A música do Brasil

por Redação CONCERTO 05/08/2020

Abre CDs

Sobre esta série

A série A música do Brasil é parte do projeto Brasil em concerto, desenvolvido pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil para promover a música dos compositores brasileiros, a partir do século XVIII. Cerca de cem obras orquestrais dos séculos XIX e XX serão gravadas pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, pela Orquestra Filarmônica de Goiás e pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Gravações de música de câmara e vocal serão gradualmente acrescidas a essa coleção. As obras foram selecionadas de acordo com sua importância histórica para a música brasileira e a existência de gravações. A maioria das obras gravadas para essa série nunca teve gravações disponíveis fora do Brasil; muitas outras terão suas primeiras gravações mundiais. Uma parte importante do projeto é a preparação de novas ou primeiras edições das obras a serem gravadas, muitas das quais, apesar de sua relevância, estão disponíveis apenas no manuscrito do compositor. Esse trabalho será levado a cabo pela Academia Brasileira de Música e por musicólogos trabalhando junto com as orquestras.

About This Series

The series The Music of Brazil is part of the project Brasil em Concerto, developed by the Brazilian Ministry of Foreign Affairs in order to promote music by Brazilian composers dating back to the 18th century. Around 100 orchestral works from the 19th and 20th centuries will be recorded by the Minas Gerais Philharmonic Orchestra, the Goiás Philharmonic Orchestra and the São Paulo Symphony Orchestra. Recordings of chamber and vocal music will gradually be added to this collection. The works were selected according to their historical importance for Brazilian music and the existence of recordings. Most of the works recorded for the series have never had recordings available outside Brazil; many others will have their world premiere recordings. An important part of the project is the preparation of new or even first editions of the works to be recorded, many of which, despite their relevance, have only been available in the composer’s manuscript. This work will be carried out by the Brazilian Academy of Music and by musicologists working together with the orchestras.


Janeiro de 2019

‘It's appropriate that music by Alberto Nepomuceno, a herald of Brazilian musical nationalism, is launching our latest Naxos project – The Music of Brazil. This is a monumental, 5-year undertaking to produce around 30 releases of some 100 works by Brazilian composers, focusing mainly on orchestral repertoire. There will be many first recordings together with the publication of newly edited or first edition scores. Naxos is collaborating with the Cultural Department of Brazil's Ministry of Foreign Affairs, three of the country's leading orchestras and the Brazilian Academy of Music for this exciting development.

As for this first volume, although Nepomuceno may be relatively unknown today, he needed no introduction in his time: he was one of the first Brazilian composers to employ elements of folklore in his compositions; he encouraged younger composers such as Villa-Lobos; and his music was conducted by no less a figure than Richard Strauss.’

Klaus Heymann
founding chairman, Naxos Records

Klaus Heymann [Divulgação]
Klaus Heymann [Divulgação]

Março de 2019
PROJECT "THE MUSIC OF BRASIL" - "BRASIL EM CONCERTO"

THE MUSIC OF BRAZIL PRESENTS RECORDINGS OF 100 ORCHESTRAL WORKS OF BRAZILIAN MUSIC

"It is a ground-breaking project, which will contribute to making Brazilian classical music more widely known and apprecciated in the world". – Nelson Freire, Brazilian pianist. 

NEW YORK, NY — In February Naxos —the repertoire label— launched THE MUSIC OF BRAZIL, a series which is part of the project BRASIL EM CONCERTO, developed by the Brazilian Ministry of Foreign Affairs in order to promote music by Brazilian composers.

The works were selected by the Ministry of Foreign Affairs in collaboration with the artistic directors of three Brazilian orchestras, the Minas Gerais Symphony Orchestra, the Goiás Philharmonic Orchestra, and the São Paulo Symphony Orchestra. Many works of fundamental historical importance for Brazilian music have never been recorded and have not even been published to date.

