Fundação Osesp e a Aposesp convocam uma reunião com músicos de cordas para esta quinta-feira, 10 de julho, às 12h, na Sala São Paulo, que será transmitida pelo YouTube
Uma proposta do governo brasileiro levada à Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Extinção) no último dia 27 de junho causou apreensão entre músicos de instrumentos de cordas em todo o país. O documento solicita a inclusão do pau-brasil no Anexo I da convenção, o que, caso aprovado na conferência da COP20, em novembro, no Uzbequistão, poderá restringir drasticamente a circulação internacional de arcos feitos com a madeira, inclusive os já fabricados e utilizados por músicos há décadas.
O pau-brasil é a matéria-prima mais valorizada na fabricação de arcos para instrumentos como violinos, violas, violoncelos e contrabaixos. Considerado insubstituível por músicos profissionais devido às suas propriedades acústicas únicas, o uso da madeira está em debate desde que a espécie foi incluída no Anexo II da Cites, em 2007. A proposta atual é mais rigorosa: ao mover a árvore para o Anexo I, qualquer comércio ou transporte internacional – incluindo arcos acabados – passará a exigir licenciamento especial. Na prática, isso afetará diretamente músicos em turnês, concursos, intercâmbios ou apresentações no exterior, que terão de obter autorizações específicas para viajar com seus instrumentos.
Segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo, o mercado internacional de arcos movimenta cerca de US$ 39 milhões por ano, com 2,6 milhões de peças produzidas – 95% delas na China, muitas com madeira brasileira. Já os archeteiros nacionais enfrentam sérias dificuldades para operar dentro da legalidade. Mesmo com importantes iniciativas de reflorestamento no Espírito Santo, onde mais de meio milhão de mudas foram plantadas desde 2006, o uso dessa madeira cultivada segue cercado de obstáculos legais. Pesquisadores do Incaper, da Universidade Federal do Espírito Santo e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro acabam de iniciar uma nova fase de testes com árvores reflorestadas, após longa espera por licenciamento ambiental. A expectativa é comprovar a viabilidade técnica e comercial do uso da madeira cultivada para a fabricação de arcos.
Daniel Neves, presidente da Anafima (Associação Nacional da Indústria da Música), entidade que representa archeteiros, luthiers e fabricantes de instrumentos, tem defendido uma posição de equilíbrio. “A música clássica depende dessa madeira. Substituí-la comprometeria séculos de tradição sonora. O Brasil tem a oportunidade de liderar hoje um modelo de sustentabilidade que concilia conservação ambiental e desenvolvimento. Há mais de 500 mil árvores replantadas que podem ajudar o país a retomar seu espaço nesse mercado”, afirma Neves.
A proposta apoiada pela Anafima e por mais de 50 instituições ligadas ao setor musical, expressa na chamada “Carta de Vitória”, defende que o pau-brasil nativo continue sob a proteção do Anexo I, mas que a madeira reflorestada permaneça no Anexo II, permitindo seu uso legal e controlado. Segundo Neves, “a regulamentação deve proteger, sim, a floresta – mas também quem planta e produz legalmente”.
A Fundação Osesp e a Aposesp (Associação dos Professores da Osesp) convocam uma reunião de urgência com músicos de cordas para esta quinta-feira, 10 de julho, às 12h, na Sala São Paulo, com o objetivo de discutir as consequências da proposta e organizar uma mobilização coletiva. Participarão especialistas como Leandro Magalhães da Silva e Souza (Divisão de Biodiversidade - Secretaria de Clima, Meio Ambiente e Energia do Ministério das Relações Exteriores), Claudia M. C. de Mello (Analista ambiental - Ibama), Daniel Neves (Presidente da Anafima) e Daniel Piotto (Engenheiro Florestal, Pesquisador e Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia). “O impacto no cenário da música clássica é incontrolável e potencialmente prejudicial à imagem dos músicos brasileiros no mercado internacional”, afirmam os organizadores da reunião, que será transmitida pelo YouTube (clique aqui para acessar).

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.