Beth Ponte, gestora cultural, pesquisadora e consultora
“A pandemia de Covid-19 mostrou ao longo de 2020 o seu caráter ambivalente: é ao mesmo tempo uma aceleradora de transformações e uma multiplicadora de ameaças. Para além de uma imensa incerteza, as orquestras e quase todas as organizações culturais foram confrontadas com a necessidade imperativa de se questionar sobre sua razão de existência, sobre sua relevância social e sobre os fatores que as levarão a sobreviver a essa crise e seus efeitos. As que ainda não o fizeram, certamente o farão em breve.
Como gestora, levanto alguns pontos de especial atenção sobre os impactos da pandemia a médio prazo: a vulnerabilidade de muitos profissionais do setor, os riscos de perda de talentos e de futuros públicos e o papel das orquestras públicas no apoio a outros agentes do ecossistema musical e social. Algumas ações nesse ano apontaram caminhos que devem ser percorridos e apoiados, como a iniciativa de diálogo do Fórum Brasileiro de Ópera, Balé e Música de Concerto; a determinação de projetos de educação musical que não interromperam seu trabalho de formação de novas gerações de músicos, como nos casos do Neojiba e Projeto Guri; assim como o uso do digital como meio de intercâmbio, com o bem-sucedido Festival Internacional de Música em Casa (Fimuca), em junho. No exterior, iniciativas como o compromisso público da Filarmônica de Nova York com a causa antirracista devem servir de exemplo e lembram que a cultura não pode ser omissa às grandes pautas sociais no mundo.
Cooperação, capacidade de adaptação, inventividade e transparência serão cruciais para as orquestras lidarem com os efeitos da pandemia, dentre eles a redução de investimentos públicos e privados em um cenário de restrição de eventos presenciais que deve se estender por 2021. Há muitas décadas o setor orquestral é confrontado com a necessidade de se reinventar ou de inovar, dentro e fora das salas de concerto. A diferença é que agora não será opcional.”
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