Volume 4

por Redação CONCERTO 11/08/2020

Vol 4

ALMEIDA PRADO – OBRAS PARA PIANO E ORQUESTRA
Concerto nº 1 para piano e orquestra
Aurora
Concerto Fribourgeois
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Fabio Mechetti
– regente
Sonia Rubinsky – piano

O maestro Fabio Mechetti e a pianista Sonia Rubinsky são a alma artística por trás do quarto volume da série Brasil em Concerto, parceria do Ministério das Relações Exteriores com orquestras brasileiras e com o selo Naxos, com o objetivo de divulgar o repertório nacional. Nele, o foco é a obra para piano e orquestra do compositor, com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais acompanhando a pianista no Concerto nº 1 para piano e orquestra, em Aurora e no Concerto Fribourgeois. São peças dos anos 1980, com exceção da segunda, escrita em 1975, e que revelam diferentes facetas do autor. O concerto é símbolo de seu estilo pessoal na busca por explorar a sonoridade do piano; Aurora mantém relação com as Cartas celestes, série de peças inspiradas pelo céu brasileiro; e o Concerto Fribourgeois é um diálogo com Bach, revisto pela sensibilidade do século XX. Em uma entrevista no início dos anos 2000, Almeida Prado definiu o processo de composição como um trabalho no qual é possível “incorporar múltiplas linguagens, mas tendo como referencial a mensagem que você, artista, quer passar ao público”. Isso coloca ao intérprete um desafio: ser capaz de evocar a multiplicidade do autor sem perder de vista sua marca pessoal. Pois é exatamente o que conseguem fazer Sonia Rubinsky, Fabio Mechetti e a Filarmônica de Minas Gerais, que, depois de disco dedicado a Alberto Nepomuceno, oferece mais um álbum que com certeza será referência para a compreensão da música de um autor tão importante quanto José Antonio de Almeida Prado.

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Reprodução do encarte do CD

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[Veiculado na Revista CONCERTO]
[Veiculado na Revista CONCERTO]

 


 

 

 

 


01/05/2019
Mergulho no transcendental 
por Leonardo Martinelli 

Tesouro ainda desconhecido do público, obras para piano e orquestra de Almeida Prado ganham interpretações de Sonia Rubinsky

Vamos a um clichê conveniente: o Brasil é um celeiro privilegiado de artistas. Agora, uma verdade inconveniente: desfrutamos muito pouco da arte de nossos talentos nacionais, por isso não a valorizamos e, como consequência, o restante do mundo tem uma noção bastante reduzida de nossa real produção artística. Na música clássica, essa situação é especialmente grave, pois, apesar de muitos de nossos compositores constarem em verbetes de renomados dicionários e enciclopédias, na prática é bem difícil ter acesso a esse repertório que ainda esconde muitas preciosidades a ser descobertas – seja nas salas de concertos, seja em gravações profissionais.

No entanto, neste mês um riquíssimo baú de sons e cores que integra esse tesouro musical vem à tona a partir dos concertos e da gravação de obras para piano e orquestra de Almeida Prado (1943-2010). Natural de Santos, o compositor é um dos principais nomes das artes brasileiras da segunda metade do século XX. Além de ser autor de uma numerosa e diversificada obra musical, era um pianista de talento e um professor inspirador, tendo influenciado diferentes gerações em seus anos de docência na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E foi nessa cidade do interior paulista que a pianista Sonia Rubinsky iniciou seu contato com o mestre.

“Meu relacionamento com Almeida Prado data de muitos anos de convívio e amizade. Uma conversa musical que nunca terminava; aprendi muito por osmose, pois o ouvi tocar bastante e absorvi a maneira dele pensar música”, relata a pianista, campineira de nascimento, mas que há anos reside em Paris, de onde articula uma notável carreira internacional, na qual destaca-se a gravação da obra integral para piano solo de outro gigante da música brasileira, Heitor Villa-Lobos, pelo renomado selo Naxos (que também lança em junho uma nova série dedicada pela pianista a Bach).

