Governo quer vender Palácio Capanema, que abriga Divisão de Música da Biblioteca Nacional

por Redação CONCERTO 15/08/2021

Anúncio causou indignação no meio cultural; edificação inclui jardins de Roberto Burle Marx, azulejos e painéis de Cândido Portinari e pinturas de Alberto Guignard e José Pancetti

O Ministério da Economia incluiu o Palácio Gustavo Capanema em um grande feirão de mais de dois mil imóveis públicos federais que serão oferecidos para a iniciativa privada. O prédio, situado no centro do Rio de Janeiro, é considerado um dos marcos da arquitetura modernista no Brasil. Idealizado por Gustavo Capanema, então ministro da Educação do governo Getúlio Vargas, e construído entre os anos de 1936 e 1945, o prédio foi projetado por um time de arquitetos que incluiu nomes como Lucio Costa, Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy e o então estagiário Oscar Niemeyer, com consultoria do arquiteto Le Corbusier. O Palácio Capanema tem jardins de Roberto Burle Marx, azulejos e painéis de Cândido Portinari, pinturas de Alberto Guignard e José Pancetti e esculturas de Bruno Giorgi, Adriana Janacópulos, Jacques Lipchitz e Celso Antônio Silveira de Menezes.

O anúncio da venda do Palácio Capanema gerou grande repercussão e indignação no meio cultural. O deputado federal e ex-ministro da Cultura Marcelo Calero publicou em suas redes sociais: “Não vamos aceitar a tentativa de venda do Palácio Capanema. O Capanema é um marco civilizatório do nosso País, como arquitetura e política pública. Um patrimônio em uso por diversos órgãos. Um dos símbolos do modernismo brasileiro e da nossa produção cultural”. Um abaixo-assinado contra a venda afirma que “a iniciativa promovida pelo governo golpista genocida de Bolsonaro é mais uma das ações do desmonte da Cultura”.

Entre outros órgãos culturais, o Palácio Capanema abriga a Divisão de Música e Arquivo Sonoro da Biblioteca Nacional (Dimas). Conforme consta do site da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), a Dimas “é um dos mais importantes acervos musicais existentes no Brasil, oferecendo aos visitantes e pesquisadores mais de 250 mil títulos relevantes para investigação histórica e musicológica”. A FBN afirma que a base principal do acervo “foi formada por peças trazidas de Portugal para o Rio de Janeiro por D. João VI, pertencentes à chamada Real Biblioteca de Lisboa e da Biblioteca do Infantado, abrangendo, dentre outros documentos, livros, partituras, libretos de óperas, livros litúrgicos, missais e tratados”. A Dimas guarda também os manuscritos das óperas Il Guarany, Fosca, Maria Tudor e Salvator Rosa, de Carlos Gomes (1836-1896).

Segundo Alexandre Dias, diretor do Instituto Piano Brasileiro e um engajado batalhador pela guarda e digitalização da memória musical brasileira, “a Divisão de Música da Biblioteca Nacional constitui o maior acervo de partituras do Brasil – são centenas de milhares de itens que remontam aos primórdios da impressão musical, e que oferecem fontes primárias absolutamente essenciais para pesquisadores e músicos. Sua importância é equiparável à dos maiores acervos musicais do mundo, como a Biblioteca do Congresso Americano, em Washington, e o Musikverein, em Viena. Embora uma parte importante dos documentos tenha sido digitalizada, incluindo os manuscritos autógrafos de Ernesto Nazareth (Memória do Mundo, pela Unesco), a imensa maioria ainda não possui cópia digital”.

Preocupado com o destino da Dimas, Alexandre Dias adverte: “Precisamos que a sociedade demonstre seu apreço por este acervo, para que possamos continuar usufruindo dele”.

Pilotis da entrada principal do Palácio Capanema (Marcos Leite Almeida, domínio público, wikicommons)
Pilotis da entrada principal do Palácio Capanema (Marcos Leite Almeida, domínio público, wikicommons)

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