This project is to include 30 albums featuring 100 orchestral works from the 19th and 20th centuries, with music by composers such as César Guerra-Peixe, Alberto Nepomuceno, Cláudio Santoro, Edino Krieger, Antônio Carlo Gomes, José Siqueira, Lorenzo Fernandez, Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, and José Antônio Resende de Almeida Prado, and others. It will also include the songs and concertos of Villa-Lobos.

The inaugural recording, which was released in February, focused on the music of Alberto Nepomuceno, one of the first composers in his country to employ elements of folklore in his composition. Performed by the Minas Gerais Philharmonic Orchestra led by music director and principal conductor Fabio Mechetti the album features Nepomuceno's Prelude to O Garatuja; Série Brasileira; and his Symphony in G Minor.

The tradition of classical music was brought to Brazil by the Portuguese, and flourished, initially, closely linked to the Church, in the most important urban centers. It was the generation born in the second half of the nineteenth century (Leopoldo Miguéz, 1850-1902, Alberto Nepomuceno, 1864-1920 and Henrique Oswald and 1852-1931) who performed the first concerts in Brazil. The first half of the twentieth century brought a strong feeling that music with typical Brazilian language should be created, with characteristics that would distinguish it from the European. Since then, elements of African, indigenous, and popular urban culture have been increasingly used by Brazilian composers, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) being the best example.

Klaus Heymann, President and Founder of Naxos added: This new 30-album project, The Music of Brazil, introduces the general public to a wide range of often unknown composers and orchestral works. The project is a continuation of my longstanding interest in the classical music of Brazil. The Naxos catalogue already has more than one hundred albums featuring Brazilian music, including the award-winning "Complete Symphonies of Heitor Villa-Lobos" with the São Paulo Symphony Orchestra that were released between 2011 and 2017. It is with great pleasure that we announce this new Naxos project that continues our exploration of Brazil's great musical heritage.

Antônio Meneses, acclaimed Brazilian cellist and winner of the Tchaikovsky Competition, asserted: "The existence of this project brings me great joy, and I believe that it is of the utmost importance to spread Brazilian music all over the world." Arthur Nestrovski, Artistic Director of the São Paulo Symphony Orchestra, said that "we have always cultivated and promoted Brazilian music, presenting, recording and editing works by our composers, past and present. Now this project will become a reference for the Brazilian repertoire, which can be played worldwide from now on."


01/01/2019
Projeto Brasil em Concerto vai gravar cem obras brasileiras

Um projeto do Ministério das Relações Exteriores em parceria com a Orquestra Filarmônica de Goiás, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e a Academia Brasileira de Música vai promover a gravação e o lançamento de 30 CDs dedicados à música de compositores brasileiros. O primeiro álbum da série Brasil em Concerto será lançado em fevereiro, com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais interpretando obras de Alberto Nepomuceno sob regência de Fabio Mechetti. Até 2023, o selo Naxos vai disponibilizar a série completa de álbuns.

Ao todo, serão gravadas cerca de cem obras sinfônicas dos compositores Alberto Nepomuceno, Carlos Gomes, Henrique Oswald, Villa-Lobos, Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez, Camargo Guarnieri, Claudio Santoro, José Siqueira, Guerra-Peixe, Edino Krieger e Almeida Prado. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, “os discos trazem primeiras gravações mundiais ou primeiras gravações com qualidade técnica de nível internacional das obras escolhidas”. Simultaneamente aos lançamentos, serão editadas as respectivas partituras, muitas das quais inéditas até hoje. 

Entre os destaques, estão a gravação dos Choros de Camargo Guarnieri pela Osesp, com regência de Isaac Karabtchevsky, e a integral das sinfonias de Claudio Santoro pela Filarmônica de Goiás, comandada por Neil Thomson.

Na cerimônia de lançamento do projeto, realizada em novembro em Brasília, a Osesp, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e a Orquestra Filarmônica de Goiás receberam ainda a insígnia da Ordem do Rio Branco, conferida pela presidência da República e pelo Ministério das Relações Exteriores.