Aliás, o poderoso selo global sediado em Hong Kong entra novamente na trajetória de Rubinsky, uma vez que essa empreitada sobre as obras concertantes de Almeida Prado integrará o projeto “Brasil em Concerto”, que, em parceria com o Itamaraty, prevê o lançamento de trinta álbuns inteiramente dedicados ao repertório nacional. Acompanhada pela Filarmônica de Minas Gerais, sob a regência de seu titular Fabio Mechetti, nos dias 9 e 10 a pianista sola Aurora, peça de alto teor programático e descritivo, e na semana seguinte (dias 16 e 17), o monumental Concerto para piano e orquestra nº 1, ocasiões em que ambas as obras serão gravadas. Em estúdio, a presença da pianista em solo mineiro será aproveitada para registrar também o singular Concerto fribourgeois, que no dia 25 ela apresenta com a Sinfônica de Campinas, sob a regência de Lee Mills.

“Esses concertos ilustram várias vertentes da obra de Almeida Prado”, analisa Rubinsky. “Aurora é a mais aleatória e aberta das três. Tem uma orquestração impressionante e transparente, e, pela relação de seu tema com elementos como cores, sol, pássaros e natureza, ela encerra uma faceta fortemente descritiva, na qual às vezes o piano nem parece piano. Uma peculiaridade é o uso do pedal de sustentação, que mistura sonoridades entre diferentes acontecimentos harmônicos, como se fosse um caleidoscópio, o que me faz estabelecer relações com as atividades que Almeida Prado tinha como pintor.”

Por sua vez, a pianista vê no Concerto nº 1 outro universo. “Trata-se de uma obra diferente de Aurora, sem elemento descritivo, pois basicamente é um tema com variações articulado em um longo e coeso arco. É uma peça de um pianismo transcendental e virtuosístico: mãos alternadas, trêmulos, uso da tessitura total do teclado, enfim, uma peça que exige bastante fôlego. Para mim, é um dos grandes concertos para piano brasileiro, junto com as Bachianas brasileiras nº 3 de Villa-Lobos e os Concertos de Camargo Guarnieri.”

A riqueza de inspiração e a maestria de Almeida Prado ficam bem ilustradas quando a esse conjunto soma-se o Concerto fribourgeois, que, segundo a pianista, é uma verdadeira joia da coroa. “Nessa peça ele utiliza vários elementos do período barroco, tais como recitativos, ariosos e um moto perpetuo, mas numa linguagem absolutamente moderna. Apesar de ser para uma formação menor – aqui o piano é acompanhado apenas por uma orquestra de cordas –, trata-se de uma música gigantesca em seu conteúdo.”

Para além da oportunidade de ouvir e gravar essas obras, a empreitada deixa outro legado importante, que são as respectivas partituras dessas peças. Até então, elas estavam disponíveis apenas de forma manuscrita, e a partir de agora serão editadas e revisadas à luz dos ensaios e das apresentações realizadas, possibilitando que esse tesouro também seja uma herança para outros músicos, além de nossas fronteiras. 


01/05/2020
Constelação Almeida Prado 
por Irineu Franco Perpetuo   

Nos dez anos da morte do compositor, relembramos sua vida e obra; Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e pianista Sonia Rubinsky lançam CD com peças para piano e orquestra

Um dos mais prolíficos e relevantes compositores brasileiros do pós-guerra, o santista José Antônio de Almeida Prado (1943-2010) está recebendo um impulso que pode ser decisivo para a inserção e a divulgação internacional de sua obra. Dentro do projeto Brasil em Concerto, o selo Naxos, de distribuição internacional, está lançando neste mês um disco com peças de sua autoria para piano e orquestra, com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e dois intérpretes profundamente ligados ao compositor: o maestro Fabio Mechetti e a pianista Sonia Rubinsky.

