Para ouvir e ler a Semana de 1922 como ela merece

Livro-CD “Toda Semana: Música e Literatura na Semana de Arte Moderna”, do Selo Sesc, é alimento para os ouvidos, os olhos e, principalmente, para o cérebro

Sou daqueles dinossauros que ainda teimam em ter aparelho reprodutor de CDs em casa. A realidade da apertada moradia em uma megalópole como São Paulo sempre pressiona pela eliminação do que toma espaço em tempo das plataformas digitais. Mas acabei de receber um lançamento luxuoso, que justifica amplamente o anacronismo do suporte físico: o deslumbrante livro-CD “Toda Semana: Música e Literatura na Semana de Arte Moderna”, do Selo Sesc.

Sim, é possível conferir o material sonoro dos quatro discos nas plataformas de escuta. E os textos de suas 190 páginas também estão disponíveis na internet, de forma (legalmente) gratuita. Mas dá vontade de ter fisicamente, na biblioteca, um trabalho tão rico e relevante para a nossa cultura – ainda mais quando vem desse jeito, com diagramação caprichada, ilustrações e capa dura. Arrisco-me a dizer que mesmo quem não possui mais o tal do CD player deveria adquirir a caixa “apenas” pelo conteúdo do livro.

Idealizado por Claudia Toni, Flávia Camargo Toni e Camila Fresca, o projeto não apenas reúne toda a música tocada no Theatro Municipal de São Paulo nos concertos de 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, como traz ainda uma seleção de conferências e poemas recitados durante a Semana de Arte Moderna. Tudo bilíngue, também em inglês – pois não é exagero reconhecer que uma iniciativa dessas tem relevância internacional.

A direção musical é de Claudio Cruz, e a escuta não poderia ser mais prazerosa: Villa-Lobos gravado como merece, nas condições técnicas oferecidas pela engenharia sonora do século XXI. Estão lá, por exemplo, os antológicos registros dos trios de Villa-Lobos, executados pelo “dream team” da música de câmara brasileira de nosso tempo: Cruz, Antonio Meneses (violoncelo) e Ricardo Castro (piano). Claudio escala ainda seu Quarteto Carlos Gomes para tocar o Quarteto nº 3, de Villa, e toca a Sonata nº 2, do mesmo compositor, em incandescente parceria com Cristian Budu. Este último exibe seu pianismo cada vez mais cintilante em diversas peças solo de Villa, executadas com brilho e verve insuperáveis.

Peças como as Danças características africanas (na versão para octeto) e Quarteto simbólico reúnem músicos de ponta da cena musical paulistana, como Amanda Martins (violino), Luca Raele (clarinete) e Liuba Klevtsova (harpa), além de coro regido por Maíra Ferreira, enquanto as canções têm talvez o nosso maior especialista no gênero, Ricardo Ballestero (piano), ao lado não apenas do barítono Homero Velho, como da voz “popular” de Monica Salmaso – uma proposta ousada e muito bem-vinda, que parece atualizar no melhor sentido os ideais da Semana. 

Alimento para os ouvidos, os olhos e, principalmente, para o cérebro.

Serviço
O livro-CD “Toda Semana: Música e Literatura na Semana de Arte Moderna”, do Selo Sesc, está disponível na Loja CLÁSSICO. Clique aqui para adquirir.

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Toda Semana Selo Sesc

 

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