05/02/2019
CDs do projeto “Brasil em concerto” terão edição brasileira pelo Selo CLÁSSICOS

O Selo CLÁSSICOS, da Revista CONCERTO, lançará no Brasil os CDs do projeto Brasil em concerto. Com a fabricação no Brasil, os títulos, que têm distribuição internacional pelo selo Naxos, terão maior circulação e preço de comercialização significativamente menor do que se fossem importados.

Brasil em concerto é um projeto do Ministério das Relações Exteriores em parceria com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, a Orquestra Filarmônica de Goiás e a Academia Brasileira de Música, que vai promover a gravação e o lançamento de 30 CDs dedicados à música de compositores brasileiros. A previsão é de que o projeto seja completado até 2023.


27/02/2019
Entrevista com Gustavo de Sá 
Por João Marcos Coelho

O projeto Brasil em Concerto, que em cinco anos vai produzir 30 CDs com gravações de 100 obras sinfônicas de compositores brasileiros, representa um passo inédito e gigantesco rumo a uma reavaliação internacional do que representa historicamente a música brasileira. Foi gestado na passagem de 2016 para 2017 e “costurado” pelo conselheiro Gustavo de Sá, do Departamento de Difusão Cultural do Itaramaty. Envolve três orquestras – as filarmônicas de Minas Gerais e de Goiás e a Osesp –, a ABM (Academia Brasileira de Música) e o selo Naxos (no Brasil, os discos serão lançados pelo Selo CLÁSSICOS). Em dois anos, tornou-se realidade. O primeiro CD acaba de ser lançado: traz a Filarmônica de Minas Gerais interpretando  a Sinfonia em sol menor, o prelúdio de O Garatuja e a Série brasileira de Alberto Nepomuceno. Falei sobre o projeto na minha coluna de março na Revista CONCERTO. E, abaixo, reproduzo na íntegra a conversa com Gustavo de Sá, que conta a história incrível de um projeto grandioso como este e que custa aos cofres públicos apenas R$ 1 milhão. Com detalhes de excelência como o de todas as gravações contarem com um técnico excepcional, Ulrich Schneider.

Quando nasceu o projeto? Quanto tempo decorreu entre a primeira ideia e o lançamento do primeiro CD?
Gustavo de Sá
: O projeto foi das primeiras iniciativas da atual gestão do Departamento Cultural do Itamaraty, que assumiu as funções na virada de 2016 para 2017. Os primeiros contatos e esboços foram feitos já em janeiro de 2017 e o trabalho foi contínuo e intenso desde então. Ou seja, o primeiro CD está saindo do forno exatamente dois anos depois de começado o projeto.

Qual foi a maior dificuldade em colocar no mesmo projeto três orquestras, a ABM e o próprio Itamaraty?
Gustavo de Sá
: Por incrível que pareça, não houve rigorosamente nenhuma dificuldade na articulação entre as instituições. O projeto teve, desde o início, imenso apoio dentro do Itamaraty, em todos os níveis de comando, e nunca enfrentou qualquer obstáculo na instituição. As três orquestras e a ABM aceitaram imediatamente e com muito entusiasmo o convite para participar do projeto. O grande problema foi mesmo o absurdo labirinto burocrático para o estabelecimento das parcerias. A legislação vigente a respeito de convênios e parcerias é o maior entrave à realização de qualquer iniciativa dessa natureza. Se o Ministério e as orquestras não estivessem muito convencidos da necessidade desse projeto, não tenho dúvidas de que ele não teria acontecido. Pelo contrário, depois dessa experiência, hoje entendo melhor por que certas coisas nunca foram feitas antes.

