A 14ª edição do Festival Artes Vertentes será realizada até o dia 21 de setembro em Tiradentes, São João del-Rei e Bichinho (MG). O festival, que tem direção de Gustavo Carvalho e Maria Vragova, celebra os 150 anos de Maurice Ravel com uma série de interpretações de sua obra vocal e camerística, em diálogo com influências coloniais e afro-americanas.
“É marcante a influência que ritmos e timbres não europeus tiveram na música dele”, avalia Gustavo. “Ela registra o impacto da chegada do jazz a Paris na década de 1920 e dialoga com o cubano Ernesto Lecuona e o norte-americano George Gershwin.”
O evento tem também a estreia mundial de O boi voador, de André Mehmari, peça para piano a quatro mãos, que responde, do século XXI, à célebre Le Boeuf sur le toit, de Darius Milhaud.
O festival homenageia ainda o compositor francês Fernand Jouteux, que viveu em Tiradentes no início do século XX. Uma seleção de suas obras camerísticas será interpretada pela Orquestra e Banda Ramalho, formação tradicional da cidade, e por músicos convidados. Jouteux, nome hoje desconhecido, foi aluno de Jules Massenet e diretor do Conservatório de Oran, na Argélia. Além de ouvir sua música, o público confere uma exposição com cartas, manuscritos, objetos pessoais do compositor e registros fotográficos da encenação de sua ópera Canudos, levada ao palco em Belo Horizonte na década de 1950.
Entre os destaques da programação estão recitais da soprano Eliane Coelho e do barítono Michel de Souza, que cantam obras de Ravel, Debussy, Poulenc, Erik Satie e Villa-Lobos, entre outros; o programa Atlântico em contraponto: do lundu ao solilóquio; e as presenças da flautista Cássia Lima, da violinista Sofia Leandro; do violoncelista Gillaume Martigné; e do pianista Cristian Budu.
“O que motiva os convites é trazer artistas que têm esse desejo de conviver com outras linguagens. Isso faz com que Tiradentes se transforme numa plataforma de encontros”, afirma Gustavo. “Tentamos trazer fluidez e desconstruir fronteiras, que de certa maneira são o que leva a tanta falta de tolerância na sociedade contemporânea.”
Maria Vragova aponta que levar a música clássica a novos espaços também colabora para essa diluição de fronteiras. “Desde o ano passado, construímos um pequeno palco ao lado do Museu de Santana e, além de shows, tivemos música de câmara. Foi muito boa a experiência, saímos da igreja pela primeira vez e nos deparamos com outro público: pessoas da cidade que nunca tinham estado nos concertos."
![Os pianistas Luiz Gustavo Carvalho e Cristian Budu durante concerto em Tiradentes [Divulgação]](/sites/default/files/inline-images/w_carvalho_budu_av_concerto.jpg)
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