Seleção de agosto de 2021

por Redação CONCERTO 01/08/2021

BRAHMS: SONATAS OP. 120
Nachtigall – Two Songs for Contralto with Viola Obbligato – Wiegenlied
Antoine Tamestit – viola
Cédric Tiberghien – piano
Matthias Goerne – barítono
Lançamento Harmonia Mundi. Importado. R$ 152,80
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[Reprodução capa]
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O disco chama atenção logo de cara pelos artistas envolvidos. Antoine Tamestit, Cédric Tiberghien e Matthias Goerne são grandes nomes da música internacional, com uma intensa atividade camerística. Mas é mais que isso: a presença de um violista, um pianista e um barítono sugere uma escolha de repertório pouco usual para um álbum, unindo formações distintas – e, assim, diferentes olhares para um mesmo compositor. Tamestit toca com Tiberghien, na viola, as Sonatas para clarinete nº 1 e nº 2 op. 120. São obras marcantes na trajetória de Brahms. A audição se torna especialmente interessante com a substituição do clarinete pela viola. Mas também pelo diálogo possível com as Duas canções para contralto com viola obbligato, em que Matthias Goerne entra em cena com seu timbre rico, cheio, atento às palavras e a sua combinação com a música. São todas peças em que um lirismo maduro se impõe, exigindo dos intérpretes sensibilidade e contenção, para jamais cair no exagero. E Tamestit, Tiberghien e Goerne mostram-se à altura do desafio.


HISTORY OF THE RUSSIAN PIANO TRIO V. 5
The Brahms Trio
Lançamento Naxos. Importado. R$ 72,30
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Quando embarcou no projeto de gravação de trios com piano de compositores russo, o Brahms Trio – formado por vencedores do Concurso Tchaikovsky, um dos mais disputados do mundo – propunha--se a resgatar compositores e obras pouco conhecidos. Fez, no entanto, mais que isso. Nos quatro primeiros volumes da série, revelou diferentes facetas da cultura do país, em um diálogo entre artistas e as épocas em que viveram. O último volume fecha com maestria a série. O trio interpreta peças de Vladimir Dyck, Constantin von Sternberg e Sergey Youferov, compositores pouco tocados mas entre os quais há elementos em comum. Foram pianistas de sucesso e viveram na chamada Era de Prata, entre 1890 e 1930, período marcado pelo florescimento das artes na Rússia em diferentes áreas. Cada um deles, porém, cria um universo musical bastante próprio. O Trio op. 25 de Dyck, por exemplo, mantém relação com a música que escreveu para cinema. Já a peça de Sternberg é marcada pelo virtuosismo, enquanto Youferov dá a seu Trio um caráter quase melancólico, que já foi lido como referência ao fim da Rússia tsarista com a Revolução de 1917. 


BEYOND THE LIMITS
Carl Philipp Emanuel Bach: Complete String Symphonies
Gli Incogniti
Amandine Beyer – regente
Lançamento Harmonia Mundi. Importado. R$ 152,80
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Professora da Schola Cantorum Basiliensis, um dos mais importantes centros de formação e interpretação da música antiga, a violinista e regente Amandine Beyer construiu sua carreira com performances elogiadas pelo conhecimento histórico e pelo senso de estilo. E essas são qualidades fundamentais para realizar a proposta do novo disco gravado por ela com seu conjunto, Gli Incogniti, também especializado no repertório dos séculos XVII e XVIII. Isso porque gravar as sinfonias para instrumentos de cordas de Carl Philipp Emanuel Bach significa colocar-se em um momento de transição dentro da história da música. As obras, afinal, sintetizam a experiência do classicismo ao mesmo tempo que abrem caminho para uma nova sensibilidade que, com Schubert e Beethoven, nos leva em direção ao romantismo. É daí que vem o título do álbum: ir além dos limites, ou seja, relativizar o pensamento convencional sobre o classicismo e o romantismo e abordar um compositor que, de forma fascinante, coloca-nos em contato com uma maneira muito pessoal de sentir sua época.


TOMÁS LUIS DE VICTORIA: PASSION
Officium Hebdomadae Sanctae
Hespèrion XXI
Capella Reial de Catalunya
Jordi Savall
– maestro
Lançamento Alia Vox. Importado. Caixa com 3 CDs. R$ 361,10
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Na música do século XVI, impõem--se os nomes de três compositores marcantes: Giovanni Palestrina, Orlando di Lasso e Tomás Luis de Victoria. Este último, nascido na Espanha, tem recebido um olhar cada vez mais atento pelos conjuntos de música antiga. E a riqueza de sua música fica evidente no novo trabalho do maestro Jordi Savall, à frente do Hespèrion XXI e da Capella Reial de Catalunya, grupos com os quais ele tornou-se referência absoluta na leitura desse repertório. No álbum, são interpretadas as peças que integram o Officium Hebdomadae Sanctae e narram a Paixão de Cristo. Victoria as escreveu durante período que viveu em Roma, em 1585. E elas se destacam pelo modo como cada momento da Paixão recebe caracterização musical distinta, à qual os músicos comandados por Savall dão atenção especial. Não por acaso. Foram dez anos de pesquisas antes que os artistas subissem ao palco. Um trabalho que, assim, oferece tanto o rigor do levantamento histórico quanto à energia de leituras que nos revelam as peças de maneira original e repleta de frescor.