Em termos de música sinfônica, sofremos de uma distorção enorme: Villa-Lobos está bem registrado, sobretudo após as gravações da Osesp, embora ainda estejam ausentes os cinco concertos para piano e orquestra. Em contrapartida, os demais compositores brasileiros historicamente foram desestimulados a escrever para orquestra, já que nunca (ou quase isso) teriam a chance de ouvi-las interpretadas por alguma orquestra brasileira em boas condições artísticas e técnicas. Conhecer o repertório dos 30 CDs com as obras e respectivas orquestras seria fundamental para avaliar com mais precisão o balanceamento de um projeto tão importante como este.
Gustavo de Sá
: Este é um ponto em que tenho que discordar de você. A produção sinfônica dos compositores brasileiros, pelo menos até os anos 60 ou 70, é imensa. Era uma época em que havia obrigatoriedade de execução de música brasileira pelas orquestras, onde havia uma orquestra praticamente dedicada à música brasileira (a Orquestra Sinfônica Nacional), que estreava quantidades absurdas de obras nacionais... Numa pesquisa rápida e com algumas imprecisões, os números assombram: o catálogo do Almeida Prado contabiliza 68 obras para orquestra, da orquestra de cordas à orquestra sinfônica com coro, solistas e sei eu o que mais; Santoro deixou mais de 50 obras, que é mais do que todos os números de opus de qualquer dos compositores da Segunda Escola de Viena; o catálogo do Mignone tem 128 obras para orquestra, das miniaturas às enormes, o que é um número maior do que a produção inteira em todos os gêneros da maioria dos compositores do século 20. Leonard Bernstein, hoje um queridinho das orquestras mundo afora, deixou umas vinte e poucas obras sinfônicas, mesmo tendo as grandes orquestras do mundo literalmente ao alcance da mão. Bartók não escreveu muito mais do que isso. Prokofiev e Shostakovich deixaram uns 130 números de opus ao todo. A qualidade das orquestras brasileiras nunca foi um problema para os compositores. A maior parte da música sinfônica brasileira está é submersa, porque nunca foi editada, porque as partes se perderam, ou estão num manuscrito que nenhuma orquestra se anima a enfrentar, ou mesmo porque o material existe, mas está inacessível. São inúmeros os obstáculos, e tudo isso contribui para fazer a música brasileira cair no esquecimento. Isso explica que tenha sido muito difícil fazer a seleção das obras. Muita coisa boa e importante ficou de fora neste primeiro momento, mas chegamos ao limite do possível, tanto em matéria de recursos quanto de capacidade instalada para levar o projeto adiante. A lista dessa primeira etapa está fechada no que diz respeito aos compositores, mas a relação exata das obras pode variar um pouco. Acredito que haverá pequenos ajustes aqui e ali, sobretudo porque, em vários casos, não se conhece a minutagem exata das obras, e pode ser preciso excluir ou acrescentar alguma coisa para organizar os CDs. 

Você poderia, então, adiantar a relação das gravações?
Gustavo de Sá
: A relação das gravações é a seguinte. A Filarmônica de Minas Gerais, além do Nepomuceno, grava Almeida Prado (três obras para piano e orquestra), Lorenzo Fernandez (as duas sinfonias e o Reisado do Pastoreio), Carlos Gomes (aberturas, prelúdios e trechos orquestrais de óperas) e Henrique Oswald (as duas sinfonias e a Elegia). A Filarmônica de Goiás registra Claudio Santoro (as 14 sinfonias, alguns concertos e diversas outras obras menores em tamanho, em um total de 7 CDs), Edino Krieger (uma seleção de obras orquestrais), José Siqueira (o oratório Candomblé e outras obras orquestrais ainda a definir) e Guerra-Peixe (as sinfonias, suítes sinfônicas e outras obras orquestrais). A Osesp ficou com Villa-Lobos (os concertos para piano e para violoncelo), Mignone (Fantasias brasileiras, concertos e concertinos); Camargo Guarnieri (o ciclo completo dos Choros para instrumentos solistas e orquestra) e Almeida Prado (Sinfonia dos Orixás, algumas outras obras sinfônicas e sinfônico-corais). 

