Há setenta nos, uma garotinha que escutava, atrás da porta, as lições de piano da irmã, subia ao palco do Theatro da Paz, em Belém do Pará, para seu primeiro recital. Essa artista precoce, que nos anos 1980 trocou a cidade natal pelo Rio de Janeiro, celebra agora essa data redonda com um disco amoroso.
Maria Helena de Andrade lança, nesta quinta-feira, dia 9, às 18h, seu quarto disco solo, Miscelânea Brasileira, em recital no Espaço Guiomar Novaes da Sala Cecilia Meireles.
“Quando a pandemia começou, ninguém imaginava que tudo fecharia por tanto tempo”, conta a pianista à CONCERTO. “Cancelei diversos compromissos pelo Brasil. Um ano depois, nada tinha mudado e resolvi fazer esse disco na cara e na coragem, reunindo peças importantes na minha formação.”
Coragem, mesmo: Maria Helena assumiu toda a produção do CD, incluindo a burocracia – liberação de direitos, registro – e a pesquisa de imagens para o delicioso encarte, com uma seleção de flashes da longa carreira.
“Fiz tudo pessoalmente, armei com Alexandre Hang a gravação na Casa do Choro, revirei minhas fotos antigas, conversei com o designer Victor Burton para elaboração da capa. Foi uma aventura.” Ainda em meio aos descaminhos da pandemia, a aventura teve lances inesperados. “Tudo pronto para gravarmos e, de repente, tivemos que adiar: nenhum afinador de piano estava disponível, todos com Covid!”
O repertório do disco não teve, segundo Maria Helena, uma escolha exatamente planejada – “é um trabalho de emoção”, diz ela. Mas, como diz o compositor Ricardo Tacuchian no carinhoso texto do encarte, o disco “delicado e bem brasileiro mostra um Brasil que estamos em vias de perder, mas que Maria Helena insiste em preservar. É uma coletânea que espelha a própria personalidade leve e sensível da intérprete. Sua música alivia nossas dores e revive nossos sentimentos de brasilidade”.
São peças dos conterrâneos Oriano de Almeida (de quem foi aluna no Conservatório de Belém) e Waldemar Henrique – compositores que grava pela primeira vez –, de Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga, Guerra-Peixe, Zequinha de Abreu e Osvaldo Lacerda.
A pianista, que sempre manteve um calendário de apresentações constantes e gravou exclusivamente música brasileira, é mestre em Música pela UFRJ, onde foi aluna de Jacques Klein e Heitor Alimonda. O CD tem apoio institucional da Academia Brasileira de Arte. No recital de lançamento – “nesse espaço íntimo e acolhedor, dedicado à nossa estrela do piano, Guiomar Novaes”, diz Maria Helena – ela toca praticamente todo o disco, precedido por uma breve apresentação de Ricardo Tacuchian – “ainda que incompleta, é uma deliciosa retrospectiva musical” da carreira da pianista, diz o compositor. O CD estará à venda no dia do recital e diretamente com a pianista, pelo e-mail mahelena@mls.com.br.
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