Maestrina Naomi Munakata morre em São Paulo

por Redação CONCERTO 26/03/2020

Morreu no início da tarde desta quinta-feira, dia 26, a maestrina Naomi Munakata, aos 64 anos. Ela estava internada há duas semanas e foi vítima de um choque séptico.

Nascida em Hiroshima, em maio de 1955, Naomi mudou-se para o Brasil com a família aos 2 anos de idade e começou a cantar no coro criado por seu pai, Motoi Munakata. Estudou violino e harpa, além de se formar em regência e em composição.

Estudou no Brasil com Hans-Joachim Koellreutter e, na Suécia, com o maestro Eric Ericson. Desde cedo, revelou interesse pela atividade coral, trabalhando com maestros como Eleazar de Carvalho, Hugh Ross e Sérgio Magnani. 

Teve contato próximo também com o maestro Roberto Schnorrenberg, que em entrevista ao programa Intérprete, mantido pelo maestro Jamil Maluf na Rádio Cultura FM, ela definiu como uma “influência decisiva para minha geração”. “Cantar com ele era um prazer.”

A maestrina venceu em mais de uma ocasião o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte por seu trabalho. Dirigiu o Coral Jovem do Estado de São Paulo, foi diretora da Escola Municipal de Música, assim como professora na Faculdade Santa Marcelina e na Faam. Na Rádio Cultura FM, mantinha programa dedicado à música coral, revelando aos ouvintes diferentes facetas de um repertório que ela conhecia como poucos.

Naomi era uma das mais importantes personalidades musicais do país. Esteve à frente do Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo a partir do final dos anos 1990. Não é exagero dizer que fez, à frente do grupo, trabalho paralelo àquele que o maestro John Neschling desenvolvia com a Osesp, permitindo ao grupo encarar com excelência o repertório sinfônico-coral em apresentações memoráveis. Também foi responsável por criar iniciativas marcantes, como o Coro Infantil da Osesp e o Coral Juvenil da Osesp. 

Não por acaso, em 2014 foi concedido a ela o posto de Regente de Honra do Coro da Osesp. O trabalho com o grupo ficou registrado em gravações como a da peça Floresta do Amazonas, de Villa-Lobos, feita em 2007 para o selo BIS – ou então em importantes volumes dedicados aos compositores brasileiros Gilberto Mendes e Aylton Escobar, em 2011 e 2012, símbolos de sua atenção ao repertório nacional (ambos foram lançados pelo selo digital da Osesp). Outro destaque, nesse sentido, é o CD Canções do Brasil, com peças de Osvaldo Lacerda, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Marlos Nobre e Villa-Lobos. 

Em 2015, ela deixou a Fundação Osesp e, em 2017, assumiu o Coral Paulistano Mário de Andrade, grupo estável ligado ao Theatro Municipal de São Paulo, da qual já havia sido regente assistente.

Com o coro, participou ativamente da temporada do teatro, não apenas participando de óperas como também da agenda sinfônica. Mais do que isso: desenvolveu uma temporada própria para o coro, com um repertório diversificado que ajudou a fortalecer ainda mais o Paulistano como um dos principais conjuntos musicais do país. 

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Naomi Munakata [Divulgação]
Naomi Munakata [Divulgação]

 

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Profundamente entristecido por essa imensa perda para nossa Musica quero manifestar minha solidariedade aos familiares e proximos. Naomi era uma pessoa maravilhosa.

Por vinte anos o Coro da OSESP foi regido por Naomi Munakata, possivelmente a mais qualificada maestrina de coro do país. No entanto, foi demitida de forma sumária pela direção da OSESP (Arthur Nestrovski, Marin Alsop e Marcelo Lopes) que, num comunicado oficial, teceu muitos elogios a Naomi, concluindo, porém, que o coro "não estava atingindo o nível esperado". Era notório que Naomi não se dava bem com um dos diretores da OSESP, mas demiti-la daquela maneira, repentinamente, foi não apenas pouco civilizado mas impensável em uma organização que se pretenda séria. Como escreveu Osvaldo Colarusso, à época, em todo o mundo, a mudança de um maestro é anunciada anos antes, e seu sucessor é conhecido anos muito antes de assumir. Nada que se aproxime da “puxada de tapete” de que Naomi, infelizmente, foi vítima. E, dentro da mesma lógica hipócrita, a OSESP, depois de destituí-la, tornou-a “Regente de Honra” - seja lá o que isso signifique

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