Cronologicamente, qual foi a primeira – e a última – orquestra a aderir ao projeto?
Gustavo de Sá
: O projeto começou com as filarmônicas de Minas e Goiás. A Osesp aderiu assim que terminou o projeto das sinfonias de Villa-Lobos.

Qual a proporção de música de compositores vivos neste projeto? Pergunto, porque em geral um projeto desses pararia em Santoro (que, aleluia, finalmente deverá ter registros decentes de suas sinfonias).
Gustavo de Sá
: Como você vê, só temos Edino Krieger na lista. Esse foi um ponto delicado do projeto: incluir ou não os vivos? Não há dúvidas de que, sem eles, o projeto está incompleto. No entanto, duas coisas fundamentaram a nossa decisão de não incluir compositores vivos. A primeira é o tamanho do passivo a ser resgatado. Se pensarmos que obras básicas do repertório nacional como as aberturas de Carlos Gomes nunca tiveram uma gravação comercial de alto padrão no mercado internacional e que o maior conjunto de sinfonias de um compositor brasileiro, as de Claudio Santoro, não foi gravado nem pela metade (e que duas delas estão aguardando a estreia mundial até hoje, trinta anos depois da sua morte), fica claro por que demos prioridade aos compositores do passado. Nossa preocupação sempre foi a de mostrar uma escola brasileira de composição, justamente para mostrar que Villa-Lobos, sempre o centro de tudo, não foi um caso isolado, que houve muita coisa antes e muita coisa depois dele. E assim como vai faltar coisa antes dele (Miguez, Braga, Levy, o período colonial...), vai faltar coisa depois dele. O segundo ponto, claro, é que certamente cometeríamos injustiças graves. Não havendo, neste momento, condições de se gravar um volume expressivo de compositores vivos, de todas as tendências, as escolhas poderiam causar problemas sérios. Por que este e não aquele? Houve um consenso geral, porém, em se abrir exceção para o Edino, não apenas pela sua posição de decano dos compositores brasileiros, mas também pelo fato de ele ser o último representante do movimento Música Viva, que é uma etapa representada no projeto pelo Santoro e pelo Guerra-Peixe. Achamos necessário fechar esse capítulo antes de seguir adiante. Mas o ideal seria uma segunda etapa concentrada em compositores vivos, seguindo cronologicamente a partir de onde paramos.

Claro que é muito importante termos os CDs com as 100 obras gravadas – ferramenta de divulgação fortíssima sobretudo no mercado internacional. Mas um projeto desses, com a força do Itamaraty e da ABM, não deveria também induzir fortemente as orquestras brasileiras a tocarem estas obras, fornecer as partituras que deverão aparecer graças a bons trabalhos musicológicos – ou pelo menos ceder graciosamente as partes para as outras orquestras brasileiras, estimulando-as a tocarem estas obras? Sabe-se que o custo de aluguel das partes completas de uma obra sinfônica é em geral bastante alto. Vocês pensaram nisso?
Gustavo de Sá
: Aí já é um ponto que extrapola as competências do Itamaraty, porque se trata de promoção da cultura dentro do país. O custo do aluguel é alto, mas é também o que remunera os compositores – se eles quiserem liberar, é com eles, mas eu não tenho o direito de pedir. Para a difusão no exterior, que é a nossa atribuição, nós pensamos nisso, sim. Desde o final de 2017 temos um contrato com a ABM, pelo qual o Itamaraty paga o aluguel do material de obras sinfônicas integrantes do Banco de Partituras da Academia para estimular o uso por orquestras estrangeiras. O material solicitado chega às orquestras por intermédio das nossas embaixadas, e com o aluguel já pago no Brasil. No ano passado, o primeiro de funcionamento desse contrato, mandamos obras nesse sistema para uns dez ou quinze países, se não me engano. Nosso projeto foi concebido para difundir a música brasileira no exterior; para funcionar adequadamente, ele acaba tendo impacto considerável (e desejável) no Brasil, uma vez que as obras são resgatadas em edições brasileiras, as orquestras participantes tocam essas obras e as gravações estarão disponíveis para o público brasileiro ouvir. O passo seguinte dentro do Brasil, porém, precisaria de outro programa, com outras instituições parceiras.
 
