Compositor e multi-instrumentista alagoano estava com 89 anos e deixa rico legado artístico
Morreu ontem, 13 de setembro, o compositor e multi-instrumentista Hermeto Pascoal, aos 89 anos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. Figura maior da música brasileira, Hermeto deixa um legado artístico de amplitude rara, reconhecido tanto no Brasil como no exterior por sua inventividade, virtuosismo e capacidade de transitar entre os mais variados gêneros musicais.
Nascido em 1936 em Lagoa da Canoa, no agreste alagoano, Hermeto cresceu em ambiente rural e desde cedo se aproximou da música. Devido ao albinismo, não pôde trabalhar na roça como seus irmãos. Aprendeu a tocar sanfona, flauta e piano de forma autodidata, e ainda adolescente mudou-se para Recife e depois para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua trajetória profissional.
Nos anos 1960 destacou-se como integrante do Quarteto Novo, ao lado de Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barros. O grupo se tornou referência na renovação da música popular brasileira, criando uma sonoridade original a partir de raízes nordestinas e sofisticadas harmonias. Logo em seguida, Hermeto iniciou carreira solo, revelando-se um compositor de linguagem singular.
Por sua capacidade de extrair música de qualquer fonte sonora – da chaleira ao berrante, do som da fala às batidas do corpo –, Hermeto ganhou o apelido de “Bruxo”. Seu estilo combina improvisação jazzística, tradição popular nordestina, sofisticação harmônica e escrita complexa, em um universo que ele próprio chamou de “música universal”.
Na década de 1970, nos Estados Unidos, Hermeto colaborou com nomes como Miles Davis. No Brasil, gravou álbuns icônicos e com o seu grupo consolidou uma formação que atravessou décadas e marcou profundamente a música instrumental brasileira. Reconhecido internacionalmente, recebeu homenagens em festivais de jazz na Europa e nos Estados Unidos, e no Brasil foi celebrado por sucessivas gerações de músicos.
Sua música e escrita complexas, com contraponto, politonalidade e polirritmia, inspiraram e influenciaram intérpretes e compositores ligados ao repertório da música clássica.
Ouça abaixo recital de piano solo de Hermeto Pascoal na Sala Cecília Meireles (1994):
Ouça abaixo um arranjo sinfônico de Bebê, interpretado pela Orquestra Sinfônica de Campinas.

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