Pesquisa: apenas 5% das peças apresentadas em todo o mundo foram escritas por mulheres

por João Luiz Sampaio 11/07/2021

Das 14.747 obras musicais programadas por cem orquestras de todo o mundo em suas temporadas 2020 e 2021, apenas 747 (5%) foram escritas por mulheres. Dessas peças, apenas 1,11% foram escritas por mulheres negras ou asiáticas. Entre os homens, a diversidade não é muito maior: apenas 2,43% das composições foram criadas por negros e asiáticos.

Os números fazem parte da pesquisa Equality & Diversity in Concert Halls, realizada pela Fundação Donne – Women in Music, criada na Inglaterra pela soprano brasileira Gabriella Di Laccio e dedicada a “oferecer mudanças positivas pela luta contra a desigualdade de gênero na indústria da música”.

O levantamento levou em consideração as programações de cem orquestras de 27 países de todos os continentes, incluindo grupos como as filarmônicas de Berlim, Viena, Nova York, Oslo, Helsinki, Los Angeles, a Orquestra Nacional da França, as orquestras de Filadélfia, Cleveland, Chicago. 

Na América do Sul, participaram do levantamento as filarmônicas de Buenos Aires, Montevidéu e Minas Gerais; a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Sinfônica Nacional do Chile; as sinfônicas de Porto Alegre, do Paraná e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).

Foram levados em consideração concertos anunciados para o período entre março de 2020 e maio de 2021 (nem todos realizados por conta da pandemia) nas temporadas oficiais. Concertos de câmara foram contabilizados apenas quando interpretados por músicos dos grupos em suas temporadas regulares.

“A pandemia trouxe consequências devastadoras para a indústria da música. Em um contexto como esse, é fácil esquecer e não priorizar a igualdade e a diversidade. Mas acreditamos que é mais importante agora do que nunca prestar atenção a isso, ou corremos o risco de perpetuar desigualdades de gênero, raça e classe por gerações” diz a conclusão da pesquisa, publicada aqui.

“Para que a igualdade e a diversidade se tornarem uma realidade em nossas salas de concertos, é importante ir além do politicamente correto e mirar em uma completa e genuína inclusão em todas as camadas – os artistas que vemos no palco, o repertório apresentado nos concertos e na formação, nas equipes administrativas e nas plateias.”

No período estudado, estavam previstas 4.857 apresentações. Em 88,55% delas (4.301 concertos) não havia obras de compositoras, presentes em apenas 11,45% (556). 

Na Europa e no Oriente Médio, o índice mais alto de obras escritas por mulheres está na programação da BBC Concerto Orchestra, com 31,71% da programação – 13 de 41 obras; os piores índices, com nenhuma peça de compositoras, foi encontrado em grupos como a Dresden Staatskapelle e as filarmônicas de Viena, Israel e São Petersburgo.

Na América do Norte, as orquestras com maior presença feminina no repertório foram a Chicago Sinfonietta (38,46% das obras apresentadas) e a National Philharmonic Orchestra (31,67%); as orquestras de Cleveland e Pittsburgh não programaram nenhuma obra de compositora em suas temporadas. 

Na Oceania, o melhor índice foi encontrado na Sinfônica de Melbourne (5%) e o pior, na Sinfônica de Sidney (0%). Na Ásia, o melhor número foi o da chinesa Guangzhou Symphony (2,56%); a NHK de Tóquio, a Sinfônica de Cingapura e a Orquestra Metropolitana de Tóquio não incluíram obras de mulheres em suas agendas.

Na América do Sul, a Filarmônica de Montevidéu, dirigida pela maestrina brasileira Ligia Amadio, alcançou o índice de 18,87%. No Brasil, apenas a Osesp programou uma obra escrita por compositora (uma entre 225, ou 0,44% da programação). 

O levantamento também mostrou a lista dos dez compositores mais interpretados nas programações: Beethoven, Mozart, Strauss, Brahms, Tchaikovsky, Schumann, Mahler, Ravel, Sibelius e Dvorák.

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Partituras [Wootz/FreeImages/Reprodução]
[Wootz/FreeImages/Reprodução]
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