Qual o custo total e o volume já investido para este importante pontapé inicial?
Gustavo de Sá
: O custo total do projeto está, no momento, estimado em R$ 700 mil. Certamente haverá alguns ajustes e algumas despesas acessórias, mas o investimento do Itamaraty será de menos de R$ 1 milhão no total até 2023. É nada, portanto. 

Quais os CDs a serem lançados este ano? E para 2020?
Gustavo de Sá
: Difícil saber, porque isso depende do cronograma de preparação das gravações e da estratégia de marketing da própria Naxos. Posso dizer quais são os planos de gravação para este ano: a Osesp grava o primeiro volume dos Choros, a Filarmônica de Minas Gerais grava os concertos do Almeida Prado e a Filarmônica de Goiás continua com as sinfonias do Santoro. O plano é lançar pelo menos um volume do Santoro este ano, em comemoração ao centenário, e mais algum título.

A Naxos entra com parte do investimento? Ou só entra (no bom sentido, claro) como “barriga de aluguel”, com todos os custos de produção e distribuição pagos? O Itamaraty entra nas mesmas condições em que funcionam outros projetos da gravadora com séries como a dos EUA?
Gustavo de Sá
: A Naxos participa nesse projeto com a produção e distribuição, que é um investimento e tanto e que é o que mais nos interessa. E nós com a gravação e masterização. Não houve qualquer condição diferente para nós. Pelo contrário, a receptividade da gravadora ao projeto foi enorme desde o início. 

Qual o custo médio total de cada CD?
Gustavo de Sá
: O investimento médio do Itamaraty é de R$ 50 mil por CD, variando caso a caso, com eventuais aportes complementares menores por parte das orquestras.

Gustavo de Sá [Divulgação]
Gustavo de Sá [Divulgação]

01/03/2019
Projeto "Brasil em Concerto", idealizado pelo Itamaraty, terá trinta CDs que recuperam compositores jogados em um limbo
Por João Marcos Coelho

Cem obras sinfônicas de compositores brasileiros em trinta CDs que resgatam, sobretudo, repertórios que saem do limbo em que elas foram jogadas por uma narrativa histórica da música brasileira que fez de Villa-Lobos o primeiro e único gênio da Terra, demiurgo cuja sombra recalcou tudo o que veio antes dele – e mesmo o que veio depois. Limbo, não. Algumas foram até gravadas no passado mais remoto, mas precariamente. Pode-se afirmar que, quando as gravações do projeto “Brasil em Concerto” estiverem circulando no Brasil e internacionalmente, porque os CDs serão produzidos pela Naxos, nossa compreensão da música brasileira orquestral terá se alterado de forma radical.

Um projeto desses, com a participação de três orquestras – as filarmônicas de Minas Gerais e Goiás e a Osesp –, envolvendo uma gravadora como a Naxos e inúmeras instituições, como o Departamento Cultural do Itamaraty e a Academia Brasileira de Música, normalmente levaria uma década para se transformar em realidade.

Pois – e é a hora de repetir, desta vez de modo realista e com os pés no chão – nunca antes neste país se viu uma coisa dessas. Decorreram apenas dois anos entre a ideia, nascida na virada de 2016 para 2017 com o conselheiro Gustavo de Sá, chefe da Divisão de Operações de Difusão Cultural do Itamaraty, e o primeiro CD, lançado no Brasil pelo selo CLÁSSICOS e no mercado internacional pela Naxos como parte da coleção The Music of Brazil. Nele, a excelente Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, sob regência de Fabio Mechetti, interpreta a Sinfonia em sol menor de Alberto Nepomuceno e outras de suas peças, como o prelúdio de O garatuja e a Série brasileira, que rendeu dois “hits” ao compositor cearense: o lindo movimento inicial, “Alvorada na serra”, construído sobre a canção folclórica Sapo cururu; e o “Batuque” final, com a primeira inclusão de reco-recos em música sinfônica brasileira. Leia mais sobre o CD na página 46.

