Festival Internacional de Piano do Rio promove recitais de grandes vencedores de concursos

por Luciana Medeiros 06/11/2025

Três vencedores de grandes concursos internacionais de piano estarão na Sala Cecilia Meireles, no Rio de Janeiro, entre os dias 9 e 16 de novembro, para o Festival Internacional de Piano. São eles a canadense Élizabeth Pion, a chinesa Xiaohui Yang e o brasileiro Estefan Iatcekiw. 

O festival 2025 celebra os 16 anos do primeiro evento da série idealizada e dirigida pela pianista Lilian Barretto, à frente do Instituto Arte Plena. “Em 2009 tivemos o primeiro Concurso Internacional BNDES de Piano do Rio, que retomava uma tradição ausente há 50 anos”, conta ela. “Nesses 16 anos, promovemos concursos que revelaram nomes que hoje fazem enorme sucesso, como o brasileiro Fábio Martino e o russo Dmitry Shishkin, que logo após o nosso festival foi premiado no Chopin e no Tchaikovsky e é um dos pianistas jovens mais renomados.” 

Outros artistas que foram finalistas no Rio e hoje estão nos palcos mais importantes são a ucraniana Dinara Clinton e o italiano Gabriele Strata, vencedor de 2023. Também Élisabeth Pion, que abre o festival no dia 9. “Ela arrebatou todos os prêmios agora em outubro no Honens International Piano Competition, um dos concursos mais importantes do mundo”, destaca Lilian.

O concurso internacional se alternou com festivais em que jovens pianistas faziam turnês e atividades de formação promovidas pelo instituto – inclusive a concessão de bolsas de estudo para o exterior. É o caso desta edição, que tem como tema inspirador O Feminino no Piano. “Sempre tivemos foco em mulheres compositoras, pianistas e regentes”, continua Lilian. “Essa pauta sempre me interessou muito, desde 1984, quando promovi a série Mulheres na Música na Casa de Rui Barbosa, aqui no Rio. E, apesar da atenção dada às questões de gênero atualmente, a situação das mulheres no mundo pianístico piorou bastante, e no mundo todo.”

Gustav Alink, criador do site AAF (Alink-Argerich Foundation, sediada na Holanda), que monitora mais de 300 concursos internacionais de piano pelo mundo, confirma a impressão: “É muito claro que a proporção entre homens e mulheres mudou nos concursos mais importantes, e não a favor das moças, em especial no Van Cliburn e no Tchaikovsky”. Lilian completa: “Isso se repete em muitos concursos. Hoje eu diria que as mulheres são 10% dos concorrentes e dos jurados, e suas obras talvez 1% entre os repertórios. O Brasil, que já produziu pianistas como Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Antonietta Rudge, Anna Stella Chic, Cristina Ortiz, Linda Bustani e tantas outras, hoje conta nos dedos as moças de destaque nas teclas”.

Os programas de 9 e 16 de novembro estão fortemente dedicados às mulheres na música. No domingo, 9, Pion toca peças da polonesa Grazyna Bacewicz, da russa Sofia Gubaidulina e de sua própria autoria, na primeira parte. A segunda parte traz a Abertura para orquestra nº 1 op. 23 em mi menor, de Louise Farrenc, sob a batuta da maestra francesa Nathalie Marin, e o Concerto para piano e orquestra op. 7 em lá menor, de Clara Schumann.

No dia 16, a chinesa Xiaohui Yang interpreta Das Jahr (O Ano), de Fanny Mendelssohn-Hensel, Ballade, de Shulamit Ran (a primeira mulher compositora a receber um Prêmio Pulitzer da Música) e Ballade nº 1 em sol menor, op. 23, de Chopin; na segunda parte, a Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem, sob a regência da maestra Priscila Bomfim, apresenta Eu-Mulher, da brasileira Juliana Ripke, inspirada no poema homônimo de Conceição Evaristo. Ainda nessa noite, a OSB Jovem acompanha Xiaohui no Concerto para piano e orquestra nº 1 em sol menor, op. 25 de Felix Mendelssohn.

Entre os dois concertos, o Rio de Janeiro verá o recital do jovem curitibano Estefan Iatcekiw, uma das maiores promessas da música de concerto na nova geração. Ele toca obras de  Chopin e Rachmaninov: Sonata nº 3 em si menor op. 58 e Barcarolle em fá sustenido Maior op. 60, do polonês, e a Sonata nº 2 op. 36, do russo, na versão original de 1913. Estefan veio de vitórias impressionantes em concursos europeus esse ano: o de Vigo, na Espanha, e de música russa para piano de Sanremo, na Itália. 

E o Concurso, vai voltar? “Em 2026, entre 25 de abril e 2 de maio, com patrocínio das Transmissoras Paranaíba e Teles Pires e do Itaú, que viabilizam o festival”, revela Lilian. “Concursos são vitrines importantíssimas. Nem sempre são competições, digamos objetivas, são estressantes, mas são uma ferramenta essencial para as carreiras e também para formação de público. Cada prova do Chopin é vista ao vivo, online, por 50 mil pessoas, e tem mais de um milhão de visualizações”, Sem falar no fato de que nem sempre são os vencedores que mais se destacam. Esse ano, um georgiano de 24 anos, David Khrikuli, foi aclamado, tido como injustiçado e está repleto de convites para tocar.” 

A pianista Élisabeth Pion abre a programação no dia 9 [Divulgação/René de Carufel]
A pianista Élisabeth Pion abre a programação no dia 9 [Divulgação/René de Carufel]

 

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