Harry Crowl participa de obra internacional sobre a pandemia

por Nelson Rubens Kunze 16/07/2020

O compositor brasileiro Harry Crowl, professor aposentado da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e diretor artístico da Orquestra Filarmônica da UFPR, participará de um projeto internacional para a composição de uma obra sobre a pandemia do Coronavírus, uma ideia de Philipp Amelung, diretor musical de Universidade de Tübingen. Crowl é um dos seis compositores convidados de diversas regiões do mundo – além dele, participam Lok Yin Tang de Hong Kong, Randal Svane dos Estados Unidos, Markus Höring da Alemanha, Noel Antoine Sima Ndong da África e o australiano Brenton Broadstock.

A partir da palavra “corona”, Philipp Amelung criou um tema de 6 notas, que deve servir de mote para todos os compositores. As seis partes serão apresentadas sequencialmente sem interrupção, formando uma só obra, intitulada Shadow and Hope (Sombra e esperança). A criação deverá ser estreada em 15 de novembro, dentro do 21º Ciclo de Música de Icking, na Alemanha.

Leia abaixo entrevista com o compositor Harry Crowl sobre a encomenda:

Como se deu o convite para a encomenda?
Fui surpreendido, em abril, com uma mensagem do regente alemão Philipp Amelung, o qual não conhecia, com um convite para participar de um projeto internacional em torno da pandemia. Ele se inspirara no grandioso projeto do "Réquiem da Reconciliação", concebido por Helmut Hilling, nos anos 90, que reuniu alguns dos mais importantes nomes da música de concerto dos países beligerantes. Achei o projeto muito interessante e oportuno.

Cada obra deverá ser escrita no idioma do país do compositor. Que textos você usará?
Exatamente, cada compositor convidado usará o seu idioma. Estou usando frases isoladas que escolhi na internet e na imprensa. Algumas do próprio Bolsonaro desacreditando a pandemia. No final, uso um poema da Laura da Fonseca e Silva Brandão (1891-1942), intitulado “Céu”, de 1916, que faz referência indireta ao momento da morte longe dos seus. Ela viria a falecer nessa condição, na cidade de Ufá, nos Montes Urais, durante a Segunda Guerra Mundial, para onde tinha sido evacuada pelas forças soviéticas, já com uma avançada tuberculose.

Você já sabe como será a estrutura da obra?
Estou escrevendo um quarteto de cordas com coro. Como todos os outros compositores estão focados na ideia de fazer uma cantata para, juntas, formarem uma cantata maior, pedi para escrever o meu Quarteto de cordas nº 3 com coro, "Corona", pensando na ideia de Schönberg, que escreveu o seu grande Quarteto nº 2 com solo de soprano. No meu quarteto, porém, o coro faz intervenções no sentido de apaziguar o drama colocado pelos instrumentos. Mas, a realidade dos fatos avança inexoravelmente. com o quarteto se tornando cada vez mais incisivo e agressivo. 
A minha obra estará no meio da cantata e funcionará como um interlúdio. O elo entre as composições é um motivo melódico sugerido pelo Philipp Amelung, regente e autor do projeto, que faz a correspondência da palavra corona através da nomenclatura alemã das notas musicais e algumas simbologias musicais, como o uso do trítono, por exemplo. Este "Leitmotiv" estará presente em todas as obras.

Leia mais
Texto
 ‘Estamos ansiosos para voltar’, por Luciana Medeiros
Notícia Festival de Inverno de Campos do Jordão é remarcado para janeiro de 2021
Notícia Filarmônica de Indaiatuba reúne maestros para falar de Beethovem

Compositor Harry Crowl
Compositor Harry Crowl [Divulgação / Sandro Luis Fernandes]

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.