MOZART: SONATAS FOR FORTEPIANO & VIOLIN V. 3
Isabelle Faust – violino
Alexander Melnikov – pianoforte
Lançamento Harmonia Mundi. Importado. R$ 152,80
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Isabelle Faust e Alexander Melnikov são parceiros de longa data. Já gravaram juntos discos dedicados a autores bastante diferentes, como Beethoven e Debussy, e em todos os álbuns revelam a afinidade musical importante na música de câmara. Nos últimos anos, levaram a parceria a outras paragens, com a gravação das sonatas para violino e piano de Mozart. Os resultados são empolgantes. Melnikov optou por utilizar um instrumento construído nos moldes de um piano-forte de 1795; Faust, por sua vez, toca em um Stradivarius de 1704. A leitura de época, ou a busca de uma sonoridade mais próxima do momento em que as peças foram escritas, é por si só um atrativo. Mas é ainda mais impressionante a riqueza de timbres e coloridos que eles extraem das sonatas K 302, K 377, K 379 e K 454. São todas peças da maturidade de Mozart, marcadas pelo modo como estabelece um diálogo rico entre os instrumentos, “verdadeiros milagres dentro da produção do compositor”, como afirmou certa vez o crítico musical Alfred Einstein. Poucas vezes pode-se comentar, como aqui, da capacidade de que os intérpretes têm de revelar novos aspectos de obras conhecidas do repertório. Há um sentido de urgência, quase operístico, que não esmorece em nenhum instante – mais um testemunho da sensibilidade e inteligência musical de dois artistas especiais. Disponíveis ainda os dois volumes anteriores. 


TIME LAPSE
Duo Clavis
Lançamento Tratore. Nacional. R$ 41,40
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O Duo Clavis nasceu em 2011. Foi quando o percussionista Marcello Casagrande e o pianista Mateus Gonsales, paranaenses, passaram a se apresentar juntos, com uma proposta estética bastante clara. O objetivo era mergulhar no repertório contemporâneo em suas múltiplas facetas, às quais os artistas ofereceram uma riqueza de timbres e coloridos e, em especial, a ousadia possibilitada pela improvisação. Ela se transformou em marca da atividade do duo e abriu caminho para a exploração de um trabalho cada vez mais autoral e original. E a soma de todos esses fatores está presente neste novo disco. Nele, os músicos interpretam autores como Hermeto Pascoal e Brad Mehldau. O jornalista Ranulfo Pedreiro afirma: “Há uma boa dose de risco em cada improviso, mas essa ousadia em sair do conforto faz com que o duo cresça com o tempo, alcançando um nível de expressão cada vez mais profundo. […] Como os harmônicos que ecoam após a emissão do som, o Duo Clavis transcende a melodia para encontrar sua própria essência”, completa. 


CD DIGITAL
SATIE FOR LOVERS
André Balbino – piano
Lançamento Ser Tao. Disponível apenas em streaming

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Erik Satie é um nome-chave da composição na passagem do século XIX para o século XX. Aos excessos do romantismo, contrapôs uma música feita de pequenas formas, criando uma obra que ainda hoje oferece a possibilidade de muitas releituras. Fascinado pelo compositor, o pianista, arranjador e produtor musical André Balbino tem-se dedicado a elas com afinco. E um novo capítulo dessa relação está neste registro, no qual combina a música do autor francês com o jazz de Miles Davis. O resultado é hipnótico, sinuoso, mantendo o espírito do original a partir de um novo olhar, abraçado pelos colegas músicos Richard Firmino (trompete), Paulo Bira (contrabaixo) e Bruno Iasi (bateria). Estão presentes obras célebres, como a Gymnopédie nº 1, as Gnossiennes nº 1, nº 2 e nº 3, Trois morceux en forme de poire ou Croquis et agaceries d’un gros bonhomme en boi. Todas elas revistas à luz do jazz, mas mantendo contato próximo com a inventividade do original.  


CD DIGITAL
BRAZILIAN MUSIC FOR OBOÉ & CELLO
Alexandre Ficarelli – oboé
Raïff Dantas Barreto – violoncelo
Lançamento Azul Music. Disponível apenas em streaming

[Reprodução capa]
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Alexandre Ficarelli e Raïff Dantas Barreto estão entre os principais músicos brasileiros da atualidade, são colegas na Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, têm na música de câmara um de seus focos e fazem da pesquisa e da interpretação da música brasileira uma missão. Se isso não fosse suficiente para resultar em uma combinação de sucesso, poderíamos acrescentar o modo atento e generoso como dialogam sobre o palco, o que torna esta gravação um registro precioso. Basta ouvir Duo de José Vieira Brandão, Frevo oboecélico, de Edmundo Villani-Côrtes, Seresta nº 18, de Liduino Pitombeira, ou Divertimento para oboé e violoncelo, de Guerra Vicente, nas quais os músicos atuam em conjunto para entender a intensa afinidade musical que os une. São todas obras que evocam a música brasileira, cada uma à própria maneira. E o álbum traz ainda peças solo para os dois instrumentos.