“Tive a oportunidade de conhecer e trabalhar um pouco com Almeida Prado na década de 1970. O que sempre me chamou a atenção nele foram a cordialidade, a simpatia e a simplicidade que demonstrava, para alguém com tanto talento”, conta Mechetti. “Além de reconhecido compositor já naquela época, ele era um grande pianista e fantástico improvisador. Lembro-me de algumas reuniões informais (na época do Conservatório do Brooklin, em São Paulo) em que ele se sentava ao piano e ‘reencarnava’ fantasias à Bach, Mozart, Beethoven, Schoenberg, Bartók e outros. Era um profundo conhecedor da história da música, suas estéticas, as quais respeitava muito a despeito de sua linguagem mais vanguardista. Era também uma pessoa de enorme sensibilidade e um ouvido especial para ‘cores’”, diz o regente titular e diretor artístico da Filarmônica de Minas Gerais, que falou à Revista CONCERTO dos Estados Unidos.

Com Sonia Rubinsky, a relação começou com uma coincidência: o pai da pianista e o compositor sentaram-se lado a lado em um avião, viajando para Israel, e trocaram cartões de visita. Na qualidade de professor da Unicamp, Almeida Prado residia então em Campinas, cidade natal de Sonia. Eles deram início a uma longa amizade, cheia de trocas criativas. “Quando chegava ao Brasil, eu ligava para ele e, quando ia embora, fazia outro telefonema, do aeroporto, despedindo-me. Almeida Prado me mostrava suas obras, e eu toquei inúmeras vezes para ele, que também ouvia minhas gravações com atenção e fazia sempre comentários muito pertinentes”, conta a pianista, que atendeu de Paris à reportagem da Revista CONCERTO. 

“Além de uma erudição impressionante, ele tinha uma personalidade exuberante, e sua música também é assim. Ele era um compositor genial, marcado pelo espiritual, um místico moderno, com ligação com a natureza e fervor pelo que é transcendente, e isso permeia sua obra”, analisa Sonia. Para Mechetti, “talvez o contato que ele teve com Boulanger e Messiaen tenha contribuído muito para essa imagem sonora que permeia toda a sua música”. 

Almeida Prado despontou como compositor em 1969, ao vencer o primeiro prêmio no I Festival de Música da Guanabara com a cantata Pequenos funerais cantantes, sobre texto de Hilda Hilst. Com o prêmio, partiu para a Europa, onde, após uma breve permanência em Darmstadt (Alemanha), passou a residir em Paris para estudar com a aclamada professora Nadia Boulanger e o eminente compositor Olivier Messiaen, voltando a nosso país na década de 1970 para assumir diversas funções como docente, além de apresentar o programa Caleidoscópio, na Cultura FM.

Organizado por Valéria Peixoto e lançado em 2018 pela Academia Brasileira de Música, o catálogo do compositor conta com 702 itens. Dado seu domínio do teclado, bem como a inventividade de sua paleta orquestral, as obras para piano e orquestra se oferecem como o mais atraente cartão de visitas para seu universo poético. Mesmo aí, a oferta é tão grande que escolhas tiveram que ser feitas. Ficaram de fora, assim, o nacionalismo de Variações para piano e orquestra sobre um tema do Rio Grande do Norte (1963), Variações concertantes (1969), o experimentalismo de Exoflora (1974) e o neorromantismo de Gravuras sonoras a d. João VI (2007).

O novo álbum, gravado em maio de 2019 na Sala Minas Gerais em Belo Horizonte, inclui três peças fundamentais: o Concerto nº 1 para piano e orquestra (1983), que Rubinsky considera “o grande concerto brasileiro para piano e orquestra”; Aurora (1975), que ela chama de “consequência direta das Cartas celestes”, e Mechetti afirma que “tem vastas seções onde há um acentuado ‘improviso controlado’, que numa execução em concerto não causa grandes problemas, mas numa gravação, sim, pois praticamente não há como editar essas passagens, já que elas são diferentes a cada vez que a tocamos”; e o Concerto Fribourgeois (1985), para piano e orquestra de cordas, uma homenagem a Bach que, segundo o regente, “apresentou desafios de ordem de execução e correção das partes. Embora ela tivesse sido revisada e impressa (até diria em-pressa), as partes vieram com muitos erros que tiveram de ser corrigidos antes e muitas vezes durante a gravação”.

