Morre aos 96 anos a flautista e professora Odette Ernest Dias

por Redação CONCERTO 24/12/2025

Morreu na madrugada desta quarta-feira, 24, a flautista Odette Ernest Dias, aos 96 anos.

Nascida na França, ela se formou no Conservatório de Paris, onde obteve o primeiro prêmio em flauta e estética, em 1951. Em seguida, venceu o Concurso Internacional de Genebra e, em 1952, mudou-se para o Brasil a convite do maestro Eleazar de Carvalho, para integrar a Orquestra Sinfônica Brasileira.

Em depoimento de 2002, na Série Trajetórias da Academia Brasileira de Música, ela lembrou do início de sua trajetória e do convite para se mudar para o Brasil.

“Um dia (após a vitória no concurso), recebi uma carta da Orquestra Bach de Winterthur regida por Hermann Scherchen, grande especialista em Bach, me convidando para integrar essa orquestra de altíssimo nivel. Fiquei empolgada e mandei toda a documentação requerida. Mas, depois de um mês ou dois, recebi outra carta informando que o contrato estava cancelado porque as cotas de imigração tinham sido limitadas e que, sendo eu mulher (literalmente), fazia parte das pessoas eliminadas nas cotas.”

“Mas, tempos depois, recebi, através do Serviço Social do Conservatório, uma mensagem dizendo que eu deveria me apresentar na Unesco e procurar o senhor Luiz Heitor Correia de Azevedo, representante cultural do Brasil. Quando eu cheguei lá, fiquei encantada com a finura e elegância dele. Ele me disse que o maestro Eleazar de Carvalho estava na Europa e que ele iria me chamar assim que ele chegasse em Paris, com isso eu fiquei investigando um pouquinho, pois não sabia nada sobre o Brasil.”

O encontro com Eleazar selou sua viagem em definitivo ao Brasil. No país, ainda atuaria na Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC, além de tocar nas orquestras das rádios Tupi, Mayrink Veiga e Nacional. Foi quando conheceu Elizeth Cardoso e, em 1958, participou da lendária gravação da cantora de obras de Tom Jobim.

“O convívio com os músicos populares brasileiros foi primeiramente na Rádio Tupi, na orquestra de Milton Calazans, quando eu conheci o Pixinguinha, e depois na Rádio Nacional e na Rádio Mayrink Veiga. Foi uma coisa incrível e me fascinou demais. Eu acho que aqui eu reencontrei uma coisa que já existia dentro de mim, por causa do meu pai (nascido nas Ilhas Maurício), pois ele era uma pessoa de cultura mista, então quando eu entrei, vi coisas que eu não estranhei nem um pouco”, lembrou.

Entre 1974 e 1994, foi professora titular de flauta, estética e musicologia na Universidade de Brasília (ela também deu aulas na Universidade do Texas em Austin, nos EUA). Em 1977, participou da fundação do Clube do Choro da capital brasileira.

Suas pesquisas sobre a música brasileira a aproximaram de Gerard Béhague e ela realizou trabalhos em Diamantina, Minas Gerais, sendo nomeada mais tarde para  redigir a seção referente à atividade musical da cidade para o dossiê de tombamento de Diamantina como patrimônio da humanidade, encaminhado pelo Iphan à Unesco.

“Uma coisa muito interessante e algo que me fez voltar a meu pais, foi o fato de que eu percebi cada vez mais forte que a cultura musical, a cultura em geral é diversificada, é plural. Não existe essa coisa de cultura do primeiro mundo ou do segundo mundo, ou do terceiro. O movimento é constante, então essa ideia de mestiçagem é uma coisa muito forte, o mundo inteiro participa da mesma coisa e a música educa. Essa procura do som, por exemplo, é uma coisa que vem de dentro.”

“Poucos músicos de grande envergadura que vieram para cá se misturaram com nossa realidade musical em todas as áreas como Odette”, escreveu o maestro Julio Medaglia em sua coluna na Revista CONCERTO de janeiro/fevereiro de 2021. “Como solista especializada em música brasileira, pela qual se interessou e para a qual contribuiu sobremaneira, desenvolveu estudos e técnicas de execução, realizou centenas de apresentações públicas e gravou mais de vinte discos como solista.” 

A flautista Odette Ernest Dias [Divulgação]
A flautista Odette Ernest Dias [Divulgação]

 

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