Quem pensa em George Bizet geralmente enxerga, em primeiro plano, a cigana sensual e o vermelho-paixão de sua última e mais famosa ópera, Carmen, estreada na Ópera-Comique de Paris em março de 1875, poucos meses antes de sua morte súbita, aos 36 anos. Doze anos antes, porém, subira ao palco em Paris uma criação sua de cores muito mais suaves, oposta em muitos pontos à abordagem musical e cênica de alta frequência cardíaca de Carmen: Os pescadores de pérolas, com libreto de Michael Carré e Eugène Cormon. A obra tem contornos difusos como um sonho e evoca a inconstância e o mistério do oceano – quase como as pinceladas avant-la-lettre de um Monet.
É essa obra com atmosfera quase impressionista que o Theatro Municipal do Rio de Janeiro apresenta nesse mês de julho, 20 anos depois da última montagem na cidade. São seis récitas, de 16 a 26, depois da prévia na festa de aniversário do Theatro carioca nesta segunda, dia 14 de julho. A montagem também homenageia Georges Bizet na passagem dos 150 anos de sua morte.
A nova produção de Pescadores vai ser regida por Luiz Fernando Malheiro e tem a assinatura cênica de Julianna Santos para contar a história dos pescadores amigos e apaixonados pela mesma mulher, uma sacerdotisa, passada no exótico Ceilão, ou Sri-Lanka, país insular de cultura indiana.
“É uma ópera pouco conhecida; eu mesma nunca tinha sequer assistido”, conta Julianna. “Bizet a compôs muito jovem, a obra recebeu críticas não muito entusiasmadas, acabou ficando à sombra de Carmen. A época também aplaudia óperas cômicas, agradáveis, e ele traz drama. Mas é uma música maravilhosa. A essência musical evoca sonho, memória, universos distantes; a mistura de passado, presente e futuro acaba resultando numa suspensão. Optei então por colocar em cena essa atmosfera onírica.”
A concretude, portanto, passa longe da concepção de Julianna, que optou por projeções de videomapping para recriar o mundo exótico à beira-mar. “É uma ópera que tem mais narrativa do que ação, digamos; evocações”, prossegue a diretora. “E trago alguma dessincronização proposital, que reforça esse efeito.”
O enredo gira em torno da paixão de dois amigos, Zurga e Nadir, por uma mulher proibida, Leila, sacerdotisa de Brahma, o deus da criação, e os dilemas que giram em torno das interdições, da paixão, da lealdade. Zurga será encarnado pelos barítonos Vinícius Atique e Homero Velho; Leila, pelas sopranos Ludmilla Bauerfeldt e Michelle Menezes; Nadir, por dois convidados à cena carioca, os tenores Carlos Ullán, argentino, e Caio Duran, brasileiro radicado na Espanha que faz sua estreia no Rio de Janeiro; e os baixos Murilo Neves e Leonardo Thieze como Nourabad, o Alto Sacerdote, além do coro de 60 vozes e 11 bailarinos da casa “E temos uma equipe bem feminina: Desirée Bastos nos cenários e figurinos e Angélica de Carvalho capitaneando os vídeos, num trabalho muito minucioso e lindo, com seis projetores e imagens especialmente produzidas.”
Veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO
![Cena da produção de 'Os pescadores de pérolas', de Bizet, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro [Divulgação/Daniel Ebendinger]](/sites/default/files/inline-images/w-pescadores.jpg)
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