Responsável, também pela Naxos, por um alentado registro integral da obra pianística solo de Villa-Lobos, em oito volumes, Rubinsky foi a dedicatária de algumas peças de Almeida Prado, como Três croquis de Israel (1990), Cartas celestes nº 12 (2000) e Sonata para violoncelo e piano (2003) – uma encomenda em conjunto com Antonio Meneses. Profunda conhecedora da música do autor para seu instrumento, ela afirma que é “uma aventura” tocar sua obra ao piano. “Ele é um compositor extremamente inovador, capaz de fazer o piano soar muito maior do que é. Suas dissonâncias fazem o piano ressoar, não implodir”, descreve.

Almeida Prado [Divulgação]
Almeida Prado [Divulgação]

Firmamento

Dentro da vasta produção de Almeida Prado para piano solo, o destaque são as Cartas celestes, obras inspiradas pela contemplação do firmamento (das quais algumas envolvem outros instrumentos) que o pianista Aleyson Scopel gravou na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, entre 2015 e 2018, e foram lançadas em quatro CDs para o selo Grand Piano, da Naxos. Dedicatário das Cartas celestes nº 15 (2009), ele estreou a obra após o falecimento do compositor, em recital no Carnegie Hall, em Nova York, em 2013. “Estava presente na plateia um representante da Naxos que já conhecia a obra do Almeida e me sugeriu gravar a integral das Cartas celestes. Como eu já havia escolhido me aprofundar no tema para meus trabalhos de mestrado e doutorado, naturalmente aceitei”, conta. “Dos 18 volumes, gravei os 15 para piano solo num período de três anos. São aproximadamente quatro horas e meia de música! Dormia e acordava pensando em alguma constelação, e essa imersão, bem como o processo analítico para a tese, me levou a uma reflexão mais profunda sobre as técnicas composicionais que ele empregou. Para quem ouve pela primeira vez, a música pode parecer um pouco aleatória, mas ela é pensada e estruturada de uma forma genial. Almeida Prado é extremamente detalhista em sua escrita, e como um compositor que entendia o piano como poucos, ousou explorá-lo de uma forma orquestral e timbrística”, afirma. 

Em novembro, completam-se dez anos do falecimento prematuro e repentino de Almeida Prado. Fazendo um balanço da recepção da obra do pai nesse período, uma de suas filhas, a violinista Constança Almeida Prado Moreno, compilou mais de dez páginas de texto com performances, gravações, publicações e diversas homenagens. Vale destacar, além do catálogo da ABM e dos CDs de Aleyson, o disco da Osesp em formato digital (que pode ser baixado gratuitamente no site da orquestra), sob regência de Celso Antunes, com Fantasia para violino e orquestra (solo de Claudio Cruz) e suítes de Sinfonia dos orixás e da música para o filme silencioso Études sur Paris (1928), de André Sauvage.

Ela explica que, devido à pandemia, algumas iniciativas ficaram em compasso de espera, como a tradução, por Ingrid Baraconski, da correspondência do compositor com sua professora Nadia Boulanger, e a gravação da integral das obras para cravo solo, cravo e piano, cravo e canto, projeto de Helena Jank com apoio da Unicamp. 

“Nestes dias de quarentena, tenho pensado muito em como meu pai tinha a música como um ofício. Ele costumava falar que o ofício da composição é diário, é necessário compor todos os dias, acordar de manhã, compor o dia todo, assim como o sapateiro acorda, vai para o seu ofício e só fecha ao fim do expediente”, conta. “Mas, sinceramente, conhecendo como ele era apaixonado pelo seu ‘ofício’, ele nunca fechava o expediente! Ele respirava e transpirava música o tempo todo.” 