Um autêntico milagre de eficiência e coordenação, que se deve creditar a Gustavo de Sá, não por acaso com sólida formação musical (é clarinetista, estudou composição na Universidade de Brasília e depois aperfeiçoou-se com a compositora Aviya Kopelman em Israel). “Paralelamente”, diz ele, “pesquisei muito o repertório brasileiro, o que foi a base para a montagem desse projeto”.

E o que descobriu em suas pesquisas é surpreendente: uma produção sinfônica “imensa”, mas “submersa”. Depois de dar como exemplo as 128 obras para orquestra de Francisco Mignone, das miniaturas às de grande porte, “volume maior que a produção inteira em todos os gêneros da maioria dos compositores do século XX”, Gustavo afirma com segurança que “a grande parte da música sinfônica brasileira está submersa, porque nunca foi editada, porque as partes se perderam ou se encontram em manuscritos que nenhuma orquestra se anima a enfrentar ou mesmo porque o material existe, mas está inacessível por motivos diversos. São inúmeros os obstáculos, e tudo isso contribui para fazer a música brasileira cair no esquecimento”.

Um voo rápido sobre o repertório: a Filarmônica de Minas Gerais grava Nepomuceno, Almeida Prado, Lorenzo Fernández (duas sinfonias), Carlos Gomes e Henrique Oswald (as duas sinfonias e Elegia). A Filarmônica de Goiás dedica sete CDs às 14 sinfonias de Claudio Santoro, incluindo concertos e obras menores; Edino Krieger; o oratório Candomblé e outras obras do esquecido José Siqueira em três CDs; e outros três CDs com obras de Guerra-Peixe. A Osesp grava os concertos para piano e violoncelo em três CDs de Villa-Lobos; as obras concertantes e Fantasias brasileiras para piano e orquestra, de Francisco Mignone em dois CDs; o ciclo completo dos Choros de Camargo Guarnieri em dois CDs; e a Sinfonia dos orixás e outras obras sinfônicas de Almeida Prado em dois CDs.

Ao saber do investimento do Itamaraty, sinto-me obrigado a repetir “nunca antes neste país”, porque “seu custo está, no momento, em R$ 700 mil”, revela Gustavo de Sá. “A Naxos participa da produção e da distribuição, um investimento e tanto e que é o que mais nos interessa. Não houve qualquer condição diferente para nós. O investimento médio do Itamaraty é de R$ 50 mil por CD, cobrindo gravação e masterização, o que varia caso a caso, com eventuais aportes complementares por parte das orquestras.”

São naturais “alguns ajustes e despesas acessórias”, mas, afirma Gustavo de Sá, “o investimento do Itamaraty será de menos de R$ 1 milhão no total, até 2023. É nada, portanto”. Concordo em gênero, número e grau. É nada mesmo quando se pensa no triplo impacto extraordinário que acarretará: para as orquestras envolvidas, para nosso público, que descobrirá maravilhas que lhe foram negadas até agora na vida musical brasileira; e internacionalmente, porque gravar essas obras significa restaurar e estabelecer edições críticas que permitirão a qualquer orquestra do planeta executá-las.

Perguntei a Gustavo qual foi a maior dificuldade para colocar num só projeto as orquestras, a Academia Brasileira de Música e o Itamaraty. Sua resposta: “O grande problema foi mesmo o absurdo labirinto burocrático para o estabelecimento das parcerias. A legislação vigente a respeito de convênios e parcerias é o maior entrave à realização de qualquer iniciativa dessa natureza. Se o ministério e as orquestras não estivessem muito convencidos da necessidade desse projeto, não tenho dúvidas de que não teria acontecido. Pelo contrário, depois dessa experiência, hoje entendo melhor por que certas coisas nunca foram feitas antes”.  

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