendelssohn (1805-1847)
Boa parte da obra de Fanny Mendelssohn não foi publicada em vida. E, em alguns casos, acabaram editadas como se fossem de seu irmão Felix Mendelssohn. Isso por conta da resistência de sua família em tê-la atuando como compositora. Desde os anos 1970, no entanto, sua obra tem sido resgatada, incluindo seu conjunto de mais de 250 canções. Sua Easter Sonata, por exemplo, só foi apresentada como sua em 2012. 

 

Chiquinha Gonzaga (1847-1935)
Pianista e compositora, Chiquinha Gonzaga é figura fundamental para se entender os caminhos da música brasileira na passagem do século XIX para o século XX. Autora de peças para piano solo, canções e operetas, participou ativamente do desenvolvimento da música urbana carioca. De ascendência negra, lutou pela Abolição da Escravidão, além de se envolver em outras causas marcantes da época.  

 

Teresa Carreño (1853-1917)
Conhecida como a “valquíria do piano”, a venezuelana Teresa Carreño esteve nos palcos por mais de cinquenta anos, apresentando-se em especial nos Estados Unidos, onde conquistou fama sem precedentes. Sua produção como compositora é formada em especial por obras para piano solo – são mais de 75 –, mas ela também escreveu canções, peças para coro e música instrumental.

 

Cécile Chaminade (1857-1944)
Nascida em Paris, fez o primeiro recital com obras próprias aos 8 anos de idade, chamando atenção do meio musical francês, em especial de Georges Bizet. Fez carreira de destaque como intérprete na Inglaterra e em sua terra natal. Entre suas principais obras, estão as canções, publicadas com sucesso durante sua vida. Suas peças para piano eram usadas nos cursos do Conservatório de Paris.

 

Amy Beach (1867-1944)
Pianista, Amy Beach foi obrigada pelo marido a fazer apenas um recital por ano. Dedicou-se, então, à composição. Em 1896, a Gaelic Symphony fez história ao ser estreada pela Sinfônica de Boston: foi a primeira sinfonia encomendada a uma mulher nos Estados Unidos. Nascida em New Hampshire, escreveu também um concerto para piano e uma Missa, além de música de câmara para diversas formações. 

 

Germaine Tailleferre (1892-1983)
Com o apoio da mãe, já que seu pai se opunha a seus estudos de música, a francesa Germaine Tailleferre integraria anos mais tarde o chamado Les Six, grupo que reunia os compositores Georges Auric, Louis Durey, Arthur Honegger, Darius Milhaud e Francis Poulenc. Escreveu concertos, peças de câmara e balés (encomendados por Sergei Diaghilev), além de ter sido pioneira na composição da música para cinema. 

 

Lili Boulanger (1893-1918)
Lili Boulanger, nascida em uma família de músicos, foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio de Roma de composição. Morreu jovem, aos 25 anos, deixando uma seleção de peças para solista vocal e coro, poemas sinfônicos e uma ópera inacabada, escrita a partir de poemas de Maurice Maeterlinck. Sua irmã Nadia, além de compor, foi uma das principais professoras de composição do século XX.

 

Eunice Katunda (1915-1990)
Eunice Katunda fez sua estreia como pianista ainda na adolescência, apresentando-se com orquestra em São Paulo e no Rio de Janeiro. Estudou composição com Hans Joachim Koellreutter e foi representante do movimento Música Viva. Filiada ao Partido Comunista, entendia que a música deveria ser uma ferramenta de integração social e humana, estando a serviço da construção de uma ideia de coletividade. 

 

Esther Scliar (1926-1978)
Nascida em Porto Alegre, Esther Scliar formou-se compositora no Rio de Janeiro, sofrendo influência do Grupo Música Viva. Uma de suas peças mais importantes é a Sonata para piano, ainda que sua obra tenha incluído diferentes gêneros, inclusive a música para teatro. Como professora, orientou artistas como Milton Nascimento, Egberto Gismonti e Ronaldo Miranda. 