0520
Edição Maio 2020 da Revista CONCERTO

14/05/2020 
Chegou a hora de Almeida Prado
por Irineu Franco Perpetuo 

Chegou a hora de revelar ao mundo o tesouro mais bem guardado da música brasileira de concerto. Um espetacular CD da Filarmônica de Minas Gerais, regida por Fabio Mechetti, tem Sonia Rubinsky solando nas obras para piano e orquestra de um dos nossos mais prolíficos, imaginativos e originais compositores: o santista Almeida Prado (1943-2010).

O disco está saindo agora pelo selo Naxos, com distribuição em todo o planeta, dentro do inestimável projeto Brasil em Concerto – que a própria Filarmônica inaugurou, com uma interpretação impecável de peças orquestrais de Alberto Nepomuceno (1864-1920). 

A pandemia obrigou o adiamento da gravação, pela Filarmônica, das sinfonias de Lorenzo Fernandez (1897-1948) e da suíte O Reisado do Pastoreio – que estava prevista para este mês. Se o mundo deixar, a orquestra pretende registrar, em 2021, as aberturas e outras peças orquestrais de Carlos Gomes (1836-1896, celebrando seus 125 anos de falecimento), e, no ano seguinte, as obras para orquestra de Henrique Oswald (1852-1931). 

Dotado de personalidade exuberante e imaginação sinestésica, Almeida Prado inventou um mundo sonoro rico, amparado em uso extremamente inventivo da paleta orquestral – afiada nos estudos, em Paris, com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen – e um conhecimento apurado do teclado, que ele dominava como virtuose. Suas criações mais célebres para o instrumento, as Cartas Celestes, foram recentemente gravadas, em quatro volumes, por Aleyson Scopel, para o selo Grand Piano, da Naxos. Para o selo Osesp Digital, Celso Antunes gravou uma suíte da Sinfonia dos Orixás e dos Estudos sobre Paris, além da Fantasia para violino e orquestra, com solo de Cláudio Cruz, em disco que pode ser baixado gratuitamente neste link

Faltava a combinação entre piano e orquestra, a suprema alquimia de efeitos tímbricos e harmônicos, transmitida finalmente nesse álbum em que qualidade técnica e musical parecem rivalizar pelo ápice de excelência.

O disco abre com uma das mais impressionantes criações brasileiras para a formação, o Concerto nº 1, de 1983, encomenda do precocemente falecido Antônio Guedes Barbosa (1943-1993), e escrito tendo as fantásticas habilidades do pianista paraibano em mente. A partir de apenas quatro notas (fá, si, fá sustenido e dó), o compositor erige uma impressionante catedral sonora, expandindo a estrutura do concerto clássico, e instigando a inventividade dos intérpretes (e dos ouvintes) com indicações como Granítico, Onírico e Transparente floral.

Aurora (1975), com seus jogos de espacialidade, aleatoriedade e todo um experimentalismo que se traduz não como aridez intelectual, e sim como capacidade sugestiva, soa como uma irmã das Cartas Celestes – pois se, nestas, o compositor se propunha a descrever o firmamento, em Aurora seu diálogo musical é com o nascer do sol. 

Por fim, o Concerto Fribourgeois (1985), para solista e cordas, homenageando o tricentenário de nascimento de Johann Sebastian Bach (1685-1750), parte da Fuga XIV do Cravo Bem-Temperado para realizar uma colagem surpreendente e instigante.

Amiga e profunda conhecedora da obra de Almeida Prado, Sonia Rubinsky soa como a intérprete ideal das partituras, trazendo aqui o pianismo vigoroso e a entrega interpretativa que fizeram o êxito de seu registro integral das obras de Villa-Lobos, também para a Naxos. Em Fabio Mechetti – outro conhecedor de longa data da pessoa e da produção do compositor –, ela encontra um parceiro carinhoso e perceptivo, que utiliza a sonoridade sempre refinada da Filarmônica de Minas Gerais para evocar o universo peculiar e distinto de cada uma das obras. Já faz dez anos que perdemos Almeida Prado, que, como costuma ser a regra dentre os grandes compositores brasileiros, é mais falado do que tocado. Depois desse disco, e quando a pandemia passar, é de se esperar que suas partituras passem a habitar com maior frequência as estantes de nossos músicos.


