Alba Bomfim: interlocução com a sociedade

por Redação CONCERTO 15/01/2024

Retrospectiva 2023: Alba Bomfim, maestra e professora de regência e práticas interpretativas da Universidade Federal do Piauí 

Em 2023, estive imersa nas diferentes frentes da música de concerto, seja no pódio ou por detrás dele. Os projetos os quais me engajei foram desafiadores e inspiradores. No início do ano fui convidada a reger a orquestra e ministrar aulas de regência no 44º Civebra (Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília).

Na universidade em que sou docente, foi o primeiro ano que tive experiência em uma classe inclusiva, com uma aluna deficiente visual. Quando as pessoas vêm em busca de conhecimento elas vêm sedentas, e temos que construir os instrumentos para orientá-las. Adaptei minha metodologia para essa nova vivência e os alunos se sensibilizaram e abraçaram a proposta. Foi um crescimento abissal.

Como maestra, tive a possibilidade de fazer música de vanguarda, o que me traz muita alegria. E, destaco as seguintes peças: Alá: O manto branco de Oxalá na Festa do Senhor do Bonfim, de Paulo Costa Lima; Em resposta à música que não se ouve escondida no arbusto, da Tatiana Catanzaro, sinfonia Terra Brasilis, de Edino Krieger, e a estreia do Concierto Austral para trompa e Orquestra de Câmara do compositor Rodrigo Munoz. Dar vida ao Concierto Austral foi uma das experiências mais excitantes que já tive enquanto regente, pois me trouxe a consciência da responsabilidade que é traduzir o desejo do compositor em uma linguagem tão inovadora e provocativa para o público.  

Por mais um ano, outro convite que muito me honrou foi fazer parte do corpo de jurados do Programa Prelúdio. Estar em um projeto deste porte me permite ver, ouvir e conhecer de perto a nova geração da música de concerto, que felizmente nos dias de hoje é plural, com uma cultura mais onívora e feita de jovens apaixonados por música e muito preparados. Sendo mulher, negra e maestra, contribuo para mudar alguns paradigmas. Ainda escuto: “ah, mas é a cota racial”. Que seja a cota! Que seja por ser mulher!

Ocupo o meu espaço para amadurecer e avançar em minha arte e ofício! Para 2024, estou gestando novas oportunidades e ampliando o meu olhar para esse universo tão diverso. E isso inclui um repertório que seja uma interlocução com a sociedade. Ele não deve ser só europeu, tem que ter música brasileira, latina, norte-americana, africana, indiana, entre outras. Outrossim, nós músicos negros devemos ser pensados para além da semana da consciência negra. Num balanço geral estou muito feliz com 2023, viajei e vi muitas coisas de perto. Foi um ano de portas abertas. Em 2024 espero mais portas abertas para que eu possa continuar a fazer o que mais amo, que é a música, e à frente de uma orquestra.  

[Clique aqui para ler outros depoimentos publicados na Retrospectiva 2023 da Revista CONCERTO.]

Alba Bomfim

 

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