 

Sofia Gubaidulina (1931)
Nome-chave da composição russa da segunda metade do século XX, Sofia Gubaidulina ganhou fama internacional a partir dos anos 1980, com seu concerto para violino Offertorium. Suas obras estão ligadas à ideia de transcendência humana e costumam ser associadas à noção de “espiritualismo místico”. A percussão também tem lugar importante em sua criação, marcada pela inovação e pela busca de novas sonoridades.

 

Jocy de Oliveira (1936)
Como pianista, Jocy de Oliveira trabalhou de perto com compositores como John Cage, Luciano Berio, Igor Stravinsky e Claudio Santoro. Desde cedo, no entanto, nutriu interesse pela composição, escrevendo obras históricas na cena brasileira, como Apague meu spotlight, cuja estreia foi a primeira apresentação no país de um espetáculo de música eletroacústica. O teatro musical tem importância central em sua obra, que trata de temas como a condição da mulher na sociedade e o preconceito perante a diferença.

 

Marisa Rezende (1944)
Criadora do grupo Música Nova, em 1988, Marisa Rezende desenvolve importante carreira como professora: atuou durante mais de vinte anos na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua obra como autora é marcada por uma constante investigação estética que une tanto ensinamentos da vanguarda quanto o uso da consonância. A variedade de sua obra vem da recusa da rigidez na busca de caminhos sonoros. 

 

Kaija Saariaho (1952)
A finlandesa Kaija Saariaho trabalhou durante anos no Ircam, em Paris, e define sua música como uma tentativa de “responder a questões técnicas relacionadas à forma e ao material sonoro”. Em sua vasta produção, ela própria costuma destacar a importância da voz e, em especial, suas óperas, como L’amour de loin, Innocence e Émilie, nas quais articula a escrita para grande orquestra com recursos eletrônicos. 

 

Pamela Z (1956)
A compositora norte-americana recebeu distinções como o Prêmio de Roma e tem sua obra marcada por um forte desejo de experimentação. Costuma utilizar linguagem multimídia, com forte impacto visual, em obras escritas para conjuntos como o Quarteto Kronos. Também trabalha com o Bang on a Can, centro de música contemporânea baseado em Nova York, e já escreveu música para a companhia de Pina Bausch.

 

Tatiana Catanzaro (1976)
Doutora em música e musicologia pela Universidade de Paris IV – Sorbonne, Tatiana Catanzaro, desenvolveu o pós-doutorado também na França, no Ircam. Escreveu obras para grupos brasileiros e europeus, como a Camerata Aberta e o Itinéraire. Atualmente é professora de composição e novas tecnologias no Departamento de Música da Universidade de Brasília. 

 

Michelle Agnes (1979)
Nascida em Campo Grande, Michelle Agnes formou-se e mais tarde fez doutorado na Universidade de São Paulo. Mudou-se para a Europa em 2013, onde teve aulas como Salvatore Sciarrino e foi pesquisadora do Ircam. Também passou uma temporada na Universidade de Harvard, onde sua obra foi definida como a exploração dos limites entre “o gesto e a escrita, a composição e a improvisação”. Vive hoje em Paris. 

 

Caroline Shaw (1982)
Em 2018, a norte-americana Caroline Shaw foi a mais jovem vencedora do Prêmio Pulitzer de música pela composição Partita para oito vozes, elogiada pelo júri pela forma como une “fala, sussurros, murmúrios, melodias sem palavras e efeitos vocais inovadores". Já teve obras encomendadas por orquestras como as sinfônicas de Baltimore e Seattle e por grupos de câmara como o Brentano Quartet.

 

Valéria Bonafé (1984)
Aluna de Heloisa Zani e Willy Correa de Oliveira na USP, estudou também com Aylton Escobar e Silvio Ferraz. Viveu na Alemanha, onde pesquisou para o doutorado em Stuttgart. É uma das criadoras da rede Sonora - Músicas e Feminismos. Realiza pós-doutorado no Núcleo de Sonologia da USP. Entre os assuntos que a interessam, ela ressalta as noções de sonoridade e de imagem; as dimensões da memória e do afeto; a oralidade e o espaço (auto)biográfico; a escuta e o campo dos feminismos.

 

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