Críticas internacionais

Barry Forshaw
Classical CD Choice, June 2020

More world premiere recordings from Naxos in the company’s enterprising initiative to put onto disc some unjustly neglected music. Almeida Prado died in 2010, and his colourful music is firmly rooted in that of his native country, Brazil. His first piano concerto is a particularly winning piece.

 

Remy Franck
Pizzicato, May 2020

The three works recorded here for the first time become a lasting listening experience also thanks to the the brilliant Brazilian pianist Sonia Rubinsky and the Brazilian conductor Fabio Mecchetti.

 

David Denton
David's Review Corner, May 2020

Almeida Prado, has been described as one of Brazil’s most internationally admired composers of the Twentieth Century, though sadly we know so little of his music.

I did dig out my musical encyclopedias, but they were not of much help, the notes with this disc about as much as I can tell you. There we find a child protege composing when he was seven; who studied composition in Brazil from the age of 14; his move to Paris, and finally time spent with the legendary, Nadia Boulanger. It was she who pointed the direction contemporary music was taking, and that proved to be the catalyst for composing in his very personal way that is a challenge to the listener. Begin exploring the disc with the earliest score, Aurora (Dawn), a one-movement score for piano and orchestra opening in a vista of musical colours, the dynamic growth from the opening whisper to an outpouring of light in a sun-drenched vista. A haze takes over in the peace and quietness, before a noisy and joyful conclusion. Begun in 1982, the First Piano Concerto is in the form of a theme and eight variations played as if in one extended movement. In content it is atonal, coloured in an often brutal way with explosive exchanges between soloist and orchestra, percussion often hard hitting. Concerto Fribourgeois, completed in 1985, finds the composer employing a musical content owing much to Bach, and a structure indebted to Beethoven. That may not be evident to the ‘innocent’ ear, its shape of an Introduction and seven linked movements, the central Passacaglia formed from a theme and twelve variations. If you find the First Concerto too abrasive, you will enjoy the restrained creativity of Fribourgeois—commissioned by two residents of the Swiss city of Fribourg. Its solo and orchestral demands are of modest proportions. As these are World Premiere Recordings I take them at ‘face value’, Sonia Rubinsky bristling with virtuosity in the First Concerto, with the Minas Gerais Philharmonic deeply committed in a top quality recording. This Brazil series is proving challenging and rewarding in equal measures.

 

Records International, May 2020

His [Prado] works matured, acquiring their own unique perfumes and perspectives from sonorities rooted in an ‘untamed’ Brazilianness, and in the multicolored flora and fauna of his native country Almeida Prado created music of unique sonority and color, rooted in his native Brazil. In Aurora (1975) he employs his newly developed ‘transtonality’ to radiant effect, while the Concerto Fribourgeois (1985) features a collage technique. In his concerto (1982-83) Almeida Prado explores a cogent structure in which the soloist opens up, rips apart or transforms the theme and variations, in a work that is both grandiose and luminous.

 

Lynn René Bayley
The Art Music Lounge, April 2020

José Antonio de Almeida Prado, whose massive cycle of piano tone poems, Cartas Celestes, were so brilliantly played and recorded by pianist Aleyson Scopel, here has three of his piano-orchestral works given first recordings by Brazilian-Polish-Lithuanian pianist (how’s that for a combination of nationalities?) Sonia Rubinsky.

This is quite a listening experience! For lovers of modern music, an indispensable disc.

 

Dean Frey
Music for Several Instruments, April 2020

The latest release in the marvellous Naxos series The Music of Brazil features the great composer José Antônio de Almeida Prado (1943-2010).

My favourite piece, though, is the Concerto Fribourgeois, written in 1985 to celebrate the 300th anniversary of Bach’s birth. It’s a post-modern take on neo-classicism, with appearances of musical guests both unlikely (Stockhausen, Messiaen and, once again, Beethoven) and likely. This is as much fun listening to as it was, I am sure, to play. Bravo to these fine musicians, and to Naxos for this well-researched and beautifully recorded program.

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