Jonathan Fournel: "Brahms tem um lugar muito importante em meu coração"

Vencedor, no ano passado, do prestigioso Concurso Rainha Elisabeth, na Bélgica, o pianista francês Jonathan Fournel, de 29 anos, começa nesta semana uma turnê brasileira. No domingo, dia 6, na Sala São Paulo, com a Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, regida por Fabio Mechetti, ele toca o Concerto nº 1, de Brahms – mesma peça que apresenta dia 10, em Manaus, com a Amazonas Filarmônica, sob a batuta de Marcelo de Jesus. Dia 14, em Curitiba, no Auditório Regina Casillo, há um recital solo, com Mozart (Sonata nº 14 KV 457 em dó menor), César Franck (Prelúdio, fuga e variação), Szymanowski (Variações em si menor, Op. 3) e Brahms (Sonata em dó maior nº 1 Op. 1). Por fim, dias 17 e 18, em Belo Horizonte, na Sala Minas Gerais, com a Filarmônica de Minas Gerais, dirigida por Marcelo Lehninger, é a vez do Concerto nº 2, de Chopin.

Nascido em 1999, Fournel, além do Rainha Elisabeth, venceu concursos como o Gian Battista Viotti e o Concurso Internacional de Piano da Escócia. Ele falou à Revista CONCERTO por e-mail.

Você começou a estudar o piano muito jovem. Você pensou em não seguir carreira musical?
Tive outros sonhos de profissão, como muitas outras crianças, quando era mais novo. Comecei o estudo do piano quando tinha sete anos e, nessa idade, os desejos eram múltiplos, como bombeiro, policial, agricultor, vulcanólogo, arqueólogo… mas, a certa idade, a escolha foi feita, e o piano virou muito importante para mim. Houve talvez momentos de dúvida, mas a música é muito preciosa a meus olhos.

Existe uma escola de piano francesa? Você crê fazer parte dela?
Existe uma escola de piano francesa assimilada a Marguerite Long, não creio fazer parte dela, tendo feito uma boa parte de meus estudos fora da Franca, e/ou com professores que eram descendentes de Neuhaus ou Cortot (Brigitte Engerer, Avo Kouyoumdjian, Gisèle Magnan…). Contudo, sendo francês, e tendo estudado, seja como for, sete anos no Conservatório Nacional Superior de Paris, sou muito feliz por fazer parte desta geração de músicos franceses, eu diria mesmo que é uma honra.

Qual é a importância de ganhar um concurso como o Rainha Elisabeth?
Um concurso como este muda a vida, de um dia para o outro a vida se altera bruscamente. O fato de participar de um evento desses já é um momento único, mas poder obter um dos três primeiros prêmios nos faz emergir no mundo musical e nos ajuda a criar uma carreira.

O que há de melhor que fazer música junto, em grupo, e compartilhar esse momento, contando uma história comum?

Você igualmente venceu concursos importantes como Glasgow e Viotti. Existe um segredo para ganhar concursos assim? Você gosta de tocar em concursos?
Não há segredos, a preparação é a chave do sucesso em um concurso, a escolha do programa e o desenrolar de cada prova é muito importante. Escolhi tocar unicamente as peças que estava seguro de realizar melhor depois de tê-las tocado numerosas vezes em concertos, pois a pressão é tal que tocar aquilo que você conhece melhor é primordial. Não posso dizer que seja um grande fã de concursos, as preparações são muito intensas, o estresse chega ao paroxismo, e o espírito de tocar música para compartilhar um momento musical com um público é difícil de admitir nesse momento. A decisão de participar foi difícil de tomar, mas pode ser que, em um canto da minha cabeça, um espírito louco tenha me impulsionado a fazê-lo, pois uma parte de mim tinha vontade.

Em nosso país, você dará recitais solo e concertos com orquestra. Essas experiências são muito diferentes para você? Você tem uma preferência?
As experiências são diferentes, e desejo dizer que as preferências vão junto com o momento. Creio que os recitais demandam mais energia, pois estamos sozinhos diante de um público, e contamos uma história sozinhos. Em contraste, acho os concertos e a música de câmara mais divertidos e mais empolgantes; o que há de melhor que fazer música junto, em grupo, e compartilhar esse momento único todos juntos, contando uma história comum?

Como você escolheu o repertório do recital solo que tocará aqui?
Tendo tocado o primeiro movimento da Sonata em dó menor, de Mozart, na primeira prova do concurso, senti que havia algo de inacabado que eu tinha que terminar. Tentei construir o resto do programa em volta do que eu gostava, tentando encontrar uma conexão entre cada uma das peças. Este programa desenvolve-se ao mesmo tempo em volta das variações, e do frescor e da juventude. Não se nota à primeira vista, mas há variações em todas as peças, em um espírito muito diferente. Franck está lá para nos reunir, graças a este Prelúdio, fuga e variação, como uma lembrança, talvez mesmo arrependimento, mas uma certa ligação que, fazendo um desvio por Bach graças à fuga, leva Mozart na direção de Szymanowski, e não nos deixa indiferentes por sua honestidade. O único a desenvolver as variações é o jovem Szymanowski, que ainda não é o Szymanowski que se conhece, pois se trata aqui de um jovem compositor que ainda está em busca, à maneira de um Scriábin, inspirado por Chopin, Rachmáninov e Anton Rubinstein. Dá para ouvir que eles passaram por ali, mas Szymanowski já se identifica estilisticamente. Para terminar o programa, Brahms não podia estar muito longe, tendo uma afinidade particular com ele e sua música, e por que não a primeira obra editada? Dó maior culmina, já que o programa começou de maneira trágica com Mozart e seu dó menor. Essa Sonata opus 1 cheia de arrebatamento, de energia inesgotável, como uma abertura a tudo que ele vai escrever mais tarde, o modo orquestral das sinfonias já está lá e, sobretudo, essa homenagem a Bach, graças ao coral misturado à variação no segundo movimento, que nos lembra de onde ele vem. Brahms não se esquece contudo da dança e da paixão, que se mesclam antes de se arrebatarem completamente no quarto movimento. Brahms tem um lugar muito importante em meu coração, eu já tinha vontade de tocar essa Sonata opus 1 há muito tempo, e isso é enfim realidade.

Diga-nos algo sobre os concertos de Chopin e Brahms que você interpretará aqui.
Dois concertos bem distantes um do outro, Chopin se aproxima muito mais da música de câmara, e Brahms, de uma sinfonia com piano obbligato. Tenho muito prazer em tocar o Concerto nº 2 de Chopin, que me seguiu há muito tempo e que, com seu frescor, contrasta bastante com o primeiro concerto de Brahms, que tocarei pela primeira vez no Brasil. Confesso que estou muito impaciente por ver o que se sente no palco quando a primeira nota da orquestra é lançada.

Quais são seus principais planos para o futuro?
Projetos de gravação solo, em duo com o violinista Kerson Leong, mas também com orquestra, dois concertos de Mozart com a Orquestra do Mozarteum de Salzburgo. Alegro-me antecipadamente por ver estes projetos se realizarem. Além disso, nos anos que vêm, há ainda muitas obras que eu gostaria de trabalhar e tocar, de tal forma que nem sei por quais começar…

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O pianista francês Jonathan Fournel [Divulgação/Robin Ducancel]
O pianista francês Jonathan Fournel [Divulgação/Robin Ducancel]

 

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